Por que a Schneider é considerada a empresa mais sustentável do mundo

"Não aceito quando escuto que sustentabilidade custa caro. Sustentabilidade é um negócio".
É assim que Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric para a América do Sul, resume, ao ser perguntado sobre o alto desempenho da empresa nos mais importantes rankings de sustentabilidade do planeta. A multinacional francesa, que atua na transformação digital da gestão de energia e automação, foi considerada a mais sustentável do mundo pelo disputado Corporate Knights por duas vezes, um feito inédito. No ano passado, liderou o ranking da revista Time e da Statista, além figurar no Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Ou seja: quando a onda é ESG, a Schneider nada de braçada.
Segundo Segrera, estes resultados vêm de uma jornada de longa data: há 20 anos, a empresa adota os valores ESG no centro de sua estratégia. Neste período, a companhia quadruplicou seu volume de vendas e seu valor foi multiplicado por 12. Esta é uma prova inquestionável de que, como diz o executivo, investir em sustentabilidade é um bom negócio.
Em um mundo cada vez mais dependente de energia, a Schneider é hoje uma das protagonistas nas discussões sobre economia digital mais verde, que inclui uma transição energética justa. No início do mês, representantes da multinacional estiveram ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em um evento nos Estados Unidos que discutiu data centers, inteligência artificial e transformação digital. Na ocasião, foi apresentada a nova Política Nacional de Data Centers do Brasil - com seu potencial em geração de energias renováveis, o Brasil já se destaca como um dos principais destinos desses hubs no mundo.
A Schneider Electric atua em tecnologia industrial, levando expertise em eletrificação, automação e digitalização para indústrias inteligentes, além de infraestruturas resilientes, data centers, edifícios inteligentes, residências intuitivas, além de fornecer soluções integradas de internet das coisas (IoT) industrial com inteligência artificial (IA). A empresa opera hoje em mais de 100 países e conta com um ecossistema de 150 mil colaboradores e mais de um milhão de parceiros.
Leia a seguir a entrevista exclusiva do presidente da multinacional a esta coluna. Aqui, ele fala um pouco sobre o radar de uma empresa que não separa tecnologia de descarbonização e impacto social. Por esta razão, aliás, atingiu o tão sonhado topo das melhores performances em aspectos sociais, ambientais e de governança em todo o mundo.
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Ecoa: Como a Schneider Electric se tornou a empresa mais sustentável do mundo?
Rafael Segrera: A sustentabilidade está no centro da nossa estratégia e em tudo o que fazemos há 20 anos. Ou seja: é uma longa jornada. Vou explicar um pouco do nosso negócio e por que a sustentabilidade precisa estar no foco. A Schneider é uma empresa de tecnologia industrial com duas grandes vertentes: gestão de energia e automação/digitalização. Esses dois grandes negócios são convergentes, uma vez que a infraestrutura elétrica é fundamental para o desenvolvimento das nações, da economia. É só lembrar que a infraestrutura digital toca todos os mercados, está em tudo o que fazemos, em todos os setores. Estes negócios conjugados são o que chamamos de eletricidade 4.0: de que forma o mundo elétrico e o mundo digital se juntam para ter uma energia muito mais sustentável. Nosso primeiro acordo é: como fazer com que todos tenham a possibilidade de fazer o máximo uso dos recursos digitais e da energia. Como não deixar ninguém para trás. É o básico.
Ecoa: Não deixar ninguém para trás significa investir em compromissos sociais?
Rafael Segrera: As empresas são as pessoas, os negócios são feitos para elas, e não existem negócios sem elas. Temos que assegurar que tudo o que fazemos tenha um impacto positivo nas pessoas. Este é um primeiro ponto de partida. Depois, precisamos pensar na velocidade com que as novas tecnologias aparecem, que é muito rápida, se comparada à adoção destas tecnologias. Existe uma dificuldade de utilização, na maioria das vezes as pessoas não têm capacitação para estas novidades. Se as pessoas e as nações não estão capacitadas, elas ficam para trás: perdem possibilidades de emprego, as nações perdem eficiência e competitividade, enfim, perdem vantagens. Por isso que uma das nossas obsessões é conseguir empoderar a todos.
