Só homem ronca? E tem solução? Veja mitos e verdades sobre o problema

Durante o dia, os músculos das vias respiratórias garantem que a respiração aconteça normalmente. Mas, à noite, durante o sono, essas estruturas relaxam, e a garganta fica mais estreita e, portanto, sujeita a vibrações durante a passagem do ar — e aí vem o ronco.

Por causa dessas características anatômicas, todas as pessoas podem roncar em algumas situações, como durante um quadro de gripe. Mas até que ponto o ronco pode ser considerado normal? VivaBem consultou especialistas para responder a essa pergunta e esclarecer os mitos e dúvidas mais comuns sobre o assunto. Confira a seguir.

Só os homens roncam

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MITO. Cerca de quatro em cada dez pessoas roncam. Apesar de ser mais comum entre os homens por questões hormonais e anatômicas —o pescoço deles tem circunferência maior —, crianças, idosos e mulheres (principalmente após a menopausa) também podem roncar.

Em todos esses grupos, esse é um sinal de alerta que merece ser investigado por especialistas em Medicina do Sono — a maioria é otorrinolaringologista, mas pneumologistas, psiquiatras, neurologistas, pediatras e clínicos podem ter essa formação também

Evitar álcool ajuda

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VERDADE. Bebidas alcoólicas relaxam a musculatura, alteram a função respiratória e dificultam o despertar —fatores que agravam o ronco. Controlar o consumo é ainda mais importante em casos de Apneia Obstrutiva do Sono (AOS), a forma mais comum da condição, que causa interrupções na respiração e queda na oxigenação do sangue. Em condições normais, o corpo reage a essas situações despertando ou mudando de posição para restabelecer a respiração. Mas o álcool atrapalha esse mecanismo de defesa, o que pode piorar a apneia.

Quem ronca tem apneia

PARCIALMENTE VERDADE. Nem todo ronco é sinal apneia, mas os dois podem, sim, estar relacionados. Quando a apneia está presente, o ronco costuma ser mais intenso e contínuo e vem acompanhado de pausas na respiração —seguidas por um ronco forte, como se a pessoa estivesse "voltando" de um sufocamento. Essas interrupções impedem a oxigenação adequada do corpo e, com o tempo, aumentam o risco de problemas sérios, como hipertensão, infarto e AVC.

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Ronco pode ser efeito de remédio

VERDADE. Medicamentos que reduzem a ansiedade ou induzem o sono podem diminuir a atividade respiratória e piorar o ronco —especialmente em doses mais altas. É o caso de benzodiazepínicos, opioides e alguns relaxantes musculares. Se você notar alterações no sono depois de começar a usar esse tipo de remédio, fale com seu médico para avaliar ajustes e preservar o repouso noturno.

Dormir de lado é bom

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PARCIALMENTE VERDADE. Em casos mais leves, mudar de posição na hora de dormir pode ajudar a reduzir o ronco. Isso porque, ao adormecer de barriga para cima, a língua tende a tombar para trás, obstruindo a passagem de ar pela faringe. Mas, em casos mais avançados ou quando a causa do ronco é outra, essa estratégia sozinha pode não ser suficiente para resolver o problema.

Perder peso não funciona

MITO. A obesidade é um fator de risco importante, mas não é o único. O ronco também pode estar ligado a outras condições, como aumento das amígdalas ou da língua, desvio de septo, rinite, hipotireoidismo e alterações na estrutura óssea da face. Ainda assim, o excesso de peso favorece o acúmulo de gordura na região do pescoço, o que estreita as vias aéreas —e esse é o principal fator associado à AOS. Por isso, perder peso faz parte do tratamento e pode ajudar a reduzir o problema.

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Doenças crônicas têm tudo a ver

PARCIALMENTE VERDADE. O ronco isolado não é o problema, mas pode indicar a presença de apneia do sono — e é aí que mora o risco. A apneia é marcada por pausas na respiração durante o sono, que provocam despertares frequentes e fragmentam o descanso. Esse sono interrompido impede o completo relaxamento orgânico, que é essencial para regular funções como a pressão arterial, a frequência cardíaca e a respiração. Com o tempo, o avanço da apneia está associado a doenças cardiovasculares e ao agravamento de doenças metabólicas, como diabetes.

Ronco tem jeito, sim

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VERDADE. O tratamento do ronco é sempre individualizado e pode envolver diferentes abordagens, aplicadas de forma conjunta ou em etapas. Entre elas estão o uso de aparelhos intraorais, CPAP (equipamento que facilita a respiração durante o sono) e exercícios miofasciais. Mas atenção: qualquer estratégia adotada deve ter como objetivo melhorar a respiração nasal. A solução definitiva pode envolver o tratamento de doenças de base, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, cirurgias —como a correção de desvio de septo, redução dos cornetos nasais, remoção de adenoides ou intervenções na faringe, base da língua e estrutura óssea da face.

Fontes: Clélia Franco, neurologista com atuação em Medicina do Sono, integrante da direção nacional da ABS (Academia Brasileira do Sono), preceptora de Neurologia do HC-UFPE/Ebserh (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, que integra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), e da UPE (Universidade de Pernambuco); Edilson Zancanella, otorrinolaringologista com Certificação em Medicina do Sono/AMB, coordenador do Conselho de Governo da ABS e do Conselho de Governo da WSS (Sociedade Mundial do Sono) e do Serviço de Distúrbios do Sono - IOU/UNICAMP (Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço, vinculado à Universidade Estadual de Campinas); George do Lago Pinheiro, otorrinolaringologista com atuação em Medicina do Sono, membro titular da ABS, coordenador médico do Laboratório do Sono do Hospital Ruben Berta e também de cursos do NICS (Núcleo Interdisciplinar da Ciência do Sono); Ivy Trindade Suedam, professora de fisiologia da FOB-USP (Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo), cirurgiã dentista e coordenadora da Unidade de Estudos do Sono da mesma instituição (USP-Bauru); e estudos Obstructive Sleep Apnea e An evidence-based approach to the management of snoring in adults.

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