O que acontece no seu corpo quando a menopausa chega

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Até o momento a ciência ainda não conseguiu explicar totalmente porque algumas mulheres passam pela menopausa com poucas queixas, enquanto a maioria apresenta sintomas intensos que atrapalham o dia a dia. O que é certo é que a cessação dos ciclos menstruais vai acontecer para todas elas, sinalizando o final da idade reprodutiva.
Considerada natural, a chegada da menopausa decorre da redução da produção de hormônios importantes pelos ovários, especialmente o estrogênio, marcando a data da última menstruação.
Esse evento poderá acontecer em qualquer momento durante o climatério, período que começa aos 40 anos e se estende até os 65 anos, mas antes e depois da menopausa, implicações clínicas e consequências de curto, médio e longo prazo poderão ser observadas.
A irregularidade menstrual geralmente aparece perto dos 46 anos; os fogachos, por volta dos 47.
No Brasil, a idade média da menopausa é 48 anos. Dados publicados na revista médica Climateric. Nos EUA, aos 51 anos.
80% das mulheres vivenciam os sintomas associados, mas eles variam em intensidade.
Cerca de 1 bilhão de mulheres no mundo estarão na menopausa ou no período de pós-menopausa em 2030.
Os efeitos no seu corpo
Como existem receptores de estrogênio espalhados por todo o corpo, a falta desse hormônio afetará praticamente todos os sistemas do organismo.
As manifestações esperadas poderão ser mais intensas nos primeiros 5 anos do climatério, podendo durar de 7 a 8 anos após a menopausa. Uma minoria, porém, poderá vivenciá-los além desse período.
Confira os quadros que mais incomodam as mulheres:
Corpo em chamas
As alterações decorrentes da falta de estrogênio na região do SNC (Sistema Nervoso Central) que regula a temperatura corporal faz que a perda de calor aconteça de forma errática. É aí que aparecem os chamados fogachos ou ondas de calor.
Cerca de 80% das mulheres terão esse sintoma.
A sensação de calor repentino pode durar de segundos a alguns minutos, ou até mais.
As ondas de calor podem aparecer esporadicamente, acontecer várias vezes ao longo do dia e até à noite.
Irritabilidade, insônia, fadiga, sensação de mal-estar podem acompanhar o quadro.
Álcool, tabaco, obesidade, sedentarismo e estresse emocional agravam o sintoma.
De acordo com um artigo publicado na revista médica Best Practice & Research Clinical Obstetrics & Gynaecology, os fogachos podem incomodar de 1 a 6 anos, e até mesmo durar por 15 anos em cerca de 15% de mulheres após a menopausa.
Mudança no andar de baixo
Com as alterações hormonais, 50% a 70% das mulheres passam a apresentar sintomas e sinais na vagina e uretra, antes inexistentes.
O conjunto dessas manifestações caracteriza a SGM (Síndrome Geniturinária da Menopausa).
O quadro é mais frequente após a menopausa, mas pode aparecer também durante a transição. As queixas associadas ainda podem ser mais comuns quando os fogachos, finalmente, dão uma trégua. Saiba reconhecer os sintomas:
Secura ou ressecamento vaginal, coceira (prurido), ardência, corrimento vaginal, dor e sangramento durante as relações sexuais (dispareunia e sinusorragia, respectivamente). O desejo sexual pode reduzir.
Dor ao urinar (disúria), aumento da frequência de urinar (polaciúria), sensação de bexiga cheia, ainda que ela esteja vazia, além de esvaziamento incompleto da bexiga.
Como o quadro relacionado à uretra é semelhante a uma infecção urinária, para confirmar a SGM, um exame de urina deve ser solicitado. Se ele der negativo, confirma-se a SGM.
Importante saber que a incontinência urinária não se relaciona ao declínio dos estrógenos ou à menopausa, mas pode estar associada a fatores como aumento da idade, obesidade, diabetes, além de mudanças nas estruturas locais.
Noites e noites em claro
Alterações no padrão do sono é outra queixa constante entre as mulheres após a menopausa, mesmo entre aquelas que fazem reposição hormonal e as que sentem fogachos.
Dificuldade para pegar no sono, despertar antes do horário planejado e acordar várias vezes durante a noite geralmente estão presentes.