Ecoa: Esta capacitação se faz com formação de novos profissionais?
Rafael Segrera: Um estudo da McKinsey, feito há pouco tempo, mostra que existe uma falta de 2,5 milhões de eletricistas no mundo. E o problema não é só a quantidade, também é a qualidade, a capacidade desses eletricistas. Porque hoje não se trata apenas de manipular uma instalação elétrica normal. As instalações, estejam onde estiverem, provavelmente também trarão uma automação. O profissional precisa saber coordenar isso e também aliar à placas solares, por exemplo, ou ainda conectar tudo isso a um aplicativo. Hoje os chamados "green skills" são um dos principais gargalos para as empresas e que serão discutidos na COP 30.
Ecoa: De que forma esta capacitação está ligada a uma transição energética justa, um dos principais temas da COP 30?
Rafael Segrera: Quando discutirmos financiamento, na COP 30, vamos tentar direcionar parte destes recursos para a formação e capacitação de novos profissionais com habilidades verdes. Porque esta formação vai gerar empregos. Para que a transição energética seja justa precisamos assegurar que os cidadãos, a indústria, as empresas tenham energia limpa, disponível o tempo todo, e que seja economicamente acessível. No caso do Brasil, que tem uma matriz energética limpa, como poderemos valorizar isso, fazer com que esta matriz contribua para o desenvolvimento industrial e, ao mesmo tempo, da nação? E o nosso papel: como a tecnologia pode fazer com que esta matriz seja mais eficiente. No Brasil, ainda há algumas questões com relação a isso.
Ecoa: Quais são estas questões?
Rafael Segrera: O Brasil vai muito bem na geração de energia limpa, porém não somos eficientes no uso desta energia. As perdas energéticas no Brasil chegam a 60% até o ponto do consumo. Outro problema são os custos, que precisam ser competitivos. Se você pensar num data center, por exemplo, que alimenta toda a Inteligência Artificial que gera tantos benefícios e desenvolvimentos para um país, o custo desta operação pode ser até 70% da energia gerada. Então, o Brasil pode ser o maior hub de data centers do mundo? Sim, temos energia, espaço, vontade. Podemos ser os maiores exportadores de informações e dados limpos. Mas ainda o jogo não está ganho: precisamos de mais velocidade, além de olhar com mais cuidado para a reforma fiscal.
MST mostra como é possível produzir arroz agroecológico em escala

Enquanto o agronegócio tradicional enfrenta desafios como esgotamento do solo, dependência de pesticidas e resistência climática, a agroecologia teima em mostrar que é, sim, uma alternativa viável. E em escala. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) celebrou, no mês passado, uma safra de 15 mil toneladas de arroz produzido de forma totalmente agroecológica no Rio Grande do Sul - mesmo após as enchentes do ano passado.
De acordo com Edson Cadore, engenheiro agrônomo do grupo gestor do arroz agroecológico do MST, esta produção em larga escala só é possível graças a técnicas de manejo do solo, semeadura e maturação das sementes, além de outros cuidados, como a gestão adequada da irrigação, que impede que plantas indesejáveis tomem conta da cultura. "O agricultor precisa perder o medo. Não é só o arroz: é possível produzir em escala qualquer grão de forma agroecológica", afirma Cadore, que pontua a importância de controlar, em primeiro lugar, a semente que será plantada.
O engenheiro conta que os primeiros testes de produção agroecológica do MST começaram há mais de 20 anos - e com alfaces. No início, o plantio de arroz era feito de forma convencional, porém muitos agricultores se queixavam de problemas de saúde relacionados ao manuseio e uso de pesticidas, além da questão ambiental do solo. Na época, decidir pelo cultivo orgânico era algo inovador, pois ainda não existiam muitos exemplos de sucesso de produção em escala. "Pensamos: se deu certo com alface, por que não daria com arroz?", lembra Cadore.
