Explosão de ciberataques no Brasil camufla 'golpe dentro do golpe'

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A cada minuto, mais de um ataque para tirar do ar serviços digitais, sites e aplicativos no Brasil em 2024. No ano passado, o país sofreu uma explosão de ciberataques, com alta de 26,6% em relação a 2023, segundo levantamento da Netscout, empresa norte-americana de segurança na internet.
Se essa onda estabelece o Brasil como quinto maior alvo global da bandidagem online, ela camufla outro movimento. Enquanto no resto do mundo, muitos dessas investidas para derrubar plataformas têm motivações políticas, econômicas ou sociais, aqui no Brasil a tática é usada para distrair o pessoal da segurança e impedi-los de notar algo bem mais sério acontecendo. É o golpe dentro do golpe.
O que rolou?
O app do banco, tradicional ou moderninho, não abre. É impossível agendar uma consulta médica. Comprar passagem online? Nem pensar. Por trás dessas inconveniências cotidianas pode haver um ataque às infraestruturas que mantêm esses serviços funcionando. E isso pode ser mais comum do que parece, já que:
- Em 2024, o Brasil sofreu 871.632 ataques. Trocando em miúdos, foram: 2.388 por dia; 99,5 por hora ou 1,65 por minuto. O salto de um ano para outro foi grande, mas...
- ... Partiu de um patamar elevado, afinal as 688.565 investidas contra serviços de 2023 já não eram pouca coisa. Isso acontece, porque...
- ... O Brasil chama a atenção no mundo por abrigar grandes empresas nacionais e multinacionais e ter uma representatividade regional. E...
- ... Os setores que figuram como alvos prioritários são aqueles ligados à infraestrutura de rede, como as teles e as companhias de nuvem:
- Telecomunicações sem fio (exceto satélite): 48.845 ataques
- Infraestrutura de computação e hospedagem: 28.923
- Transporte local de frete: 11.697
- Telecomunicações em geral: 10.585
- Operadoras de Telecomunicações com fio: 8.157
- Bancos: 4.587
- Portais de pesquisa na web e outros serviços de informação: 4.528
- Organizações Religiosas: 2.173
- Corretoras de Seguros: 2.162
- Distribuição de filmes e vídeos: 1.458
- ... Uma vez atacadas, as líderes do ranking precisam correr para estabilizar o serviço e não deixar suas clientes, as plataformas conectadas que os brasileiros, caiam como peças de dominós. Pelo caráter crítico, elas também encaram os incidentes mais brutos. O maior registrado chegou a 433,86 gbps de largura de banda e 251,09 mpps de taxa de transferência.
Geraldo Guazzelli, diretor geral das operações no Brasil da Netscout
Por que é importante?
O nome técnico das investidas contabilizadas pela Netscout é DDoS, sigla em inglês para ataques distribuídos de negação de serviço. São uma avalanche de pedidos de acesso a um serviço que, por não dar conta, acaba saindo do ar. Mas como diferenciar um grande volume de acessos mal intencionados de uma turba de fãs louca para ver o novo episódio de sua série favorita?
Segundo Guazzeli, a detecção passa pela análise da origem do tráfego para identificar se há botnets envolvidas. Essas redes de equipamentos eletrônicos contaminados ficam inativas a maior parte do tempo, como zumbis adormecidos. Ao estalar de dedos do criminoso que as comanda, desandam a enviar requisições aos serviços até tirarem-no do ar. Em paralelo, a Netscout investiga o submundo da internet, onde bandos de criminosos se reúnem e relatar suas proezas. Só que o DDoS são apenas parte do plano, não é o objetivo final.
O ataque DDoS é muito usado em uma sistemática de invasão de empresas. Depois que o hacker consegue invadir, descobrir uma fragilidade e executar um plug-in de software, bloqueando um servidor, um serviço, uma aplicação. Ele invariavelmente faz um ataque DDoS para tirar a tensão de toda a equipe de segurança dessas empresas. Com isso, eles focam na mitigação do ataque, enquanto o hacker faz o que ele pretende fazer lá: encriptar um servidor para depois pedir um resgate. São os famosos ramsowares
Geraldo Guazzelli
Atento, Fleury, JBS são algumas empresas que passaram por isso recentemente, lista o executivo. "O hacker extraiu informações, ficou de posse delas para chantagear e obter vantagens financeiras, pagamento de resgate."
Não é bem assim, mas tá quase lá
Em outros países, a motivação financeira ficou em segundo plano em 2024, e o motor da expansão criminalidade cibernética foi a motivação política.
Em Israel, o volume de incidentes cresceram 2.844%, com forte relação ao resgate de reféns mantidos pelo grupo terrorista Hamas. Na Geórgia, a alta de ataques foi de 1.489%, antes da aprovação da "Lei Russa" —controversa, a legislação obrigou organizações não governamentais e veículos de comunicação com mais de 20% do faturamento vindo do exterior a se declararem como "agentes de influência estrangeira".
Geraldo Guazzelli
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