Topo

Sabonete em barra ou líquido: o que é melhor para o planeta?

Líquido ou em barra, é preciso prestar atenção aos ingredientes do sabonete - Unsplash/Matthew Tkocz
Líquido ou em barra, é preciso prestar atenção aos ingredientes do sabonete Imagem: Unsplash/Matthew Tkocz

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

20/04/2025 05h30

Pequenas decisões do nosso dia a dia, quando somadas, podem ter um impacto significativo no meio ambiente. Uma delas é a escolha do sabonete. Em barra ou líquido? Qual dos dois gera mais resíduos? Qual é mais sustentável?

Para responder essas e outras dúvidas, falamos com especialistas. Confira abaixo.

Que diferenças há na fabricação dos dois tipos de sabonete?

A principal diferença entre os dois processos produtivos é o consumo de água. O sabonete líquido consome muito mais que o sabonete em barra.

Além disso, o processo de fabricação do sabonete líquido envolve o uso de mais energia, tensoativos sintéticos (que se ligam à oleosidade e à água para facilitar a limpeza) e diversos aditivos para garantir sua espuma e viscosidade.

Por outro lado, o processo de fabricação do sabonete em barra pode ser considerado simples, uma vez que os óleos e gorduras utilizados reagem com uma base alcalina. Devido a essa simplicidade, o processo pode ser aprimorado para se tornar mais sustentável.

Quais as vantagens e desvantagens de cada um?

Em termos de sustentabilidade, tanto o sabonete líquido quanto o em barra têm impacto negativo, principalmente quando levadas em consideração as emissões de CO2.

No entanto, o sabão em barra tem mais vantagens. De maneira geral, esse tipo é mais ecológico pois é mais simples de ser produzido, consumindo menos água e energia no processo. Além disso, é feito com ingredientes mais naturais.

As embalagens também contam. E, no caso do sabonete em barra, elas costumam ser menores e de papelão, o que reduz significativamente os resíduos gerados, e são mais fáceis de reciclar.

O sabonete em barra ainda tem uma durabilidade maior. E é mais leve e compacto, o que reduz as emissões de carbono durante o transporte, deixando o veículo menos pesado.

O sabonete líquido, por outro lado, possui maior pegada hídrica em sua produção e utiliza embalagem plástica — que pode não ser reciclada adequadamente e contribui para a poluição por plástico. Ele é mais pesado e volumoso para o transporte.

Para se ter uma ideia, distribuir/transportar o sabonete líquido libera quase oito vezes mais emissões de carbono quando comparado à mesma quantidade da versão em barra.

O mesmo vale para outros produtos, como xampus e sabão para lavar roupa?

Produtos de limpeza ou cosméticos podem variar em sua composição. Mas os processos de produção são semelhantes de acordo com o seu aspecto, sólido ou líquido.

Em produtos de limpeza e cosméticos, por exemplo, o uso de espessantes, surfactantes e outros compostos é feito para fins comuns, como melhorar a textura, a limpeza e a estabilidade.

Porém, tais substâncias, quando são de origem sintética, podem ser tóxicas para a vida marinha e se acumular no meio ambiente, além de contribuir para o processo de eutrofização em rios quando contém fosfatos. A eutrofização é o crescimento de algas desenfreado em rios, que diminui o oxigênio na água e a passagem de luz, o que leva a morte de peixes e plantas submersas.

Produtos como xampus, detergentes e sabão para lavar louças na versão em barra causam menos prejuízos ao meio ambiente. Isso porque, em geral, a versão sólida apresenta maior concentração de ingredientes de origem vegetal e menor consumo da terra para a produção das matérias-primas selecionadas.

Entretanto, os produtos sólidos podem custar até 10 vezes mais para serem produzidos, sendo que o custo é repassado para o consumidor final.

Que matérias-primas são usadas em cada tipo de sabonete?

Com base na composição química dos ingredientes, os sabonetes são categorizados em dois grandes grupos: naturais e sintéticos.

Nos sabonetes naturais, a química é semelhante à formulação dos sabonetes antigos (feitos antes da revolução industrial), em que os óleos e gorduras provenientes de plantas ou animais são os componentes primários sem quaisquer componentes adicionais, como plastificantes, aglutinantes, conservantes e parabenos.

Nos sabões sintéticos, geralmente os agentes de limpeza são feitos de misturas de surfactantes sintéticos, plastificantes, aglutinantes e outros aditivos. Esses produtos são formulados principalmente à base de petróleo, como é o caso do lauril sulfato de sódio (SLS), que é dificilmente biodegradável e tem um alto potencial de toxicidade aquática.