Com a ajuda de universidades e instituições, os agricultores foram desenvolvendo suas próprias técnicas e ampliando o espaço de cultivo: hoje são 2652 hectares de plantio de arroz agroecológico em 9 municípios do Rio Grande do Sul, em 11 assentamentos, com 360 famílias cuidando de toda esta organização. De acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), trata-se hoje da maior produção orgânica da América Latina. As técnicas do MST incluem ainda o uso de bioinsumos e fertilizantes orgânicos.
O arroz agroecológico do MST abastece atualmente mercados em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, além de escolas e instituições.
Cadore afirma que agora o desafio é a utilização de energias renováveis no campo, que poderia ser gerada a partir de subprodutos do arroz, como a casca, por exemplo.
"É possível mudar o modelo de produção, que ajude a melhorar a crise climática. O MST tem hoje tecnologia para produzir qualquer grão de forma agroecológica. Mas, para avançar, é preciso investimento. A agroecologia precisa do mesmo conjunto de políticas públicas hoje disponíveis para o agro convencional".
Startup faz carne de peixe em laboratório livre de plásticos e metais

Neste mundo cercado de plásticos e micro plásticos por todos os lados, uma alegria seria comer um bolinho de peixe temperadinho e livre de qualquer contaminação. O único jeito disso acontecer no momento seria - literalmente - cozinhar um peixe que viveu fora d' água. E é esta a proposta da biotech Sustineri Piscis.
A ideia é produzir carne de pescado em laboratório, por cultivo celular. Funciona mais ou menos assim: a célula do peixe é levada ao laboratório, onde é cuidada para que sobreviva e se reproduza. A partir daí esta célula é melhorada para que seja criada uma linhagem. Esta linhagem vai a um biorreator, com líquidos nutrientes, que fará com que surja uma massa proteica, de onde surgirá a chamada carne de peixe do futuro, que é branca, tem cheiro de peixe e gosto de peixe. É o que garante Marcelo Szpilman, biólogo marinho, CEO da Sustineri Piscis.
Entre as principais vantagens do peixe por cultivo celular, estão a produção sem contaminação, além da preservação de espécies ameaçadas, e uma oferta de proteínas sem espinhas, de alta qualidade, em uma quantidade necessária para alimentar a população mundial, em franco crescimento.
"O primeiro problema é que os peixes estão acabando, literalmente. Quase todos os peixes que a gente gosta e come estão em declínio acentuado ou nas listas de espécies ameaçadas: badejo, garoupa, cherne, robalo. O segundo problema é que todos os animais marinhos, sem exceção, estão altamente intoxicados com metais pesados, substâncias orgânicas persistentes, hormônios: 80% do mercúrio que nós temos no organismo vem do peixe que comemos. E um terceiro problema é que, segundo a ONU, teremos que dobrar a quantidade de proteínas até 2050 para atender 10 bilhões de pessoas no planeta. Não há como dobrar o número de cabeças de gado, de galinhas e muito menos de peixes capturados", complementa Szpilman, que também é idealizador, fundador e presidente de honra do AquaRio.
Apesar de parecer, ele explica que o alimento não tem nada a ver com comida de astronauta. Para isso, faz um paralelo com a cerveja. "A cerveja é produzida em enormes reatores em laboratório, mas não tem nada de astronauta. Em um futuro próximo, teremos todas as carnes por cultivo celular, incluindo picanha", diz.
Os alimentos ainda não podem ser comercializados, pois dependem da aprovação da Anvisa, que está em andamento. Avaliada em R$ 57 milhões, a startup recebeu recentemente um aporte de R$ 9,39 milhões e atraiu 520 interessados para uma rodada de investimentos.
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