Papa Francisco deixa um legado para o clima do planeta e para a Amazônia

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Como líder espiritual de cerca de 1,4 bilhão de católicos, o santo padre Francisco defendeu medidas em defesa da Amazônia e contra as mudanças climáticas. Ao assumir o cargo, em 2013, escolheu seu nome papal em homenagem a São Francisco de Assis, devido a sua ligação com os animais e o meio ambiente. Um nome que incorpora parte de seu legado.
Ao longo de seus 12 anos como chefe da Igreja Católica, levantou insistentemente o problema do aquecimento global causado pelo homem pela queima de combustíveis fósseis e encorajou as pessoas e líderes mundiais a combater as mudanças climáticas. A proteção ambiental foi um tema recorrente no papado de Francisco. Ele frequentemente associava a proteção do meio ambiente com a proteção aos mais vulneráveis. Em sua homilia inaugural em 2013, discutiu o que significava ser um protetor: "Significa respeitar cada uma das criaturas de Deus e respeitar o meio ambiente em que vivemos."
A Laudato Si' de 2015 foi uma carta encíclica muito aguardada pois trataria de mensagens sobre o clima do planeta, de como devemos cuidar da nossa casa comum. Essa encíclica foi a primeira mensagem de um papa a tratar das mudanças climáticas e foi muito bem recebida. Influenciou o debate global sobre o clima. Ajudou a formar consenso sobre as mudanças climáticas justamente na ocasião da COP21 quando, pela primeira vez, 195 nações assinaram o Acordo de Paris se comprometendo a tomar medidas para conter o aquecimento global, estabelecendo metas para reduzir as emissões dos gases de efeito estufa. À medida que os humanos continuaram a aumentar as emissões da poluição dos combustíveis fósseis, suas preocupações com o futuro do planeta tornam-se progressivamente mais urgentes.
A Laudato Si' lançou um movimento climático católico global atuante. A encíclica climática de Francisco inspirou a formação de vários grupos climáticos católicos, incluindo o Movimento Católico Global pelo Clima, que agora é chamado de Movimento Laudato Si'. Nessa encíclica o Pontífice critica o consumismo e o desenvolvimento irresponsável e faz um apelo à mudança e à unificação global para combater a degradação ambiental planetária e as mudanças climáticas.
Da Laudato Si'
"Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização."
O papa Francisco veio ao Brasil logo após sua eleição em 2013, e imediatamente começou a assumir a causa da Amazônia. Em 2015 lançou a ideia da realização de um Sínodo para a Amazônia. Em 2018, visitou Puerto Maldonado, na Amazônia peruana, e se encontrou com vários povos indígenas. Essa visita foi preparatória para o Sínodo para a Amazônia, já com uma clara iniciativa do Vaticano de proteger a floresta tropical.
Durante outubro de 2019, participei do Sínodo para a Amazônia no Vaticano e tive uma oportunidade muito importante, a de conversar com o papa e falar de todos os riscos que a Amazônia sofre e sobre as buscas das soluções baseadas na natureza. Ilustrei meu projeto Amazônia 4.0, que visa valorizar o potencial da bioeconomia, com base na rica biodiversidade da região. Relatei ao papa os dados científicos de uma Amazônia muito próxima do ponto de não retorno. E a urgência de deter o desmatamento e os incêndios florestais. De promover a atividade dos Povos Indígenas, que vivem ali há 15.000 anos, desenvolvendo seus sistemas agroflorestais, sua ciência indígena. No Sínodo o papa havia dito que a Amazônia era o pulmão do mundo. Então expliquei a uma pessoa da sua equipe que cientificamente não era correto. Porque toda a produção de O2 pela Amazônia era pequena, de poucas partes por milhão, já que esse gás tem concentração de 21% na atmosfera. Que a produção de O2 ocorre principalmente nos oceanos. Após o Sínodo, papa não mais falou que a Amazônia era o pulmão do mundo.
Em 2020, o papa lançou a exortação apostólica Querida Amazônia, como resultado do Sínodo para a Amazônia. Nesse documento, ele condena a exploração e a marginalização da região. Ele insiste no respeito pelas culturas e comunidades locais e faz um forte apelo por uma economia sustentável que preserve o meio ambiente.
Da exortação apostólica Querida Amazônia
"Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida.
Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana.
Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.
Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos."
Na encíclica de 2023, Laudate Deum, publicada antes da COP28 que ocorreu em Dubai, fala sobre os eventos climáticos extremos, questiona os céticos e a inação frente à emergência climática.
Da encíclica Laudate Deum
"Por muito que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los ou relativizá-los, os sinais da mudança climática impõem-se-nos de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenômenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis duma doença silenciosa que nos afeta a todos."
Francisco nos deixa um legado para o clima do planeta e para a Amazônia. E ele fez isso de uma forma magistral, o que levou as pessoas ao redor do mundo a prestarem atenção ao que está acontecendo na nossa casa.
Temos que honrar o papa Francisco pela sua magnífica defesa do planeta e da Amazônia: muito agradecidos todos nós, descanse em paz papa Francisco!
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