'Eles amam banda política e pelada': Teto Preto leva pop radical à Europa

Expoente da cultura eletrônica queer no Brasil, o grupo Teto Preto tem espalhado som e fúria pela Europa. A turnê internacional vai até 28 de junho, com sete apresentações em cidades da Áustria, França, Espanha, Portugal e Itália.

O grupo passa por palcos de prestígio, incluindo o Sónar Festival, em Barcelona — um dos eventos mais importantes do calendário mundial da música eletrônica —, e o Hyperreality Festival, em Viena, dedicado a propostas radicais e inovadoras no campo da música e da arte performática.

"Se tem uma coisa que um europeu ama é ter uma banda latina, política, pelada, para eles falarem: 'Ai, a gente lavou toda nossa culpa burguesa contratando esse show de 'maluques'. A gente acaba com a Europa. Vamos fazer um estrago bom lá", debocha CARNEOSSO, alterego de Laura Diaz, vocalista, compositora e diretora artística do projeto.

"O europeu não tem uma música contemporânea deles, ou é a música local clássica, ou é a música eletrônica, que a base rítmica é toda americana. Então, a gente chega lá literalmente fazendo coisas com o corpo e com o som que a galera não faz", aponta o baixista e percussionista Marian Sarine.

CARNEOSSO, alterego de Laura Diaz, vocalista do Teto Preto
CARNEOSSO, alterego de Laura Diaz, vocalista do Teto Preto Imagem: Hick Duarte/Divulgação

O grupo leva na bagagem o seu álbum mais recente, 'FALA', lançado no ano passado, e um espetáculo novo, que estreou no Brasil este mês, no festival que comemorou os 12 anos da festa Mamba Negra. Em meio à temporada europeia, ainda será lançado um single inédito — "C A L M A", parceria com Carlos do Complexo.

"O single vai estrear no dia 20 de junho, então, nesse espetáculo, a gente queria trazer tanto o álbum quanto coisas novas e até referências, por exemplo 'Piloto', da Flora Matos, que a gente está tocando", explica CARNEOSSO.

Entre o punk e o voguing

A turnê na Europa é a primeira da formação atual do Teto Preto, pelo qual já passaram artistas como Loïc Koutana, Mari Herzer e Pedro Zopelar ao longo de seus 11 anos de atividade. Atualmente composto por Matheus Câmara (Entropia), tocando guitarra e bases eletrônicas, Yaguarete Puri, como bailarino, e a coreógrafa e bailarina Juana Chi, além de CARNEOSSO e Sarine, o grupo vive um momento inédito. "É a primeira formação em que temos pessoas trans. Significa muita coisa", diz a diretora artística.

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Esteticamente, elementos da cultura pop, como as coreografias do corpo de baile, chegaram dialogando com a lírica radical do projeto, cujas letras denunciam diversas violências típicas do mundo contemporâneo. Na esquina entre o punk e o voguing, o techno e o piseiro, Teto Preto mostra-se propositivo como poucos projetos são capazes de ser.

Teto Preto leva pop radical para shows na Europa
Teto Preto leva pop radical para shows na Europa Imagem: Divulgação

"O show do Teto é totalmente diferenciado, a galera fica sem palavras. Não tem algo parecido no mundo. Realmente cria novos imaginários", comenta Puri. "Eu só vou colocando as técnicas e as vivências que eu já tenho, e a gente vai construindo. É uma banda real, sabe? Isso aqui é a vida real, não é nada plástico", acrescenta Chi.

"Os primeiros lançamentos do Teto são um pouco mais lineares, tinha o lance de ser tudo mais hipnótico. Agora, ao mesmo tempo que está mais contrastado, tem uma história em que tem momentos de muito impacto e tem momentos de transe", avalia Entropia.

"Nesse novo momento, a gente se permitiu ter brasilidades eletrônicas. Essa linguagem de atravessamento pop tem a ver com o 'underGRANDE', com a gente se expandindo a ponto de que a gente interfere, sim, no pop global. Se teve Beyoncé em Salvador é porque tinha Batekoo, BaianaSystem, e muitos outros movimentos culturais. Se teve Madonna e Lady Gaga é porque aqui tem uma cena eletrônica queer muito forte e que é de vanguarda", afirma CARNEOSSO.

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