Tony Marlon

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Opinião

Contra a maré, Filipe Luís critica naturalização das apostas

O técnico do Flamengo, Filipe Luís, sabia que o indiciamento do atacante Bruno Henrique pela PF por suspeitas envolvendo apostas esportivas apareceria em algum momento. Acabou sendo a primeira pergunta da entrevista coletiva de quinta-feira, após a vitória rubro-negra por 6 a 0 contra o Juventude, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro.

Filipe, que até outro dia estava fora da curva dentro do campo de jogo, mostra a cada nova conversa com a imprensa que é diferente também fora dele. Gente que amplia o nosso jeito de perceber o mundo, deixa perguntas. E isso merece a nossa atenção, dado o colapso ético dos chamados ídolos do futebol masculino hoje em dia. Dentro e fora das partidas.

Em sua resposta, o técnico do rubro-negro carioca resgatou uma imagem de sua infância para, didaticamente, explicar que o mundo nunca é, ele está sendo. E que é nossa responsabilidade coletiva entender os contextos e trabalhar para mudá-los, quando ele não parece cuidar de nós, a sociedade, como deveria.

"Quando eu era novo, assistia à Fórmula 1 com o meu pai e todos os carros tinham uma propaganda de cigarro. Hoje já não pode mais", relembrou Filipe, convidando nosso olhar para questionar se, na próxima geração, as pessoas não estarão espantadas com a naturalização que foi dada às apostas online, algo que altera tanto a dinâmica da sociedade quanto o comportamento pessoal. "Ainda não temos a real noção do que está acontecendo", disse.

Estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostrou que, entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros botaram cerca de R$ 68 bilhões em apostas online. Um recorde. Uma coisa puxa a outra, e esse e outros estudos mostram que as apostas afetam diretamente a renda das famílias. Suas prioridades do mês. Não para por aí.

Pesquisa do Datafolha contou que 30% das pessoas que fazem apostas online têm entre 16 e 24 anos. O problema, como aponta uma reportagem de Ludimila Honorato em VivaBem, é que com esta idade a área do cérebro humano que constrói discernimento e capacidade de julgamento sobre as apostas não está plenamente formada.

Filipe Luís entende a sua responsabilidade como figura que influencia jeitos de pensar e de agir. Especialmente entre as juventudes. Por isso é tão importante registrar o que ele trouxe. Não veremos muitos outros jogadores ou dirigentes fazerem o mesmo.

"Eu já recebi várias ofertas para fazer propaganda de casas de apostas. Não faço, porque eu sei o dano que é para as pessoas que apostam, né? É um vício, é uma droga, infelizmente", afirmou.

Dos 20 clubes da primeira divisão masculina do Brasileirão, 18 têm uma empresa de apostas como patrocinadora principal da camisa. Inclusive o Flamengo. A marca estava atrás do técnico durante a entrevista. É saudável que andem assim, tão próximas?

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O negócio das apostas, seja essa modalidade em que os resultados do seu clube de coração fazem parte do apelo da coisa toda, seja naquele clássico dos jogos de azar, com máquinas programadas e tudo mais, é uma questão de saúde pública. Deveria ser encarada assim.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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