Além disso, produzir sabões sintéticos demanda cinco vezes mais energia e produz cerca de 10 vezes mais emissões de gases de efeito estufa do que fazer sabão simples.

Os aditivos usados em sabões sintéticos como alguns agentes antibacterianos e antifúngicos (triclosan, triclocarban, fragrâncias e conservantes) apresentam graves preocupações a saúde para os seres humanos e para o ecossistema.

Sendo assim, a opção mais ecológica seria o uso do sabonete feito de óleo vegetal ou gordura animal, que não possui muitos ingredientes extras, seja ele líquido ou sólido.

Que tipo de embalagem gera mais resíduos?

Geralmente, o sabão líquido é embalado em garrafas plásticas, que podem levar centenas de anos para se decompor em aterros sanitários, contribuindo para o problema da poluição de microplásticos no ambiente.

A produção de plásticos a partir de combustíveis fósseis, como o petróleo bruto, gera cerca de 3,5% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) e outros gases danosos ao clima. Além disso, menos de 10% dos mais de 400 milhões de toneladas métricas produzidas a cada ano são reciclados.

Já os sabonetes em barra são embalados com papel, cuja vantagem é que ele é mais fácil de ser reciclado do que o plástico, mas isso não significa que o papel não cause impacto ambiental. O setor de papel e celulose foi responsável por quase 2% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa em 2022, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Isso sem considerar os efeitos do desmatamento.

As alternativas para o plástico derivado do petróleo são o uso de plásticos derivados de milho, cana-de-açúcar ou resíduos de madeira por terem uma menor pegada de carbono.

Uma outra opção, tanto para os sabonetes em barra quanto líquido, seriam as embalagens biodegradáveis ? uma embalagem é considerada biodegradável quando é possível realizar o processo de decomposição naturalmente, ou seja, sua biodegradação. A biodegradação é realizada por microrganismos como algas, fungos e bactérias, que convertem o material em biomassa, dióxido de carbono e água.

O refil de sabonete líquido reduz o impacto ambiental?

Sim, o refil de produtos líquidos consome em média 30% menos recursos naturais do que a embalagem regular para ser produzido. Esse tipo de produto reduz o consumo de água inicial (na produção), o total de embalagens e as emissões de CO2 durante a distribuição.

Ao comprar o dispensador de sabonete líquido para o uso em banheiro, por exemplo, ele dificilmente será trocado. A compra do sabonete passará a ser exclusivamente por meio do refil, que consome menos matéria-prima que a versão regular do produto. No caso de dispensadores não plásticos, o impacto ambiental é ainda menor.

Um outro exemplo: para lavar 500 vezes o cabelo com xampu seriam necessárias aproximadamente 7 embalagens de 350 ml (dependendo do tamanho do cabelo). Já com o refil, o cliente consumiria uma embalagem regular e seis refis.

Por que o transporte de sabonetes líquidos aumenta a emissão de CO2?

Os sabonetes líquidos contêm mais água em sua composição, o que aumenta significativamente o peso total do produto. Veículos que transportam cargas mais pesadas consomem mais combustível, resultando em maiores emissões de CO2.

Os sabonetes líquidos também ocupam mais espaço em relação aos sabonetes sólidos, isso pode exigir mais viagens ou veículos maiores para transportar as mesmas quantidades de produto, impactando diretamente na pegada de carbono.

Qual a melhor escolha, então, para um consumidor consciente?

Para um consumidor preocupado com o meio ambiente, os sabonetes em barra são mais sustentáveis devido à menor necessidade de embalagem, menor pegada hídrica, eficiência no transporte e maior durabilidade.

Mas vale reforçar que, independentemente da forma, o ideal é optar por marcas e produtos que priorizem ingredientes naturais e biodegradáveis, desde a composição até as embalagens.

Se a pessoa preferir a versão líquida, ela pode buscar opções com embalagens recicláveis ou programas de refil para minimizar o impacto ambiental. Além disso, é importante o consumo consciente tanto do produto quanto de água durante o uso dos sabonetes em geral.

Fonte: Fernanda Souza, química, mestre em agroquímica, doutora em engenharia química e ambiental e doutora em físico-química, professora do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP); Vinícius Laurindo, diretor de Projetos e pesquisador da EQ Júnior, uma empresa sem fins lucrativos, formada por estudantes de Engenharia Química na Universidade Federal de São Carlos


OSZAR »