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Reportagem

Criadores são a nova Hollywood, e IA trará mais fãs, diz CEO do YouTube

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Quando alguém que você conheceu no começo da carreira fica famoso, qualquer oportunidade vira motivo pra relembrar das origens humildades. Na semana em que o YouTube faz 20 anos, o próprio CEO da plataforma, Neal Mohan, fez isso, em conversa acompanhada pela reportagem.

Nada glamuroso nem moderninho. O YouTube que Mohan conheceu ficava no andar de cima de uma pizzaria. O restaurante continua no mesmo lugar. Já o site foi para outro patamar: virou o maior serviço de streaming do mundo, é visto por 2 bilhões de pessoas e seus funcionários hoje ocupam quatro prédios em San Bruno, na Califórnia —um novo edifício está em construção.

O executivo já viu outro império ser construído. Ele chegou ao Google quando a DoubleClick, onde trabalhava, foi adquirida. A startup está na origem da máquina de publicidade online da gigante das buscas, que a Justiça dos Estados Unidos considerou monopolista na semana passada. Agora, no YouTube, ele atribui o sucesso da plataforma aos criadores. Na conversa abaixo, Mohan fala sobre a tirania do algoritmo, como a inteligência artificial gera medo entre as pessoas, mas pode ser uma ferramenta para alcançar novas audiências e o avanço do YouTube rumo à TV. E também teve tempo para cutucadas a TikTok e Instagram.

A pizzaria ficou para trás

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Trabalhei com o YouTube antes mesmo de eu ou o YouTube fazermos parte do Google. Eu entrei no Google quando vendemos a DoubleClick para o Google. Visitei o YouTube aqui perto, quando ficava em cima de uma pizzaria no centro de San Mateo, uma cidade aqui perto. Tinha o típico clima de startup, mas era muito claro que havia algo especial ali. Até no nome: YouTube.

Mesmo nos primeiros dias, já se percebia um crescimento constante, porque os seres humanos têm essa necessidade de compartilhar histórias, consumir histórias e se conectar com outras pessoas. Acontece há milhares de anos e foi isso que vi no YouTube.

Hoje, não somos uma rede social nem uma emissora tradicional de TV. O YouTube é realmente um serviço de streaming, onde você pode assistir, criar e compartilhar vídeos. Pode ser desde um short de 15 segundos, um vlog de 15 minutos ou uma transmissão ao vivo de 15 horas. E tudo entre uma coisa e outra.

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Do tripé na cozinha a Hollywood

Cena de vídeo do youtuber Alan Chikin Chow, o segundo sentado
Cena de vídeo do youtuber Alan Chikin Chow, o segundo sentado Imagem: Reprodução/YouTube/Alan Chikin Chow

Os criadores originais do YouTube, os chamados "OG YouTubers", trabalhavam de suas cozinhas, quartos, salas. Colocavam a câmera num tripé e começavam a compartilhar sua criatividade com o mundo. Você deve se lembrar daqueles vídeos granulados. Hoje, estive em Los Angeles há alguns dias visitando criadores que estão construindo seus próprios estúdios, as novas startups de Hollywood. Visitei o estúdio de Alan Chikin Chow, em Burbank. É um estúdio de 10 mil pés quadrados, uma equipe empregada por ele e um lugar onde conteúdos incríveis são produzidos.

Sair daqueles tripés nos quartos para estúdios inteiros foi realmente uma jornada. Isso se resume a dois pontos fundamentais. Primeiro, o YouTube é um lugar que conecta pessoas criativas com seus fãs. Segundo, somos a maior e mais antiga economia de criadores do mundo. Não apenas ajudamos a construir audiência, mas permitimos que esses criadores construam negócios.

A primeira das tendências globais é que, graças a artistas, criadores e parceiros de mídia, o YouTube se tornou o epicentro da cultura. A segunda é a plataforma que mais cresce é a tela da sala de estar, a TV. Quando as pessoas consomem pela televisão, o YouTube torna-se a nova TV, especialmente para a nova geração. O terceiro ponto: os criadores são a nova Hollywood. Assim como as startups mantêm o Vale do Silício vibrante, estamos vendo os criadores impulsionando as indústrias criativas. E, por fim, a IA e a IA generativa serão um alicerce de crescimento. Elas criam novas oportunidades para fãs, espectadores e criadores
Neal Mohan, CEO do YouTube

Concorrência com outras plataformas

Mr. Beast
Mr. Beast Imagem: Reprodução/Instagram
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Quando surgiu, o YouTube tinha poucos concorrentes, até porque a ideia de criar conteúdo para a internet não existia. Hoje, TikTok e Instagram são rivais na hora de criadores pensarem onde publicarão seus vídeos.

Nas minhas viagens ao redor do mundo, a primeira coisa que os criadores dizem é: independentemente de onde mais estejam, o YouTube é a casa deles. É fundamentalmente onde sentem a conexão mais profunda com seu público. O vínculo entre fãs e a criatividade deles é mais forte no YouTube do que em qualquer outro lugar —ao contrário de uma trend passageira ou algo que desaparece no seu feed. Por outro lado, dois bilhões de pessoas vêm ao YouTube para se conectar com criadores.

