A vilã que amamos! Odete Roitman causa inveja por falar sempre o que pensa

Ler resumo da notícia
A mulher não está nem aí. Critica o consumismo da irmã, não tem empatia alguma com a doença da filha, acha que a carteirada de esportista que o filho dá não serve para nada. Por outro lado, fica pistola com o funcionário que obtém informações ilícitas, mas entende que é o caso de valorizar sua inteligência. Ainda sobra patada para todo mundo que não tem lá muito carisma.
Se a ideia era sentir raiva de Odete Roitman (Debora Bloch) na novela "Vale Tudo", como se sentia da vilã de Beatriz Segall, na versão de 1988, parece que algo deu errado. Apesar de estar dentro dos "ônibus caquéticos", o brasileiro concorda com ela: o calor está horroroso, as pessoas nem sempre são bonitas.
Odete virou símbolo de carisma em tempos em que a gente reclama nas redes sociais o dia inteiro de coisas bem parecidas com as que ela odeia. E, se não está esbravejando, está dando aquele sorrisinho safado quando vê foto de um gostoso qualquer no WhatsApp. Ela traduz o egocentrismo não legalizado que já vivemos e fingimos que não. "É normal eu concordar com tudo que a maior vilã da história das novelas fala?", disse uma moça na internet. Não sei, eu penso, mas quem gosta de dormir na casa dos outros? A empresária grita que odeia visita —ser ou receber— e hotel existe para isso. Ao meu lado, aqui em casa, o pessoal concorda com a cabeça.

A versão atual da novela confronta uma Odete menos temida e mais humana. Hoje, as gerações mais novas aceitam menos os desmandos das matriarcas. Aprendemos a questionar. Ao ver a vilã nesse lugar, também nos sentimos menos sozinhos.
O mesmo vale para outras vilãs. Se a Nazaré de Renata Sorrah está confusa no meme, eu me sinto livre para errar? "Sou um sucesso internacional", a personagem diz sobre a "confused math lady", na festa de 60 anos da Globo. Todo mundo ri, até quem não entendeu direito a piada (é só buscar no Google).
Débora disse em entrevista que vilãs são a catarse do nosso lado mais sombrio. Se a gente vê aquilo que não tem coragem de ser, sente alívio.
Em tempos em que passamos os dias buscando um polegar em riste virtualmente, que coragem a de Odete, que não quer ser amada por ninguém. Ela trata os filhos, familiares, funcionários e amantes do jeito que bem entender porque não tem medo de perdê-los.
É um jeito legal de se portar? Claro que não, gente, ela é vilã de novela!
Porém, que dá uma invejinha da liberdade do ego de quem não precisa de afeto verdadeiro, isso dá. Nem deve existir uma personalidade tão desapegada de tudo que não seja dinheiro como Odete Roitman na vida real. Mas até aí, Papai Noel também não existe e todo mundo ama.
Você pode discordar de mim no Instagram.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.