Vinho combina com chocolate? Descubra quais escolher (ou evitar)

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Não sou um entusiasta da combinação de vinhos com chocolate (sou do time da colunista Tânia Nogueira, da Folha, que prefere um destilado nessas horas). Mas muita gente associa os dois alimentos ou vai abrir um vinho de qualquer forma na Páscoa, então vamos nos deter um pouco no assunto.
Existe um princípio de que o vinho tem de sempre ser mais doce que a sobremesa (ou, pelo menos, tão doce quanto). Tem um tanto de verdade: no encontro do açúcar com um vinho seco, quem sai prejudicado é o vinho.
Mas existem chocolates com muito cacau e pouco açúcar. Aí aparece um outro problema: esses tendem a ter flavonoides (taninos) robustos e de certa forma obliteram mesmo aquele cabernet que estava escoltando de maneira altiva a paleta de cordeiro do almoço.
Há alternativas clássicas: muita gente aprecia fortificados doces de bom corpo com chocolate: Porto, Madeira, os Jerez de Pedro Ximenez (que costumam ser beeeem adocicados), alguns moscatéis licorosos, como o Rutherglen Muscat, da Austrália (boa sorte para achar um no Brasil — eu mesmo nunca provei).
Nessa categoria, o que me deixou mais feliz numa Páscoa foi um Banyuls, produzido com grenache no Roussillon francês (Maury, ali perto, também deve funcionar de forma semelhante).
Outra sobremesa da Páscoa é bem mais amigável com vinhos: a colomba. Todos os mencionados no parágrafo acima vão casar bem, e ainda outros, como os passificados (passito, vin santo etc.) e os de colheita tardia.
Mas, voltando à dica da Tânia, bom mesmo é um golinho de destilado. Um bourbon meio adocicado, um uísque escocês com bastante madeira e maneirado na turfa, um conhaque, um armanhaque, um calvados. Ou aquele licor esquecido no fundo do armário (um Drambuie vai bem).
Agora, um momento de sinceridade: eu não dou muita bola para isso. Se, na hora de comer uma lasquinha de chocolate, só tiver um copo de tinto seco na minha frente, vamos com ele mesmo.
O doce vai atropelar o líquido, a harmonização não fará tocar trombetas celestiais, mas sobreviveremos.
E bacalhau?

"Bacalhau não é peixe, bacalhau não é carne, bacalhau é bacalhau". Esse dito português e suas variações ajudam a entender por que os lusos frequentemente comem o peixe seco com vinho tinto.
De fato, o corpo dos vinhos tintos e uma leve sensação de dulçor sugerem uma boa combinação com os pratos substanciosos de bacalhau. De qualquer forma, é mais prudente escolher tintos que não sejam muito tânicos, não passem de forma marcante por madeira e valorizem o aspecto frutado. Bom momento para um gamay ou um barbera (não barricado).
Com brancos e rosados, não é preciso muita escolha. Quase tudo tende a dar certo. Eu tendo a preferir brancos com mais corpo, não excessivamente aromáticos, mas isso está longe de ser uma regra.
O que é uma regra para mim é: não consigo embarcar na história do vinho tinto. Sou muito sensível ao gosto metálico que os taninos provocam junto com peixe. Até alguns rosados já cortaram meu barato.
Em tempo: qualquer dica de harmonização que não leve em conta a receita específica é perigosamente genérica e deve servir apenas para uma noção geral.
Escola lança formação gratuita em vinhos para profissionais de restaurantes
A Enocultura — escola conhecida por ministrar cursos da britânica Wine and Spirit Education Trust no Brasil — está oferecendo uma capacitação básica gratuita para profissionais e aspirantes das áreas de gastronomia, hospitalidade e atendimento de vinhos. São quatro encontros de 2h30 onde serão abordados viticultura, produção de vinhos, principais uvas, países produtores e seus estilos, serviço, armazenagem, harmonização, composição de carta e venda de vinhos. O curso chama-se Wine for Life e tem apoio da Gérard Basset Foundation.
Existe um processo seletivo. Interessados têm até 25/4 para enviar um email para recrutamento@winediving.com.br, com currículo anexado, e responder à pergunta "O que significa participar do Wine for Life para você?" (resposta entre 400 e 700 caracteres).
SAIDEIRA

Esse tava bom
O Château Bellevue, de Saint-Emilion, safra 2013, é aquela pancada do melhor Merlot do planeta. Sim, não será tão simples comprá-lo, porque para as nobres pessoas comuns pagar mais de 800 reais em uma garrafa pode ser considerado um abuso. Este seria o valor aproximado cobrado na Casa Santa Luzia, localizado no bairro dos Jardins, em São Paulo. E olha que nem é de uma safra tão antiga. Este Grand Cru Classé tem aromas de frutas vermelhas, alguma mineralidade e taninos tão sedosos que você vai torcer para que a garrafa não termine tão cedo. (Vinícius Mesquita)

O barato da semana
Se eu fosse encarar um tinto com bacalhau, seria algo na linha do EA, alentejano simples da tradicional vinícola Cartuxa. Em primeiro lugar, porque essa combinação é coisa dos portugueses. Esse vinho, simples e frutado, é um corte de alicante bouschet, aragonez, trincadeira e syrah. Os taninos redondos não devem, para a maioria das pessoas, fazer parecer que se está chupando um prego no encontro com o peixe. É bastante versátil e será amigo de praticamente qualquer prato típico da Páscoa. Custa RS 71,90 na Amazon (se você comprar pelo link abaixo, o UOL ganha uma comissão).
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