Mariana Sgarioni

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Reportagem

Tetra Pak: os desafios da reciclagem de bilhões de caixinhas longa vida

Tem uma conta que não fecha quando o assunto é reciclagem de embalagens. A tecnologia do produto pode ser avançada e 100% sustentável, porém, se não houver uma coleta adequada, todo o trabalho de pesquisa e inovação vai parar literalmente no lixo. Este é o gargalo atual da Tetra Pak, líder mundial em soluções para processamento e embalagem de alimentos, fabricante das famosas caixinhas longa vida.

"Menos de 25% dos municípios no Brasil têm coleta seletiva. E, quando tem, nem sempre existe infraestrutura adequada. Então, nosso desafio é trabalhar toda a cadeia de reciclagem, não apenas a coleta como também ajudar e apoiar os recicladores na venda das embalagens pós-consumo", diz Valéria Michel, diretora de sustentabilidade no Brasil e Cone Sul da Tetra Pak.

No ano passado, a Tetra Pak Brasil investiu R$ 26,2 milhões somente em projetos de sustentabilidade, incluindo diversas ações na cadeia de reciclagem, como estruturação de recicladores e cooperativas, além de projetos sociais, educação ambiental e meio ambiente nas fábricas. Em 2024, foram recicladas pouco mais de 100 mil toneladas de embalagens cartonadas, o que representa uma taxa de reciclagem de cerca de 39%.?

A quantidade de caixinhas longa vida no país cresce a cada ano: em 2024, a Tetra Pak produziu um total de 17,3 bilhões de embalagens no Brasil, que dá um faturamento de R$ 8,6 bilhões.

Na entrevista a seguir, Valéria Michel explica por que o principal foco da empresa está na reciclagem, quais os seus principais desafios, e os esforços da companhia para diminuir a quantidade de resíduos acumulados nos aterros.

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Ecoa: A Tetra Pak é responsável pela produção de bilhões de embalagens de alimentos que nem sempre são recicladas. Como a empresa trata esta questão?
Valéria Michel:
A Tetra Pak tem ações que pegam todos os segmentos da cadeia de valor. Sempre que fazemos pesquisas com consumidores sobre tendências entendemos que nosso foco prioritário é a reciclagem pós-consumo. Então partimos daí. Quando começamos, há 25 anos, passamos a entender quais são os atores desta cadeia, como funcionava, e onde precisávamos investir. Iniciamos com tecnologia: não dá para colocar no mercado um produto que não seja totalmente reciclável, em escala, e em qualquer parte do país. Então trabalhamos, num primeiro momento, com design de embalagens e em todo o seu impacto. Hoje em dia a tecnologia já não é mais um desafio, pois passamos a conhecer melhor toda a cadeia da reciclagem.

Ecoa: Por que?
Valéria Michel:
Percebemos que a infraestrutura das cooperativas é muito precária. Começamos oferecendo apoio com as coisas mais básicas, como prensas, balanças, equipamentos. Muitos não tinham condições mínimas de trabalho. Hoje falamos com cooperativas de todo o país e nossos projetos saem a partir das demandas delas. O que temos de mais valioso é este relacionamento com cooperativas, catadores, ferros velhos, comércios. Eles precisam de estruturação, equipamentos e até assessoria contábil. As cooperativas devem crescer e isso tem que ser rápido. Estamos falando de uma mudança estrutural. Por isso é preciso mudar o sistema de coleta, sair desta precarização, e dar uma condição de trabalho mais adequada para estas pessoas. Por mais que algumas empresas invistam nesta mudança, é preciso escala e isso somente com políticas públicas. A verdade é que a taxa brasileira de reciclagem é muito baixa. Não estamos reciclando nada: há pouca coleta no Brasil e, quando existe, o sistema é precário.

Ecoa: Em países europeus ou até mesmo nos Estados Unidos há outros modelos, como grandes centros de triagem. Você acha que poderíamos ter estes modelos aqui?
Valéria Michel:
Claro que precisamos encontrar um modelo mais moderno, como as referências internacionais, com maquinário e tecnologia para dar conta do que virá pela frente. Mas a diferença é que estes países não precisam se preocupar com inclusão social. Nossa realidade é diferente. Aqui, nosso papel é também o de transformar vidas a partir da reciclagem. Então estamos falando de educação. Há catadores que não têm nem RG. Estamos perto deles e sabemos suas dores. É o que costumamos dizer: Você está a uma caixinha de mudar a vida de uma pessoa.

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Superalimentos da Mahta Bio unem saberes ancestrais e ciência moderna

A floresta amazônica é habitada por muita gente e explorada há milhares de anos. Durante todo este tempo, a população que ali viveu acumulou conhecimentos sobre a terra, biodiversidade, métodos de cultura, princípios ativos, entre outros. Pense bem: o que fazemos com todos estes saberes nos dias atuais nas grandes cidades? Muito pouco.

