Vamos de Vinho

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Opinião

Novo técnico da seleção é da terra de vinho que amamos e 'xará' de uma uva

Não sei se Carlo Ancelotti tomava vinho quando morava na sua Emilia-Romagna natal. Afinal, com 20 anos, ainda jovem, já estava jogando em Roma.

Mas dá pra presumir que, nos anos 70, um garoto do interior da Itália tivesse a bebida entre os itens básicos da refeição. E o lugar onde nasceu, Reggiolo, é propício para o brinde com um tipo de vinho super popular no Brasil, especialmente em São Paulo: o Lambrusco.

Lambrusco é um tipo de uva (com diversas variações, como grasparossa, salamino etc.) e um tipo de vinho (normalmente frisante, normalmente feito pelo método charmat, quase sempre tinto, com vários níveis de dulçor - do secco ao dolce).

Mas peraí, Lambrusco é um porcaria, certo?

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Calma lá. Existem muitos exemplares industriais, em supermercados, que são meio enjoativos e unidimensionais, tipo uma Fanta uva batizada. Mas há outros que são vinhos francos, feitos com cuidado. Ali mesmo na Reggio Emilia de Ancelotti, há bons produtores, como Venturini Baldini e Cantina Sociale di Gualtieri. Não dá, claro, para esperar vinhos de meditação, complexos ou profundos. São alegres e despretensiosos e vão que é uma beleza com embutidos -mais um ponto forte da Emilia Romagna. Não é à toa que Ancelotti batizou um de seus livros de "Prefiro a Copa", que é tanto um torneio quanto um presente que o porco nos dá. Ou seja, até é uma porcaria, no melhor sentido.

Ancelotti é chegado nuns goles de classe

Ancelotti refletindo sobre o vinho com o qual comemoraria o Mundial de 2024
Ancelotti refletindo sobre o vinho com o qual comemoraria o Mundial de 2024 Imagem: Getty Images

Pois é, não sei a opinião do treinador sobre Lambrusco. Mas sei que ele é bem chegado nuns vinhos de alta classe, especialmente italianos. É conhecida sua relação com o Masseto, um dos grandes supertoscanos de Bolgheri, 100% merlot. No Brasil, espere gastar muitos milhares de reais para brindar no estilo Carletto.

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E até uma uva quase xará o sujeito tem

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Uma das uvas tintas mais conhecidas da Emilia-Romagna é a ancellotta, que até entra em alguns blends de Lambrusco, mas é mais conhecida por protagonizar tintos tranquilos. Tem forte cor azulada e produz vinhos de bom corpo e taninos, com notas de frutas pretas, violeta e especiarias. A boa notícia é que existem bons ancellottas feitos no Rio Grande do Sul. O da Don Laurindo é histórico, chamou atenção para essa cepa quando ela era bem desconhecida no Brasil. Eduardo Zenker (Arte da Vinha) fez um ainda melhor: o Alma Penada 2013. Hoje, muitas vinícolas gaúchas produzem bons vinhos com a casta.

SAIDEIRA

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Imagem: Divulgação

Esse tava bom
Estou puxando pela memória. Florença, uns 15 anos atrás. Nunca me interessei por supertoscanos (em explicação resumida, vinhos da Toscana que não usam as denominações tradicionais, normalmente por serem compostos por castas francesas). Mas topei com um Grattamacco (de que safra? Não lembro) que um jornalista brasileiro conseguia pagar na época. Abri no hotel. Pelamordedeus. O corte de cabernet sauvignon, merlot e sangiovese era intenso, com aromas se espalhando pelo quarto, e deixou lembranças na boca por muitos minutos. Que vinho. A safra 2017 custa R$ 1.650 na importadora.

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Imagem: Divulgação

Esse também tava
Outro vinho que só guardo na lembrança. Eu e todo mundo, pois trata-se do Alma Penada 2013 mencionado acima. Só houve uma edição, pois quando o Zenker foi comprar as ancellottas da safra seguinte, o viticultor já tinha botado abaixo o espetacular vinhedo. Daí o nome. Abri num Carnaval, no calor escorchante do Rio, depois de um plantão (o vinho era inadequado para o clima, mas azar). Como no caso ao lado, o ambiente foi tomado pelo aroma, que era de violeta, arruda e frutas pretas. Durava séculos na boca. Não consegui ir além de dois copos, estava quente demais pra ele. Mas nunca esqueci.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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