Como a IA do Google está derrubando acesso a sites de notícias

O acesso a sites de notícias está caindo drasticamente depois que o Google implementou um chatbot que resume a resposta de uma pesquisa, logo no topo da página. Grandes jornais, como Wall Street Journal e The New York Times, mostram os efeitos disso no mercado de mídia: "Deixando de ser busca para se tornar mecanismo de respostas", disse presidente executivo da The Atlantic.

O que aconteceu

Resumo do Google gerado por IA substitui as buscas tradicionais e reduz clique no URL, afetando a circulação. O tráfego de pesquisa orgânica caiu pela metade em sites como HuffPost e Washington Post, segundo a Similarweb - empresa de dados de mercado digital.

Queda no acesso é coletiva e afeta jornais tradicionais, como Wall Street Journal e The New York Times. Neste último, o tráfego de pesquisas orgânicas vindos do computador e celular caiu de 44%, há três anos, para 36,5% em abril de 2025.

Avanço rápido de respostas sem redirecionamento "é séria ameaça ao jornalismo e não deve ser subestimada". William Lewis, editor e diretor-executivo do Washington Post fez alerta sobre a funcionalidade - que resume resultados, diminuindo a necessidade de acesso a links com informações completas. Ele explicou que o periódico "está agindo com urgência" para se conectar diretamente com o público e buscar novas fontes de receita.

Google "deixa de ser um mecanismo de busca para se tornar um mecanismo de respostas". É o que defende Nicholas Thompson, presidente executivo do Atlantic. Em entrevista ao The Wall Street Journal, ele afirmou ser necessário que o veículo elabore novas estratégias de negócios ao assumir que o tráfego de usuários vindos do site de pesquisa possa cair para zero.

Com demissões, investimento em apps a ações na Justiça, empresas tentam diminuir perdas com IA

A diminuição de acessos levou a demissões no Business Insider, que desligou 21% da equipe em maio. Mudança na estrutura aconteceu após acessos ao site cairem 55% entre abril de 2022 e o mesmo mês de 2025. A medida foi a forma encontrada pela empresa para ajudar o jornal a "suportar quedas extremas de tráfego fora de nosso controle", segundo a CEO, Barbara Peng.

Mas empresas também estão focando em construir confiança com leitores e gerar tráfego habitual e direto. Sherry Weiss, do Wall Street Journal, enfatizou a importância de garantir que os clientes venham diretamente ao site por necessidade. O Dotdash Meredith, que abriga marcas como People e Southern Living, viu a dependência do Google Search cair para cerca de um terço do tráfego total e passou a investir em newsletters e outros esforços para aumentar os acessos.

Já a revista Atlantic está investindo em melhoras no aplicativo e mais eventos ao vivo para fortalecer relações com leitores. As receitas de assinaturas e publicidade estão aumentando, segundo Thompson.

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NY Times buscou a Justiça contra violação de direitos autorais. No fim de 2023, o jornal processou o Google e a OpenAI, criadora do ChatGPT, por violação de direitos autorais.

AI Mode pode mudar ainda mais as buscas

Tela de iPhone com o Modo IA (AI Mode, em inglês) na busca do Google
Tela de iPhone com o Modo IA (AI Mode, em inglês) na busca do Google Imagem: Getty Images

Google introduziu resumos de IA que diminuíram o tráfego para guias de férias e dicas de saúde. O lançamento do AI Mode nos EUA, que responde a consultas em estilo chatbot, deve intensificar essa queda. A atualização é vista como uma forma da empresa competir com outros aplicativos de inteligência artificial.

Novo sistema gera respostas com a consolidação de vários links que o Google lê e a partir dos quais organiza as informações ao usuário que perguntou. A empresa diz que seu mecanismo consegue ler centenas de páginas e processar informações para gerar um "relatório a nível de especialista", com referências completas. Chama a atenção que o resultado são tabelas, imagens e o detalhamento solicitado na busca.

Aos poucos, a empresa quer fornecer mais respostas diretas para as pessoas e reduzir a tarefa de clicar em links. Há alguns anos, a empresa já tem feito resumos dependendo da busca realizada, porém este movimento que começou nos EUA indica uma mudança maior. Com isso, há chance de reduzir o clique em links de páginas referenciadas na busca e sites jornalísticos, que dependem de veiculação de publicidade, devem perder tráfego, enquanto a resposta aparece direto no Google.

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Executivos do Google afirmaram ao Wall Street Journal que a empresa continua comprometida em direcionar o tráfego. Segundo a empresa, quem entra em um link específico após o resumo, geralmente passa mais tempo no site.

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