De acordo com a literatura médica - mulheres brancas e negras acordam mais durante a noite, enquanto as de origem hispânica têm menos problemas para dormir. Dados do estudo SWAN, publicado pelo periódico médico Menopause.
O esqueleto sofre
A saúde dos ossos está associada ao estrogênio. Portanto, a sua falta provoca um desequilíbrio que resulta em perda óssea, aumentando a probabilidade de osteoporose. Esta, por sua vez, facilita fraturas. Punho, quadril e coluna são as regiões mais afetadas.
Após os 40 anos, tanto homens quanto as mulheres perdem massa óssea, mas depois da menopausa a perda é maior para as mulheres, o equivalente a mais de 20%.
1 em cada 10 mulheres, com idade superior a 60 anos, é afetada pela osteoporose no mundo todo. Dados da Endocrine Society.
Coração bandido
O estrogênio funciona como elemento de proteção contra as doenças cardiovasculares. Sem ele, os níveis de LDL - o colesterol "ruim" tendem a subir, facilitando o aparecimento da aterosclerose (doença que leva ao acúmulo de gordura, cálcio e outras substâncias na parede das artérias).
Eventos como infarto, AVC (Acidente Vascular Cerebral), entre outras doenças cardiovasculares podem acontecer.
Mulheres até a 3ª década de vida têm menos doenças desse tipo quando comparadas aos homens.
Lá pela 4ª ou 5ª década, para cada 2 homens com doenças cardiovasculares, existe 1 mulher com o mesmo problema.
Na 6ª década, a prevalência delas se iguala: para cada 1 homem existe 1 mulher com esse tipo de enfermidade, ou seja, após a menopausa, sem a proteção hormonal, a prevalência da doença se torna igual em ambos os sexos.
Nervos à flor da pele
Receptores de estrogênio no SNC logo reclamarão da falta de suprimentos para regular o humor e aspectos da cognição.
Irritabilidade, raiva, ansiedade, tensão, depressão, perda da concentração e da autoestima e autoconfiança podem ser observadas.
Entenda a diferença da pré x pós-menopausa
O climatério é dividido em antes e depois da menopausa, evento que marca a última menstruação.
O período anterior a ela é definido como pré-menopausa ou transição menopausal.
Pós-menopausa é o tempo posterior à cessação dos ciclos menstruais.
Já a perimenopausa compreende toda a fase de transição e vai até 1 ano após a data da última menstruação.
Síndrome climatérica é um diagnóstico que se faz durante o climatério (período que começa aos 40 anos e se estende até os 65 anos), quando os sinais típicos que incomodam as mulheres estão presentes.
Nessa fase é que se iniciam as irregularidades menstruais que evoluirão para o fim das menstruações.
Como lidar?
Até o momento, a Terapia Hormonal é reconhecida como a abordagem mais eficiente para tratar os sintomas da menopausa.
Como todo medicamento, ele pode ter efeitos colaterais, mas também pode trazer benefícios.
As contraindicações são precisas. Por isso, é preciso que seu médico faça uma análise detalhada sobre seu histórico e suas condições de saúde.
Com esses dados em mãos, será possível pesar riscos e benefícios e saber se você é uma boa candidata para beneficiar-se da reposição hormonal.
Detalhe: essa terapia tem momento certo para começar: antes dos 60 anos de idade e nos primeiros 10 anos após a data da última menstruação. Os médicos se referem a esse período como janela de oportunidade.
Os especialistas consultados ressaltam ainda que a terapia hormonal é apenas uma parte do tratamento dos sintomas da menopausa. Para lidar melhor com tantas mudanças, o ideal é investir em um estilo de vida saudável ao longo da vida.
Quando possível, chegar à menopausa sem doenças crônicas, ou com elas controladas, faz toda a diferença na hora de enfrentar os típicos incômodos.
Como fica quem não pode fazer reposição
Nesses casos, o seu médico poderá indicar medicamentos específicos, como antidepressivos, que reduzem os fogachos, além de outras classes de medicamentos, como os anticonvulsivantes.
Já para os sintomas vaginais que, por vezes, são as únicas queixas da mulher, sugerem-se cremes vaginais contendo hormônios, hidratantes e lubrificantes.
Existem alguns fitoterápicos que reduzem os fogachos, mas as pesquisas científicas sobre eles não são conclusivas porque esses produtos variam em suas composições e doses.
