Black Mirror, sobre distopia futurista, agora assusta com tecnologia atual

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é: O paradoxo elétrico da IA; Chips 'made in USA'; Os maus negócios de Musk; Black Mirror)

A série Black Mirror se popularizou por mostrar como a tecnologia avançada cria uma sociedade de dar medo. Mas, em 2025, as histórias sobre um futuro sombrio parecem tratar do que vemos acontecer hoje, aqui e agora.

Os episódios antigos me davam a sensação de olhar para o futuro e ficar com receio dele, mas nessa temporada o sentimento que me deu é que o presente está me assustando, porque muitas coisas que a gente enxerga nos novos já estão em alguma medida entre nós
Helton Simões Gomes

Em 2018, Tilt publicou um termômetro da série, que mostrava quão distante estavam as tecnologias apresentadas nos episódios. E, já neste período, a produção se aproximava muito da realidade, mas não tanto quanto a versão atual.

O primeiro episódio da nova temporada mostra uma mulher que realiza um implante cerebral, que restaura capacidades cognitivas perdidas. O serviço, porém, funciona como streaming de vídeo, com diferentes funcionalidades conforme o preço da assinatura sobe. A Neuralink, empresa de Elon Musk, se notabilizou por dar a um paraplégico a capacidade de controlar um computador a partir de um chip implantado em seu cérebro.

A Neuralink é quase como o presente já sombrio que esse episódio de Black Mirror mostra que vai ser o futuro de startups de neurociência
Helton Simões Gomes

Em outro episódio, uma atriz se relaciona com uma personagem feita com inteligência artificial. A interação entre as duas fica bastante íntima. Situações como essa têm se tornado cada vez mais comuns no noticiário. Recentemente, a mãe de um jovem de 14 anos que cometeu suicídio afirmou que o ato foi incentivado por uma personagem de IA. Ela processou Character.ai, plataforma em que o personagem de IA foi criado, e o Google, parceiro comercial da startup.

A sociedade como um todo teve uma mudança tão profunda, se analisarmos desde a primeira temporada até agora, que não é mais uma antecipação de cenários possíveis a longo prazo, mas de algo no curto e médio prazo
Diogo Cortiz

Em outro episódio da sétima temporada, um grupo de seres virtuais evolui a ponto de criar uma forma única de comunicação, algo que, mesmo longe dos idiomas conhecidos, até seres humanos pudessem compreender.

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Pesquisadores estão nesse momento tentando entender como a inteligência artificial constrói uma resposta em diferentes idiomas. Em estudo recente, a Anthropic, do chatbot Claude, mapeou como os grandes modelos de linguagem raciocinam internamente para desenvolver determinadas tarefas. É algo como estudar a "neurobiologia" das máquinas.

Esses modelos são complexos, a gente sabe como eles foram treinados, mas a gente não consegue entender muito bem os processos internos, quando ele vai te dar uma resposta, como ele funciona
Diogo Cortiz

Para dar uma resposta, os modelos de IA usam tokens e vão "encaixando" informações e palavras. Isso funciona até em cenários multilíngua, em que vários idiomas são usados na interação. Ou seja, a pergunta pode ser feita em inglês, a resposta dada em português e a interação seguir em outro idioma sem que a máquina fique confusa.

O que eles estudaram é como ele [chatbot] consegue lidar com tantas línguas diferentes. É como se existisse um circuito multilíngua. Não chega a ser uma língua nova, é como se fosse um "circuito neural" que consegue conectar todas as palavras de diferentes línguas
Diogo Cortiz

Claude às vezes pensa em um espaço conceitual compartilhado entre línguas, sugerindo que ele tem uma espécie de "linguagem do pensamento" universal. Mostramos isso traduzindo frases simples para vários idiomas e rastreando a sobreposição na forma como Claude as processa
Anthropic

Segundo a Anthropic, os chatbots chegam a planejar suas respostas com várias palavras de antecedência. Em um teste usando poesia, as máquinas começavam o verso pela palavra que iriam rimar e, a partir daí, escolhiam as outras.

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Isso é uma evidência poderosa de que, embora os modelos sejam treinados para produzir uma palavra de cada vez, eles podem pensar em horizontes muito mais longos para fazê-lo
Anthropic

Por que Trump briga por chip nos EUA, enquanto Brasil mina empresa local?

Quando o assunto é chip, o mundo vai em uma direção, e o Brasil segue pelo caminho inverso. Na corrida pela soberania da inteligência artificial, os Estados Unidos têm brigado para produzir em seu território os poderosos semicondutores necessários à tecnologia, enquanto o Brasil dá à Ceitec, principal empresa de chips do Brasil e única fábrica da América Latina, um destino para lá de incerto.

O mundo todo está querendo fazer chips e aqui tem gente que está querendo jogar a única empresa que faz do começo ao fim o chip fora
Helton Simões Gomes

Diferentemente do Brasil, o governo dos Estados Unidos segue uma cruzada para voltar a ter uma produção nacional de chips.

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Da Tesla à SpaceX: ligação de Musk com Trump emperra negócios do bilionário

O Elon Musk empresário talvez não esteja gostando da atuação do Elon Musk funcionário público. Ainda longe de alcançar a meta de economizar US$ 3 trilhões com as ações do Departamento de Eficiência Governamental dos EUA, o bilionário vê suas diversas empresas sofrerem reveses.

Se os analistas têm incerteza sobre uma recessão que pode ser revertida, a certeza é que o Musk está se dando muito mal por ter se aliado ao governo dos EUA
Helton Simões Gomes

Convicto de que conseguiria atingir rapidamente seus objetivos, Musk estipulou um mandato curto à frente do órgão criado para ele por Donald Trump 2 no governo norte-americano. Se não renovar, ele trabalha até 5 de maio. O magnata diz ter alcançado 15% de sua meta, mas especialistas contestam o número. Ainda assim, o corte veio da redução na humanitária e da demissão de quase 200 mil funcionários públicos.

IA usará 3% da energia global em 2030; Tem como reduzir essa conta de luz?

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No ritmo atual, a inteligência artificial vai ser responsável pelo consumo de 3% de toda a eletricidade do mundo em 2030, nos cálculos da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). O volume é equivalente à energia elétrica consumida pelo Japão por todo ano.

Daqui a 5 anos, ao atingir esses 3% de consumo, a IA vai se igualar a aviação civil, que é usada por muito mais pessoas do que quem usa IA
Helton Simões Gomes

Para alguns países, os pesquisadores da agência conseguiram mensurar a tendência de consumo da IA em relação a outros segmentos econômicos que consomem eletricidade intensamente. Nos cálculos da agência, a previsão é que os Estados Unidos gastem mais energia com IA do que na fabricação de bens de consumo e itens como alumínio, aço e produtos químicos.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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