Luciana Bugni

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Opinião

LOL com Porta dos Fundos é a cura para seja lá quais forem seus males

Tem 10 comediantes em uma sala com uma cervejinha, um drinquezinho, um acervo que vai de figurinos a patos de borracha. A única proibição ali é rir: o resto, eles podem fazer tudo. Tudo? Tudo. E tirar a roupa? Pode também, parece que o jurídico da Prime, que transmite o programa "LOL: Se Rir, Já Era", liberou até nudez. Os três últimos episódios da temporada, com sócios e funcionários do Porta dos Fundos, já estão disponíveis no streaming.

A única coisa que não pode fazer nesse lugar é dar um sorrisinho —meio complicado quando se junta algumas das pessoas mais engraçadas do Brasil que, além de tudo, têm anos de intimidade. A cena inicial, todo mundo ali tomando alguma coisa e batendo papo, lembra as festas com meus amigos. Mas se mandar não rir, eu não sei se sobra um depois de 15 minutos —poucos são atores profissionais na minha turma.

Mas ali na minha galera é justamente o tanto que a gente se conhece que nos faz saber exatamente o que é engraçado para todos. Vale apontar defeitos terríveis, vale imitar bordões, vale lembrar de uma situação vexatória de 1997. E, claro, aceitar que, respeitosamente, seu comportamento sempre pode virar alvo de piadas.

No reality, ninguém parece estar nem aí para isso —ou Gregório Duvivier não tiraria a roupa e exporia o troféu máximo dos homens (o próprio pênis) para análises coletivas pouco elogiosas. O público não pode julgar, já que havia um blur no membro, o que, graças a Deus, evitou o constrangimento da audiência. Quer dizer, mais ou menos. Olhei para as pessoas ao meu lado do sofá e todos seguravam o riso nervoso como se também estivessem competindo por R$ 350 mil.

As piadas que fazem bravões do quilate de Antonio Tabet se estapear para não rir tiram lágrimas de gargalhadas de quem está vendo. Em tempos tão melancólicos, o chavão que compara o riso aos remédios parece fazer muito sentido. Eu mesma, assistindo ao programa, deixei de pensar nos desmandos na América do Norte, na guerra, na maluquice que é o abandono da pauta humanitária por algumas pessoas que gosto tanto, no motoboy que veio na contramão e acertou com tudo a frente do meu carro (o moço está bem), nos amigos enlutados, nas dores que doem no meu trapézio de tanto tempo que passo no computador escrevendo sobre outras dores. Depois de chorar, só que de rir, com a turma do Porta, encontrei meus amigos e rimos ainda mais. A melancolia ficou para outro momento.

Deixei até de pensar na triste morte de um papa, o Francisco, que, diferentemente de todos os outros cujas mortes eu já cobri no jornalismo, parecia se importar mais com gente de verdade do que com tecidos bordados em ouro e outros ritos seculares.

E o próprio papa deixou um recado sobre o assunto. Ele afirmou, em um artigo para o New York Times, que existe fé no riso. Parece, olha só, que a Igreja Católica vê (via?) o humor não só como distração, mas como esperança. Segundo ele, os últimos papas, aqueles que eu achava sisudos, também eram bem-humorados. Ele afirma que a ironia "é um remédio, não só para levantar e iluminar os outros, mas também nós mesmos, porque a auto zombaria é um instrumento poderoso para superar a tentação do narcisismo". Ponto para minha galera que ilumina todo mundo na zoação.

Claro, ninguém aqui está sugerindo piada dos anos 1980 —esse tempo passou. Mas ver João Vicente assumindo que é herdeiro na TV e depois se vestindo de leãozinho de Caetano (seu padrinho) é bem divertido, sim. Se nada der certo, pede para Narcisa fazer mímica. Fabio Porchat pediu no programa e deu no que deu (eu não sei o que deu porque caí no chão de tanto rir).

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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