Gabeu: do sertanejo ao queernejo, uma nova voz no campo e na cena LGBTQIA+
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Filho de Solimões, uma das grandes figuras da música sertaneja, Gabeu cresceu cercado pelas tradições e sonoridades do universo caipira. Foi em 2019 que decidiu seguir seu próprio caminho artístico — um percurso inédito dentro do gênero: o queernejo.
Nascido em Franca, no interior de São Paulo, Gabeu começou ainda adolescente a brincar de fazer música em inglês, influenciado por ícones do pop como Lady Gaga, Rihanna, Beyoncé e Britney Spears.
Na época, usava seu nome de batismo, Gabriel, estilizado de forma "gringa", sonhando em se tornar uma diva pop internacional. Mas, com o tempo e amadurecimento, compreendeu que queria se afirmar como artista brasileiro, cantando em português. Assim nasceu "Gabeu" — um nome pensado para refletir essa nova fase e identidade.
Embora tenha tentado se afastar da música sertaneja por não se reconhecer naquele universo, ele acabou reencontrando suas raízes por meio de uma de suas maiores referências: Lady Gaga, que também transitou pela música country.
A mudança para São Paulo, em 2016, foi um ponto de virada. Ali, Gabeu conheceu artistas LGBTQIA+ independentes que produziam música regional — e viu nisso um espaço de identificação e criação.
Seu álbum de estreia, Agropoc, une o sertanejo às vivências queer. O nome mistura o "agro", do ambiente rural, com "poc", um termo popular na comunidade LGBTQIA+ usado para se referir a gays afeminados — identidade com a qual Gabeu se identifica. Ainda assim, ele deixa claro: faz música sertaneja.
E o reconhecimento veio. Agropoc foi indicado ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Música Sertaneja — um feito marcante para um artista independente.
A visibilidade cresceu, os convites chegaram — incluindo participações nas séries Vai Que Cola e Rensga Hits. Além de compor a maioria de suas músicas, Gabeu também faz releituras de clássicos como Cowboy Fora da Lei, de Raul Seixas, canções com as quais se conecta.
Sobre julgamentos ou rótulos, ele diz não se abalar. Faz piadas com o fato de ser um nepobaby, reconhecendo com bom humor sua origem. Também já fez teatro — primeiro em um grupo ligado ao centro espírita de sua cidade, depois em São Paulo — e estudou cinema, o que ajudou a lapidar sua veia cômica e visual.

Agora, prepara o lançamento de um novo EP com quatro faixas, trazendo regravações de músicas caipiras com uma nova estética sonora, mais próxima do rock e do country moderno. A primeira delas é Minas Gerais, de Tião Carreiro e Pardinho, agora em versão dançante com guitarras.
O visual do projeto acompanha essa transformação: couro, látex, spikes, correntes e maquiagem pesada marcam essa fase mais intensa e ousada de sua trajetória.

Atento ao desenvolvimento visual de sua obra, Gabeu planeja seguir transitando entre gêneros, assim como sua musa Lady Gaga — do pop ao country, do jazz ao rock. Um artista multifacetado, que transforma sua história pessoal em reinvenção artística.
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