Como Briatore foi banido da F1 por trapaça e virou todo-poderoso na Alpine
Ler resumo da notícia

A notícia como um todo foi uma surpresa: o chefe da Alpine, Ollie Oakes, pediu demissão em meio a um plano incomum, para dizer o mínimo, de trocar Jack Doohan por Franco Colapinto, deixar o australiano na equipe e reavaliar quem fica com a vaga após cinco corridas.
Mas o que chama atenção ao grande público é o nome mais famoso dessa história. Flavio Briatore, que já estava dando as cartas na Alpine desde o ano passado, agora vai acumular a função de conselheiro executivo com a de chefe de equipe.
Ou seja, ele vai voltar, 17 anos depois, à posição que ocupava quando instruiu Nelsinho Piquet a bater de propósito para favorecer a estratégia do então companheiro de Renault, Fernando Alonso, que acabou vencendo o GP de Singapura de 2008.
É justamente por causa deste caso que Felipe Massa foi à justiça comum no Reino Unido para tentar comprovar que os chefes da F1 na época tinham elementos suficientes para terem cancelado o resultado daquela prova, o que lhe daria o título daquele ano, em caso que está em trâmite. Massa liderava aquela corrida e perdeu suas chances de vitória por um erro no pitstop feito justamente durante o período de Safety Car causado pela batida de Nelsinho.
O caso só foi descoberto e julgado um ano depois. Inicialmente, Briatore foi banido da F1 pela Federação Internacional de Automobilismo, e a FIA indicou ainda que não daria superlicenças para os pilotos empresariados por ele - entre eles, o próprio Alonso. Mas não demorou para Briatore conseguir reverter a sentença na Justiça comum.
Briatore já estava mandando na Alpine desde o ano passado
Mesmo que tenha sido banido apenas por poucos meses efetivamente, Briatore ficou bastante tempo fora dos holofotes, até voltar a frequentar o paddock nos últimos anos. Não surpreendeu, portanto, quando ele foi anunciado como conselheiro da Alpine, mesma equipe da trapaça de 2008, em meados do ano passado.
Ele foi trazido por Luca de Meo, CEO da Renault, que queria alguém que pudesse revitalizar o time, que passou por várias mudanças administrativas nos últimos anos. Uma das primeiras decisões de Briatore foi drástica: acabar com a operação de motores dos franceses, que passarão a ser equipados com os Mercedes ano que vem.
Estava claro desde aí o tamanho do poder com o qual Briatore voltava, que se estendia para os pilotos. Ele voltou a ser muito mais ativo na gestão de carreiras de pilotos e foi quem levou o argentino Colapinto sob empréstimo da Williams para a Alpine no começo desse ano.
Como explicar essas mudanças de pilotos na Alpine?

O objetivo era claro: pressionar Jack Doohan, que tinha ficado com a vaga de titular muito pelo temor do time de ver um repeteco do que aconteceu com Oscar Piastri, piloto com três títulos em três anos, que foi perdido para a McLaren e que hoje é líder do campeonato pela demora da Alpine em assinar seu contrato.
Briatore chegou a cortejar Sainz pela vaga mas, sem sucesso, decidiu assegurar o australiano e já trabalhar em um substituto. Ao mesmo tempo, assumiu o controle da carreira do australiano.
Outra decisão do italiano foi de não dar uma despedida para Esteban Ocon, substituído antes da última prova do ano passado, colocando Doohan na fogueira de ter menos de uma semana para se preparar para sua primeira corrida na F1.
Colapinto foi contratado em janeiro e fez testes privados com a Alpine, enquanto Doohan, desde sua primeira coletiva de imprensa, no lançamento da temporada da F1, já convivia com perguntas sobre seu futuro.
Ele não pontuou nas seis primeiras corridas do campeonato, e bateu duas vezes na primeira volta (na primeira corrida, na Austrália, e no último fim de semana, em Miami). É bem verdade que a Alpine não começou bem, e seu companheiro, Gasly, bem mais experiente, só pontuou uma vez até aqui.
Colapinto é um piloto veloz, ainda que errático, e traz mais patrocínio e é uma personalidade muito mais vendável do que Doohan. Então a decisão foi testá-lo por cinco provas, e ver se ele continua causando muitos acidentes ou conseguiu domar sua velocidade - até porque, na F1, há a máxima de que não dá para fazer de um piloto constante alguém rápido, mas dá para fazer um piloto rápido também constante.
Ao australiano, restou ficar na equipe e esperar novamente uma oportunidade, até porque os pilotos Alpine também são pilotos Briatore, e ele vai mexer com suas posições como se fossem marionetes, como já fez até com resultado de corrida em sua longa carreira na Fórmula 1.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.