Mil km sem carregar: os novos carros elétricos que estão chegando ao Brasil

Todos os estudos que analisam o mercado de carros elétricos no Brasil trazem um ponto em comum: eles venderiam mais se os consumidores não tivessem medo de ficar sem bateria.

As baterias de estado sólido buscam resolver isso, mas ainda levarão alguns anos para chegar. Dessa forma, o Brasil acabará dando nova chance a uma tecnologia dos primeiros EVs: os carros elétricos com alcance estendido (ou extensor de alcance), agora também chamados de REEVs.

BMW i3 foi o primeiro elétrico alcance estendido no Brasil
BMW i3 foi o primeiro elétrico alcance estendido no Brasil Imagem: Divulgação

O BMW i3, um dos primeiros eletrificados do país, adotava a tecnologia, que consiste em usar exclusivamente o motor elétrico para tracionar o carro, enquanto o motor a combustão serve para recarregar as baterias.

À época, isso era necessário porque a tecnologia de baterias era pouco avançada. Sem o alcance estendido, o i3 rodava pouco mais de 100 km. Com o motor de scooter queimando gasolina, ganhava-se mais 225 km.

Agora o contexto é outro: o Leapmotor C10 — SUV chinês da Stellantis — chega ao mercado nacional no segundo semestre.

Ao volante, condutor do C10 sempre terá a sensação de conduzir um elétrico (pois é isso que acontece)
Ao volante, condutor do C10 sempre terá a sensação de conduzir um elétrico (pois é isso que acontece) Imagem: Divulgação

O C10 puramente elétrico (BEV) tem motor elétrico de 218 cv tracionando o carro e autonomia que excede os 400 km. Já o C10 REEV roda quase mil km e com a mesma dirigibilidade, já que é o mesmo motor de 218 cv que cuida da tração.

Além disso, ele é mais barato; não à toa, as vendas da Leapmotor dobraram na China após a introdução da sua gama de REEVs.

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Tendência global e no Brasil

A brasileira WEG já trabalha em um extensor de alcance junto à Horse — joint venture da Renault e da Geely. Inicialmente, os motores 1.0 turbo de 116 cv feitos em Curitiba serão usados micro-ônibus da também brasileira Volare.

Volare 8 usará motor 1.0 turbo a etanol para recarregar suas baterias e inicia a era dos extensores de alcance vem veículos pesados
Volare 8 usará motor 1.0 turbo a etanol para recarregar suas baterias e inicia a era dos extensores de alcance vem veículos pesados Imagem: Divulgação

Se o Brasil vive uma invasão de montadoras chinesas, há chances reais de que os elétricos com alcance estendido ganhem força no mercado nacional. Isso porque praticamente todas as marcas chinesas já anunciaram planos ou têm REEVs à venda, com 30 modelos previstos para 2025. Além disso, vê-se potencial no setor de veículos pesados aqui.

As grandes exceções são a Nio e a GWM, cujo vice-presidente mostrou, literalmente, odiar a tecnologia. "Eu preferiria morrer do que lançar veículos elétricos com alcance estendido", brincou Mu Feng em coletiva no Salão de Xangai.

Exeed Exlantix ES tem versão com tração integral e autonomia de 1.645 km graças ao extensor de alcance
Exeed Exlantix ES tem versão com tração integral e autonomia de 1.645 km graças ao extensor de alcance Imagem: Divulgação
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Mesmo no país onde mais há carregadores rápidos no mundo, o alcance dos automóveis sem tanque de gasolina ainda incomoda muito, diz relatório da consultoria Hub of China.

Outro detalhe importante é que, com baterias menores, os carros com gerador a gasolina podem custar até R$ 20.000 a menos.

Mas até montadoras americanas apostam na tecnologia, e a nova geração eletrificada da Ram 1500 terá a variante de alcance estendido como a principal. A startup de picapes Scout, da Volkswagen, fará o mesmo.

É uma escolha cada vez mais útil para as caminhonetes elétricas como a Ford F-150 Lightning, que apresenta dificuldade de rodar mais de 300 km com a caçamba carregada e precisa baratear para que as versões de trabalho emplacarem nas vendas.

"Eu gosto muito dessa tecnologia", disse Jim Farley, CEO da marca, em recente conversa com investidores.

Vantagens de um REEV

Um estudo da Universidade de Tecnologia de Shenzhen analisou a matemática por trás dos veículos elétricos com tanque de gasolina. Nele, conclui-se que um litro de gasolina queimado em um REEV é até 25% mais eficiente do que se consumido por um carro a combustão convencional.

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A principal razão disso é que o motor-gerador mantém sempre a faixa de operação de maior eficiência, enquanto o motor de tração oscila por toda a faixa de rotações e cargas. O calor do gerador também pode ser usado para aquecer a cabine em países frios.

Nos EUA, Scout usará range extender para que seus clientes possam desbravar trilhas distantes do carregador mais próximo
Nos EUA, Scout usará range extender para que seus clientes possam desbravar trilhas distantes do carregador mais próximo Imagem: Divulgação

Além disso, o peso do veículo não interfere na geração, e economiza-se com a ausência de uma transmissão automática completa.

O silêncio também é digno de elétrico, com o novo motor de REEVs da Xpeng, por exemplo, prometendo aumentar o ruído da cabine em apenas 1 dB enquanto funciona.

Híbrido ou elétrico?

Enquanto o mundo caminha para o consenso de que os elétricos de alcance estendido serão tendência, cresce a discussão sobre como classificá-los. Para alguns, um carro que tem motores elétricos e a gasolina (mas só utiliza o motor elétrico para movimentá-lo) é híbrido. Para outros, não.

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Na China, tais modelos são classificados como "veículos de novas energias", que é a mesma categoria dos elétricos comuns e dá acesso a benefícios tributários.

Nos Estados Unidos, o governo federal os coloca como híbridos plug-in, ao passo que estados como a Califórnia têm programas de incentivo que colocam os REEVs junto aos BEVs.

Na Europa, por sua vez, há privilégios de elétricos que não se estendem aos carros de alcance estendido, como a circulação por zonas urbanas de zero emissão. Enquanto isso, novos REEVs chegarão ao Brasil como sempre foram classificados: híbridos plug-in.

"Acredito que, com a popularização dessa tecnologia, haverá adequação da Lei para atendê-la mais adequadamente", disse uma fonte do Ministério do Meio Ambiente com conhecimento da matéria.

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