O que aprendi ao analisar mais de 150 rótulos em um ano
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Foram 52 publicações desde que lançamos o Guia do Supermercado, mais de 150 produtos analisados, algumas surpresas e muitos aprendizados. Ao longo de um ano escrevendo esta coluna semanal e lendo os comentários dos leitores, fui confirmando algo que já suspeitava: o consumidor está cada vez mais interessado em entender o que come.
Muita gente ainda acredita que para comer bem basta evitar ultraprocessados ou escolher produtos com poucos ingredientes. Mas esses atalhos nem sempre funcionam. Compreender, de fato, o que estamos comendo exige treino, paciência e uma dose saudável de ceticismo. Afinal, em se tratando de alimentos industrializados, nem tudo que reluz nas gôndolas é ouro.
Neste especial, relembro algumas dicas que podem mudar a sua forma de olhar para o supermercado e garantir escolhas melhores.
Marcas são referências, não verdades absolutas

Não existe marca "boa" ou "ruim", já que o mesmo fabricante pode ter produtos de diferentes qualidades, para atender diferentes consumidores. O mais importante é aprender a avaliar cada produto individualmente com base no seu rótulo. Além disso, lembre-se de sempre conferir a lista de ingredientes antes de comprar um alimento, pois as formulações dos produtos podem ser alteradas a qualquer momento.
As publicações do Guia do Supermercado não são patrocinadas, o que garante a minha liberdade para fazer avaliações independentes.
Por exemplo, aqui eu indiquei um iogurte industrializado que pode fazer parte de uma dieta saudável e consumido regularmente pela maioria das pessoas, desde que elas não apresentem intolerância ao leite ou restrição médica.
Já aqui, trouxe um alerta sobre outro produto da mesma marca:
"O formato foi pensado para facilitar o acesso até mesmo dos mais novos — para virar um consumidor cativo, basta saber apertar e sugar. A perigosa combinação da publicidade com a conveniência de alimentos pouco nutritivos pode afetar a saúde dos consumidores."
Nem tudo que é "zero" ou "sem" algo é melhor

Uma das armadilhas mais comuns está nos rótulos com o termo "zero".
Acreditar que esses produtos podem ser consumidos sem moderação é uma armadilha, pois desvia o foco do que realmente importa: a qualidade da composição e o valor nutricional dos alimentos são mais relevantes que a ausência de certos componentes.
A lição aqui é simples: entenda o que foi "zerado" — e o que entrou no lugar. Em muitos casos, o "zero" é mais marketing do que uma vantagem real.
Produtos "proteicos" podem esconder armadilhas

Nos últimos tempos, vimos uma explosão de alimentos e bebidas com apelo proteico. Mas o que acontece com frequência é o uso desse termo mesmo quando o produto tem mais gordura ou carboidrato do que proteína, como mostrei nesta edição.
Outro truque comum é a diluição de proteínas nobres em ingredientes mais baratos. A dica é verificar na lista de ingredientes quais são as fontes de proteína do produto, ao invés de olhar somente o número em destaque no rótulo. Aqui, alertei como não cair no marketing de alimentos proteicos.
Para não se enganar, é importante conferir se o tamanho da porção declarada corresponde à quantidade real que você vai consumir. No Guia do Supermercado também expliquei sobre esse tipo de armadilha.
A simplicidade é um bom guia, mas não é uma regra

Produtos com poucos ingredientes também podem ser uma cilada. Entenda melhor aqui.
Até o açúcar, com seu ingrediente único, tenta projetar uma imagem de superioridade. Eu já dei dicas para você não cair no marketing desse produto.
O mesmo vale para os adoçantes de forno e fogão, que tentam — e conseguem — ser bem parecidos com o açúcar. Entenda a farsa dos adoçantes culinários.
O consumidor tem o direito de saber o que está comendo -- mas isso nem sempre é fácil

A dificuldade e a recusa de alguns fabricantes em fornecer informações claras e completas sobre os ingredientes dos produtos demonstram desrespeito ao consumidor. O caso do sorvete Bacio di Latte é um exemplo disso.
Às vezes a imprensa consegue descobrir o que o consumidor sozinho não consegue. E, quem sabe, fomentar alguma transformação.
Nem todo o industrializado é nutricionalmente pobre

Ao treinar o olhar para ler os rótulos, é possível fazer melhores escolhas e encontrar alimentos que podem fazer parte de uma alimentação saudável. Você pode ver isso nesta lista de 17 alimentos industrializados que são boas escolhas.

O que esse ano de colunas me ensinou é que não existe resposta simples em um mercado cheio de atalhos visuais. Não é preciso ter medo dos industrializados, mas é essencial treinar o olhar para ler além do que está na frente da embalagem.
Ao escolher um produto, ignore o marketing frontal, vire o pacote e vá direto na lista de ingredientes. Em poucos segundos, você já começa a enxergar o que faz sentido ou não colocar no seu carrinho.
Cada um é livre para escolher o que comer, mas só a informação nos permite escolher conscientemente. Quem aprende a ler os rótulos não cai nas promessas de marketing.
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Eu sou Sari Fontana, química industrial de alimentos e faço avaliações didáticas para ajudar você a comer de forma mais consciente (me siga no Instagram).
Como você já sabe, o Guia do Supermercado não é patrocinado por nenhuma marca. Por isso temos a liberdade de criticar, mas também de elogiar os produtos que merecem um lugar no nosso carrinho de compras.
Os produtos apresentados aqui são usados como exemplo ilustrativo, mas as explicações valem para alimentos similares de outras empresas. O mais importante é mostrar para você como interpretar a tabela nutricional e a lista de ingredientes dos alimentos, para fazer boas escolhas.
Lembre-se sempre de conferir o rótulo dos produtos que avaliamos, pois o fabricante pode alterar a receita a qualquer momento, adicionando ou substituindo ingredientes.
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