Vasco e Diniz: tudo a ver
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O Vasco é o clube brasileiro com mais associação a lutas sociais. O Corinthians fez a sua parte nos anos 80, o Flamengo é da massa, todos os clubes têm, em maior ou menor escala, a sua parcela de torcedores e de torcedoras ligados e ligadas à defesa de políticas inclusivas, mas pertence ao Vasco a mais bela das histórias de resistência e de luta.
Foi o Vasco o clube que se recusou a praticar racismo quando o futebol chegou por aqui, e que fez o que pôde para que jogadores da classe trabalhadora pudessem praticar o jogo elitista que a classe dominante queria fazer ser exclusivo dela. Sem o Vasco, a inclusão teria sido muito mais lenta. O Vasco é o time da massa do subúrbio do Rio. É um clube que se orgulha de suas origens e cuja torcida, até hoje, batalha para perpetuá-las. É fácil identificar em São Januário as bandeiras LGBTQs tremulando livremente, por exemplo. Onde mais vemos isso?
Claro que, administrativamente falando, o bonde corre por paisagens menos belas - feias, até. Pedrinho e Felipe Maestro, que assumiram cargos de liderança com a revelação das reais intenções da 777 e subsequente suspensão do contrato, não são exatamente homens atentos a causas sociais. Pelo contrário. São ídolos, verdade, mas ídolos que apoiaram a sempre suspeitíssima venda dessa imensidão chamada Vasco aos interesses de uma empresa cheia de particularidades duvidosas. Havia, dentro do clube, quem estivesse berrando contra a venda. Não eram eles. Mas a votação, também repleta de atropelos e que teria contado com o "sim" até de vascaínos que já estavam mortos, decidiu pela venda. E aqui estamos hoje.
O Vasco é um clube que não consegue se reerguer. Vive de glórias passadas e do desespero leal de uma torcida apaixonada. Em campo, uma miséria futebolística. O time não é capaz de se articular de forma minimamente coerente. Jogos horrorosos, goleadas constrangedoras. Há que diga que o elenco é péssimo. Eu não iria por aí. O time do Bahia tem elenco muito melhor? O do Fortaleza? O Bragantino? Não, de forma alguma. E são times bastante sólidos e competitivos.
Faltam ao Vasco estilo de jogo, alegria e confiança. Deixemos o barulho da péssima administração do lado de fora por alguns instantes. Fernando Diniz e seu futebol atento ao social chegam de volta ao clube. Diniz passou por São Januário no começo da pandemia e não foi bem. Mas quem volta é agora um campeão da América. E, eu diria, um outro Diniz. Seu futebol solidário, atento aos dramas particulares de cada jogador e que celebra os valores do futebol de rua e a liberdade podem ser o choque que o Vasco precisava para sair da UTI em que se meteu. Diniz terá um merecido reencontro com Tchê- Tchê, atleta que ele destratou publicamente quando estava no São Paulo. Estão mais maduros ambos. E esse é um reencontro necessário para treinador e atleta.
O Vasco tem jogadores jovens e rápidos. Tem um goleiro muito acima da média e o melhor atacante do Brasil hoje. Diniz pode deixar sua marca. Dessa vez eu diria que Diniz precisa tanto do Vasco quanto o Vasco dele. Depois de encantar a América ele teve alguns tropeços e talvez seja esse o momento exato para um renascimento. Renascimento desse treinador fora-de-série (sim, ele é), e desse time cuja história se mistura à história do Brasil.
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