Os criadores nos dizem que usam o YouTube não apenas como sua casa, mas como base de todos os outros negócios que constroem fora da plataforma. Um dos maiores criadores, o Mr. Beast, tem cinco pilares em seu estúdio. O primeiro deles é: "YouTube em primeiro lugar". Ele sabe que tudo o que conquistou veio do investimento feito na plataforma.

IA para atrair novos fãs

Pessoas caminham em frente ao logotipo do YouTube na sede da empresa em San Bruno, na Califórnia (EUA)
Pessoas caminham em frente ao logotipo do YouTube na sede da empresa em San Bruno, na Califórnia (EUA) Imagem: Josh Edelson/AFP

O YouTube está numa posição única por ser uma empresa de tecnologia, mas também estar profundamente conectada a criadores e à indústria criativa. Essa interseção nos dá uma perspectiva única sobre a IA e seu impacto.

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Para nós, a IA é uma ferramenta para a criatividade humana, não algo para substituir os humanos. Investimos em IA há mais de uma década e não só nos últimos anos, quando virou a palavra da moda. Exemplo disso é o algoritmo que recomenda conteúdo e todo nosso trabalho de segurança e confiança no conteúdo.

Agora, estamos construindo novas ferramentas, como o DreamScreen, que cria planos de fundo instantâneos para vídeos curtos. Baseado nos modelos da DeepMind, do Google, os criadores conseguem transformar ideias em realidade. Algo que levava dois meses, agora é feito em dias ou horas.

A IA também vai permitir expandir audiências. Muitos criadores têm como principal barreira o idioma. E a IA pode traduzir seus vídeos não apenas para os principais idiomas do mundo, mas para todos, permitindo que fãs de qualquer lugar assistam ao conteúdo.

Youtubers com milhões para gastar

Cena de vídeo mostra o youtuber Mark Rober em cima de um trem
Cena de vídeo mostra o youtuber Mark Rober em cima de um trem Imagem: Reprodução/YouTube/Mark Rober

No dia anterior, a reportagem visitou os estúdios de Mark Rober. Dono de um canal com 67,7 milhões de inscritos, o ex-engenheiro da Nasa e da Apple já chegou a gastar US$ 5 milhões em um só vídeo e hoje possui um estúdio que emprega cerca de uma centena de pessoas. Perguntei a Mohan como o YouTube poderia garantir que youtubers poderosos como Mark não tomariam o espaço de criadores vindos de países onde o capital para investimento é menor, como o Brasil, agora que o idioma já não era uma barreira.

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Interessante. Ainda não vi isso acontecer dessa forma. Eu realmente não vejo que tornar os vídeos dos criadores acessíveis a outras partes do mundo vai obliterar um grupo de criadores em relação aos outros. Assim como os vídeos do Mark serão traduzidos para português, espanhol, hindi ou qualquer outro idioma que exista, funcionará também na outra direção.

Alguns dos nossos maiores criadores são brasileiros, que compartilham comigo é que seria legal se o conteúdo deles fosse acessível a fãs de fora do Brasil. Então eu sinto que isso funciona em ambas as direções. E, sabe, você precisa ter certeza de que a qualidade das traduções funciona bem em ambas as direções, e esses não são problemas técnicos triviais de resolver.

Minha esperança é que expor criadores brasileiros ou de qualquer lugar do mundo a um público mais amplo crie mais oportunidades econômicas, não menos. Mas ainda é muito cedo e ainda há muitos obstáculos técnicos a superar para garantir que todos esses pareamentos de idiomas funcionem bem.

É hora de mudar o negócio?

Neal Mohan, CEO do YouTube
Neal Mohan, CEO do YouTube Imagem: Divulgação/Google

Qualquer canal no YouTube enfrenta a tirania do algoritmo. Agora que a plataforma passou da adolescência e chega aos 20, como o modelo de negócios muda, já que é uma companhia movida pela publicidade, mas vê parte da receita vindo de assinaturas e o consumo via TV tem crescido?

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A tela da televisão é a nossa plataforma de crescimento mais rápido. Mais de 1 bilhão de horas de conteúdo exibido nelas todos os dias. Isso mostra um avanço muito bom, especialmente em um país como a Índia, onde há cada vez maior penetração de banda larga nas casas.

Nosso negócio de assinaturas, há menos de 10 anos, era praticamente inexistente. Começou do zero e hoje representa uma parte relevante da receita. E acho que vai continuar crescendo porque oferece escolha ao consumidor. O YouTube Premium, por exemplo, dá ao usuário outra forma de consumir conteúdo.

Nosso negócio de publicidade também é dividido entre resposta direta, baseada em performance e que fez o digital crescer, e a publicidade de marca, com foco em contar histórias e gerar reconhecimento de produtos e serviços. Isso vale para todas as plataformas — celular, desktop etc. — mas especialmente para TVs.

Outro campo promissor são as oportunidades no comércio digital — shopping. Temos uma parceria com a Flipkart, na Índia, e com outras redes no mundo. É uma oportunidade de negócio tanto para o YouTube quanto para os criadores, além de agregar valor para os usuários.

*o jornalista viajou a convite do YouTube

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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