Evite automedicar-se com eles. Fitoterápicos não são isentos de efeitos colaterais. Além disso, pessoas que não podem usar hormônio, também não podem usar fitoterápicos para esse fim.
Converse com seu médico para tirar suas dúvidas sobre essa estratégia e decida, junto com ele, a melhor forma de driblar os incômodos.
Tirei o útero, vou ter sintomas?
Quem se submete a uma histerectomia - a retirada do útero - para de menstruar. A última menstruação antes do procedimento é denominada menopausa cirúrgica.
A ausência da menstruação é o único efeito que ela causa.
Ao alcançar a idade do climatério e da menopausa, todos os sintomas associados podem aparecer, exceto as alterações menstruais.
Pessoas que tiveram seus 2 ovários retirados cirurgicamente (ooforectomia bilateral) terão todos os sintomas da síndrome climatérica, imediatamente após a cirurgia.
Ainda tenho de fazer "papa" e mamografia todo ano?
De acordo com orientações do MS (Ministério da Saúde), do INCA (Instituto Nacional do Câncer) e da Comissão Nacional de Climatério da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), o exame de papanicolau, hoje conhecido como citologia cervical, deve ser feito até os 64 anos de idade.
No entanto, para que isso aconteça a partir dos 65, é preciso ter tido 2 exames negativos consecutivos, nos últimos 5 anos.
Quanto à mamografia, o MS e o INCA recomendam que ela seja feita até os 69 anos. Já a FEBRASGO, indica que a interrupção do rastreio do câncer de mama dependerá da expectativa de vida de cada paciente.
Caso você tenha chegado aos 70, mas a sua expectativa de vida é menor que 7 anos, você não precisará mais fazer o exame. Do contrário, ele deve ser feito anualmente até segunda ordem.
Dicas para driblar o desconforto
Cada mulher viverá essa fase da vida a seu modo, mas os especialistas são unânimes: eduque-se sobre o climatério e adote um estilo de vida saudável para chegar nessa fase da vida em boas condições de saúde.
Quando os incômodos chegarem, coloque em prática as seguintes medidas:
Visite regularmente um ginecologista - ao menos 1 vez ao ano.
Anote perguntas e temas que gostaria de discutir com ele para aproveitar ao máximo a consulta.
Tire todas as suas dúvidas e fale claramente sobre seus receios em relação à reposição hormonal.
Previna doenças crônicas como a obesidade e o diabetes ou mantenha essas enfermidades sob controle.
Adote uma alimentação saudável, rica em cálcio (leite e seus derivados), aumente a ingestão de líquidos, reduza o consumo de café e álcool.
Invista em atividade física, como caminhadas. Associe exercícios de musculação.
Exponha-se ao sol ao menos 3 vezes a cada semana, por 10 a 15 minutos, e no horário das 10h às 16h. Caso isso não seja possível, converse com seu médico sobre a necessidade da suplementação da vitamina D.
Previna quedas: use sapato de salto baixo para as atividades do dia-a-dia; instale um interruptor de luz perto da cama para acendê-lo à noite, quando precisar levantar; coloque um tapete antiderrapante no banheiro e, se possível, barras de proteção; substitua escadas por rampas; evite o uso de tapetes em casa.
Afaste o isolamento social participando de atividades em grupo, que previnem a solidão e a depressão. Procure por grupos em serviços de saúde, na sua comunidade ou associações religiosas. Na medida do possível, a ideia é passear, viajar, dançar, ir à praia, ir ao shopping e reunir-se com as amigas, nem que seja para tomar um cafezinho.
Fontes: Lucia Helena Simões da Costa Paiva, presidente da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), professora titular de ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Maria Célia Mendes, mestre e doutora em ginecologia e obstetrícia, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP-USP/FAEPA (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e coordenadora do Ambulatório de Climatério do Climatério da SBRH (Sociedade Brasileira de Reprodução Humana), membro da Comissão de Climatério da Febrasgo; Michelle Sena, médica ginecologista e obstetra do Ambulatório de Climatério do MEAC-UFC/Ebserh (Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará, que integra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), além de supervisora da residência médica em ginecologia e obstetrícia da mesma instituição. Revisão médica: Michelle Sena.
Referências: Ministério da Saúde, Endocrine Society.
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