Pedro Mariano: 'Sempre comecei meus repertórios pelo que ninguém deu bola'
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Celebrando 30 anos de carreira, Pedro Mariano, 49, reflete com profundidade sobre sua trajetória musical, suas influências familiares e os desafios contemporâneos do cenário artístico brasileiro. Filho do icônico arranjador César Camargo Mariano, 81, e da inesquecível cantora Elis Regina (1945-1982), Pedro nunca cogitou uma vida fora da música —um caminho que, segundo ele, foi natural desde a infância, tendo feito a escolha definitiva pelo canto aos 12 anos.
Tocar piano ou violão surgiram como tentativas, até que, com o incentivo crucial do irmão João Marcello Bôscoli, a voz se tornou sua principal ferramenta de expressão. "Desde sempre, a minha vida inteira, nunca houve nenhum tipo de pensamento na minha cabeça que me levasse para outro lugar que não fosse a música. Aos 12 eu decidi que ia cantar, e não mudei mais de opinião. Queria que o que me representasse, o que me mostrasse para o mundo, fosse a minha voz."
Em conversa com a coluna, Pedro vai além do ofício de cantar. Aborda com franqueza a complexidade de se construir uma carreira duradoura, a importância de trocas verdadeiras na formação artística e o impacto da experiência na tomada de decisões criativas. Revela, por exemplo, como as conversas com João Bosco evoluíram de palpites musicais para reflexões maduras sobre o mercado, escolhas estratégicas e o custo —emocional e energético— de determinados caminhos.

Pedro discorre também sobre o papel do intérprete e destaca a busca constante por repertórios inexplorados. Mesmo assim, valoriza os desafios de interpretar sucessos consagrados, pois é neles que sua personalidade artística se mostra de forma mais evidente. "Interpretar, a partir do momento que você está na sua banda de escola e escolhe uma música de um artista que é seu ídolo, já é descobrir o intérprete dentro de você. O ato de interpretar também é criar melodias novas".
Outro ponto central da conversa é o legado de Elis Regina. Pedro, ao lado do irmão, João, tem se dedicado a manter viva a memória da mãe —um trabalho feito com recursos próprios, limitações financeiras e muito afeto. Ele destaca o caráter atemporal de Elis, atribuindo isso não à busca por inovação, mas à entrega sincera ao processo criativo. Para Pedro, esse é o verdadeiro segredo da modernidade artística: a autenticidade. "Elis é moderna porque é única. E tudo único é atemporal".
Ele também detalha seu novo projeto, A2 Volume 2, um trabalho que resgata joias dos anos 1980 e 1990 —canções muitas vezes esquecidas, mas que habitam o inconsciente afetivo do público. O repertório, que inclui releituras de "Não Diga Nada", "Vitoriosa", "Menina Veneno" e "Estrela", reflete sua curadoria sensível e seu compromisso com a memória musical brasileira. Pedro revela como cada faixa foi cuidadosamente pensada, buscando honrar a lembrança coletiva do público.
"Eu sempre comecei os meus repertórios por aquilo que ninguém deu bola. Às vezes você tem a música, tem a vontade de gravar ela, mas você não está no projeto certo para colocar ela. Isso é uma química", afirma Pedro, que destaca "Menina Veneno" como uma "música perigosa". "Você tem que ter um carinho especial. E a gente acabou indo para uma versão que tem nada a ver com ela. Tem, mas não tem nada a ver com ela".
O próximo passo do cantor é uma turnê que inicia pelo Rio de Janeiro, Petrópolis e São Paulo, com planos de chegar ao Nordeste. Seus shows, como sua música, são experiências íntimas e profundas, conduzidas por um artista que, mesmo diante das transformações e distorções do mercado atual, permanece fiel a uma convicção: ser verdadeiro é o que dá sentido e permanência à arte.
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