Mulher vai à Justiça após ser demitida e perder carro que ganhou em sorteio

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Uma auxiliar contábil viralizou nas redes sociais após relatar a experiência traumática que viveu ao ganhar um carro em um sorteio promovido pela empresa onde trabalhava.
O que chama atenção no episódio - que deveria ser motivo de comemoração, mas acabou na Justiça - é que o veículo recebido por Larissa Amaral, de 25 anos, apresentou defeitos que têm sido alvo de queixas de outros consumidores desde 2021 por defeitos mecânicos.
Segundo Larissa, o carro em questão, um Jeep Compass Longitude 2017, começou a apresentar problemas pouco depois da entrega, obrigando-a a gastar cerca de R$ 10 mil em consertos.
Mais tarde, ela foi demitida, o que deu início a uma disputa que envolve questões trabalhistas e de defesa do consumidor.
O que diz a funcionária

Em suas redes sociais, Larissa Amaral contou que participou do sorteio promovido pela Quadri Contabilidade durante a festa de fim de ano da empresa, em dezembro de 2024. Segundo ela, o prêmio foi anunciado como um "carro novinho" avaliado em mais de R$ 100 mil.
Pouco depois de receber o Compass, Larissa afirmou que surgiram diversos problemas mecânicos, que exigiram gastos para reparos. De acordo com seu relato, o carro tinha histórico de sinistro, o que não teria sido informado pela empresa, e já apresentava desvalorização de cerca de 40% no mercado.
"Estava muito bom para ser verdade. Expectativa: carro 'novinho' que vale mais de R$ 100 mil. Realidade: Tabela Fipe abaixo de 100 mil, carro com sinistro (a empresa alegou que não sabia), entregue sem revisão e apresentando problemas logo que peguei", escreveu Larissa em suas redes.
Segundo ela, os problemas se acumularam até que foi identificado um defeito no motor. Ainda de acordo com o relato, para manter o direito à posse definitiva do prêmio, seria necessário permanecer na empresa por 12 meses, atingir metas específicas e participar de campanhas de arrecadação organizadas em nome da Quadri - muitas vezes com recursos próprios ou angariados por ela mesma.
"Imagina você ganhar algo e ter obrigação de todos os dias se cobrar, se avaliar e gastar em nome de uma empresa para manter algo que você ganhou, absurdo", escreveu.
Larissa afirma que tentou negociar o reembolso dos gastos com manutenção, mas acabou sendo demitida. Também relatou que o carro foi recolhido pela empresa mesmo estando em processo de transferência para seu nome.
Esta coluna procurou Larissa para comentar o caso, mas até agora ela não respondeu.
Histórico de reclamações
O caso ocorreu em meio a um histórico de reclamações envolvendo o Compass - ainda que não seja possível afirmar, com base nos dados disponibilizados, que os defeitos do Compass sorteado sejam os mesmos relatados em outras unidades do SUV médio.
Desde 2021, proprietários relatam, em redes sociais e em órgãos de defesa do consumidor, falhas em unidades do modelo, como defeitos na transmissão automática, no motor e panes elétricas.
Em 2022, o Ministério Público Federal e o Ministério Público de Minas Gerais ingressaram com uma Ação Civil Pública de R$ 50 milhões contra a Jeep, pedindo o recall ou a recompra de veículos Compass fabricados a partir de 2018. A ação apontou 22 tipos de defeitos, incluindo falhas no câmbio, no sistema de freios e no motor.
Embora a ação judicial trate formalmente dos Compass produzidos a partir de 2018, especialistas destacam que muitos dos sistemas e componentes que apresentaram falhas são compartilhados com versões anteriores.
A Stellantis, grupo que controla a Jeep, sempre negou a existência de vícios de produto ou problemas crônicos nos modelos e afirma que seus veículos atendem às normas de segurança e qualidade vigentes.
O que diz a Quadri Contabilidade
Por meio de nota, a Quadri Contabilidade declarou que o sorteio fez parte de uma campanha interna de incentivo, com regras claras para a transferência definitiva do veículo. A empresa afirma que a posse do Compass dependia do cumprimento de metas e da manutenção do vínculo empregatício por 12 meses, conforme regulamento assinado pela funcionária.
Segundo a Quadri, o veículo permaneceu em seu nome para resguardar questões legais até a efetiva conclusão da campanha. Sobre os defeitos mencionados, a empresa informou que o Compass passou por vistoria antes do sorteio e que, na ocasião, apenas foi recomendada a troca da bateria, realizada antes da entrega.
A empresa também afirmou que ofereceu à funcionária a opção de devolver o carro logo após a identificação dos primeiros problemas, sem qualquer ônus, mas que Larissa optou por realizar os reparos por conta própria.
A Quadri Contabilidade sustenta que a demissão ocorreu por "questões éticas e comportamentais" documentadas internamente, e não em função das reclamações sobre o veículo. Além disso, a empresa disse que tentou resolver a questão de forma amigável, mas que Larissa, representada por advogado, optou por judicializar o caso.
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