A Mahta Bio, foodtech brasileira que produz superalimentos vindos da Amazônia, teve uma grande sacada: unir a sabedoria acumulada dos povos indígenas ancestrais à ciência e tecnologia de ponta das universidades. O resultado são bebidas que trazem uma nutrição regenerativa vinda da floresta, em uma combinação de alimentos orgânicos, integrais, funcionais e, principalmente, éticos - seja com o ambiente de onde vieram, seja com a população que os cultiva.

Esta troca de saberes é um dos princípios das chamadas novas economias, que tanto estão em discussão no momento. Ou seja, modos de produção que incorporam práticas tradicionais para gerar novas oportunidades de negócios, que beneficiam as comunidades locais e os consumidores em geral, promovendo o diálogo entre diferentes culturas, o respeito pela diversidade, e a construção de um planeta mais justo e sustentável.

"Sempre me perguntam: a Mahta Bio vem da sabedoria ancestral ou é tecnologia moderna? Os dois. Primeiro porque a floresta amazônica está longe de ser um jardim virgem. Ele é um jardim desenvolvido e otimizado pelas populações originárias há 15 mil anos. Há registros que comprovam que existiam milhões de pessoas lá antes da chegada dos europeus. Havia mais gente na Amazônia do que na Espanha e Portugal juntos na época em que os colonizadores chegaram. Então, estamos falando que ali existiam técnicas agrícolas poderosas. Eles faziam uma alquimia e selecionavam as melhores sementes - o cupuaçu foi selecionado, por exemplo", explica Max Petrucci, CEO e fundador da startup.

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O executivo conta que a ideia de produzir superalimentos - aqueles que têm alta densidade nutricional - surgiu a partir de problemas pessoais de saúde. Ele percebeu que sua cura poderia vir da alimentação e passou a investir em pesquisas e parceiros que também acreditavam nesta solução. "Pensei: devem existir muito mais ingredientes na biodiversidade amazônica que podem ser superalimentos e que ninguém conhece", lembra ele, que contratou pesquisas da USP/ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e cientistas da mesma universidade. Descobriu que a Amazônia tem mais de 100 ingredientes que oferecem uma contribuição nutricional acima da média.

Em dois anos e meio de operações, a Mahta Bio conta hoje com um laboratório no Centro Tecnológico de Piracicaba (SP) e desenvolveu 3 produtos inéditos no mundo, incluindo novos alimentos, como a torta de castanha, que nunca havia sido usada como componente nutricional e é altamente proteica. Uma dose do shake da empresa, por exemplo, é capaz de substituir uma refeição completa.

As operações acontecem em parcerias com cooperativas de produtores originários da Amazônia, a partir de sistemas regenerativos, que preservam não apenas a biodiversidade como também a floresta em pé. "Tem que ser bom para todo mundo: para o ecossistema do organismo e do planeta".

Vinícola brasileira traz carta de vinhos em homenagem à cultura iorubá

Michael Scott Carter, primeiro homem negro a fundar uma vinícola no Brasil
Michael Scott Carter, primeiro homem negro a fundar uma vinícola no Brasil Imagem: Divulgação/Michael Scott Carter

O Brasil conta hoje com mais de mil vinícolas espalhadas por quase todo o país. Só a região sul concentra cerca de 90% da produção nacional. Segundo o governo do RS, há uma expectativa de safra de mais de 700 mil toneladas de uva em 2025, produzidas por cerca de 15 mil famílias. Pela primeira vez na história, entre estas famílias, está o economista Michael Scott Carter, um homem negro.

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Carter é nascido em Chicago, nos Estados Unidos, e escolheu estas terras brasileiras porque decidiu empreender em uma viticultura bem especial: por meio dos vinhos, ele busca uma união entre a cultura brasileira e a africana.

São 4 tipos de vinhos (branco, tinto, rosé e reserva) que trazem nomes em iorubá, idioma falado em alguns países da África, como Nigéria e Benin. Todos iniciam com a palavra Ilé, que significa "casa", em iorubá. O vinho branco, chamado Ilé Amo, faz referência ao solo brasileiro e suas flores e frutos. O rosé é o Ilé Amogo, que evoca a ideia de prosperidade, representando a intensidade das frutas vermelhas. E o tinto é o Ilé Amora, que faz referência ao amor e à paixão.
"Eu queria criar um vinho que contasse a história inteira do Brasil e expressasse a história das Américas de muitas formas. E o foco está na terra, que é onde tudo começa e onde tudo termina", diz Carter. Ele reforça a importância de estimular que outros profissionais negros entrem no setor, promovendo o aumento do consumo e do conhecimento desta parcela da população sobre os vinhos.

A vinícola, que iniciou sua produção no ano passado, fica localizada em Monte Belo do Sul, vizinha à famosa Bento Gonçalves, região montanhosa, onde há outros pequenos produtores.

Toda sua atuação é pautada pela sustentabilidade: as garrafas de vidro são recicláveis, os rótulos e as caixas de papelão são de papel certificado FSC (selo que garante produtos provenientes de florestas bem manejadas) e as rolhas são naturais (de cortiça, material natural extraído da casca de árvores). Carter planeja, para os próximos meses, lançar seu primeiro espumante e uma linha de sucos de uva.

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