Como tornar os carros elétricos mais acessíveis no Brasil

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A frota de veículos elétricos no Brasil chegou a 374 mil em 2024, de acordo com dados da Neocharge, empresa especializada em carregadores elétricos. O número, uma pequena parcela dos 63 milhões de veículos do país, é quase o dobro do registrado em 2023, confirmando a expansão dos EVs no país.
O que segura a expansão dos veículos elétricos no Brasil?
Atrás apenas da dificuldade de carregamento, o valor de aquisição é o segundo fator que mais preocupa o brasileiro na hora de comprar um carro elétrico, de acordo com uma pesquisa da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Em geral, a bateria é o componente mais caro dos veículos elétricos. "O mundo ainda faz pesquisas no desenvolvimento do modelo ideal de bateria, para que o custo seja menos elevado e agregue mais benefícios ao consumidor", diz Antônio Jorge Martins, coordenador dos cursos da área automotiva na FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Para Roberto Marx, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), a tendência é de queda nos preços dos EVs. "Ainda não sabemos em quanto tempo isso acontecerá, especialmente com os avanços nas baterias", diz.
A queda progressiva dos preços dos elétricos também é apontada pelo WRI (World Resources Institute), instituto de pesquisa focado na proteção do meio ambiente e no desenvolvimento econômico. "O advento dos carros elétricos é relativamente recente e, como esperado, os preços têm diminuído progressivamente à medida que esse mercado se consolida e expande", diz Magdala Satt Arioli, gerente de descarbonização do transporte do WRI Brasil.
Apesar dos custos altos, Fabio Delatore, professor das áreas de Sistemas de Controle e de Eletrônica Automotiva e propulsão elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia, vê um movimento positivo do mercado nos últimos anos. "Quando carros elétricos chegaram, um veículo de entrada custava R$ 300 mil. Hoje, a gente consegue ter carros que competem de igual para igual com preços (por volta de R$ 100 mil) que tornam acessível a escolha de um veículo elétrico", diz.
Além disso, Magdala, do WRI, destaca que a economia gerada pelos veículos elétricos compensa os custos altos de aquisição. "No caso dos ônibus elétricos, o custo de operação e manutenção é mais baixo, de modo que a diferença de preço da tecnologia 'se paga' ao longo da vida útil do veículo", diz.
Como melhorar o cenário?
Para os especialistas, o governo brasileiro pode ter um papel importante na redução desse custo, como já aconteceu em outros países, através de incentivos fiscais.
"Na Califórnia, se você troca a janela da sua casa por uma que tem isolação térmica, você ganha desconto no imposto de renda. Quando os EUA trouxeram incentivo, as pessoas migraram do clássico americano para o elétrico, tendo como principal motivador o incentivo fiscal", afirma Delatorre.
No Japão, por exemplo, há uma tendência de popularização dos kei cars, veículos pequenos, acessíveis e simples. De acordo com o professor Marx, o governo japonês estimulou essa categoria por meio de isenção de impostos e facilitação de acesso a áreas restritas. "Eles fazem muito sucesso, chegam a vender 200 mil por ano, um número razoável", diz.
O professor da USP comparou essa iniciativa com a experiência brasileira nos anos 1990, quando os carros 1.0 ganharam popularidade, e destacou que a França estuda adotar uma estratégia semelhante.
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