É verdade que masturbação eleva testosterona, mas tira vontade de transar?

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A masturbação é uma prática comum, natural e saudável quando feita com equilíbrio. Ainda assim, muitas pessoas — especialmente jovens — se perguntam se ela pode influenciar os níveis de testosterona ou até mesmo a libido.
A resposta curta é: não há evidências científicas sólidas de que a masturbação aumente ou diminua os níveis de testosterona de forma significativa ou duradoura. "Existem trabalhos antigos mostrando a possibilidade de que o sexo afetaria os níveis de testosterona, mas nenhum estudo mais robusto ou bem feito comprovou isso", fala o urologista Alex Meller.
Meller explica que, para ter vontade de se masturbar, é necessário, primeiro, ter bons níveis de testosterona —que estão ligados ao desejo. "Além disso, é preciso que o sistema esteja funcionando bem como um todo, e que haja um estado psicológico favorável, pois a masturbação também envolve mitos. Questões de cunho religioso podem afetar especialmente os jovens, levando-os a se sentirem mal com isso, o que pode interferir até na ereção", diz o médico.
O que entendemos é que, para haver desejo de se masturbar, além dos fatores psicológicos, é necessário ter bons níveis de testosterona. Alex Meller, urologista
O que diz a ciência
Um estudo publicado em 2021 no periódico Basic and Clinical Andrology analisou se a masturbação influencia os níveis hormonais, especialmente a testosterona, em homens jovens. A pesquisa comparou três cenários: masturbação com estímulo visual, apenas estímulo visual (sem masturbação) e uma condição neutra (sem estímulo ou masturbação).
Os resultados mostraram que tanto a masturbação quanto o estímulo visual foram capazes de neutralizar a queda natural da testosterona livre que ocorre ao longo do dia. No entanto, esse efeito foi pequeno e temporário. Não foram observadas mudanças significativas nos níveis de testosterona total, cortisol ou nas proporções entre esses hormônios.
A conclusão dos pesquisadores é que a masturbação pode ter um efeito passageiro sobre a testosterona livre — a parte da testosterona que está "solta" no sangue e é a forma ativa que realmente entra nas células e faz efeito no corpo. Porém, não altera de forma relevante ou duradoura os níveis hormonais no corpo.
Diminui a libido?
"Um paciente que se masturba uma vez por dia, ou dia sim, dia não, pode ter a libido aumentada, porque ele tem mais contato com o tema. O sexo se mantém presente na vida dele", fala o urologista e sexólogo Danilo Galante. "Por outro lado, se pegarmos um paciente compulsivo, que se masturba três, quatro, cinco vezes por dia, ele pode ter uma queda na libido sim."
A masturbação pode se tornar um problema quando vira uma compulsão, ou seja, quando a pessoa sente que não consegue mais controlar a frequência ou depende disso constantemente para lidar com emoções como ansiedade, estresse ou tédio.
É normal que, após a masturbação, a pessoa fique um período sem vontade de se masturbar ou mesmo de se relacionar. "Mas se ela fizer isso cinco ou seis vezes ao dia, praticamente não vai ter vontade. Nesse caso, a masturbação atrapalha a libido", diz Galante.
Além disso, esse comportamento compulsivo pode interferir na rotina diária, nos estudos, no trabalho e nos relacionamentos interpessoais, tornando-se uma fonte de culpa, isolamento ou frustração.
Os benefícios da masturbação
Quando praticada de forma equilibrada, a masturbação é uma forma saudável de explorar o corpo, aliviar o estresse, melhorar o sono e até contribuir para a saúde da próstata.
"A masturbação pode ser usada como uma forma de se conhecer, de entender onde é o ponto que dá mais satisfação e maior tesão, por exemplo", destaca o urologista e sexólogo Danilo Galante. Segundo ele, também é uma forma de entender a sua relação com o orgasmo e ter controle sobre, por exemplo, ejaculação precoce.
No caso da saúde da próstata, estudos indicam que a ejaculação regular pode estar associada a um menor risco de desenvolver câncer de próstata, possivelmente por ajudar a eliminar substâncias potencialmente nocivas acumuladas na glândula.
Pornografia e masturbação
Outro ponto importante é quando a masturbação está associada ao uso excessivo de pornografia. Os especialistas explicam que o consumo frequente de conteúdo pornográfico pode afetar negativamente a percepção de prazer e intimidade, criando expectativas irreais sobre o sexo e o corpo dos parceiros.
Com o tempo, isso pode levar à diminuição da libido, disfunção erétil (especialmente com parceiros reais) e dificuldade de se excitar sem o estímulo visual da pornografia. Além disso, o uso exagerado pode desvalorizar conexões afetivas reais e levar ao distanciamento emocional.
Testosterona baixa: como identificar e o que fazer?
Quando os níveis de testosterona estão realmente baixos, os sinais mais comuns incluem:
Queda de libido;
Dificuldade de ereção;
Fadiga constante;
Falta de motivação;
Aumento da gordura abdominal;
Redução da massa muscular;
Irritabilidade e alterações de humor.
Se esses sintomas persistirem, é essencial procurar um médico — geralmente um urologista ou endocrinologista — para realizar exames hormonais e investigar a causa.
Fontes: Alex Meller, urologista, professor da Escola Paulista de Medicina/Unifesp e membro do corpo clínico do Hospital Vila Nova Star; Danilo Galante Moreno, urologista e sexólogo, graduado em medicina na Unifesp, especialista em urologia pela Unesp, membro titular da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), pós-graduado em cirurgia robótica pelo Hospital Oswaldo Cruz - SP, com doutorado na USP.
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