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O que acontece no seu corpo quando você faz crioterapia

Imagem: Suellen Gomes/Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

23/04/2025 05h31

O uso do frio como estratégia de tratamento é definido como crioterapia. Essa técnica possui variadas indicações, como o alívio de espasmos musculares, dor lombar ou inflamação, mas suas principais aplicações se dão na área da dermatologia.

Utilizada para tratar diferentes tipos de lesões de pele —benignas ou não benignas— pode também ser chamada de criocirurgia, a depender dos objetivos terapêuticos. Na maioria das vezes a prática destrói a lesão, é segura, e ainda oferece resultados efetivos.

Como não existem contraindicações absolutas para esse tipo de tratamento, ele pode beneficiar a maioria das pessoas. As únicas exceções são alguns quadros como a presença da urticária ao frio, da doença de Raynaud [uma alteração que leva à contração dos vasos] e a insuficiência vascular avançada —situações que poderiam dificultar a cicatrização.

A técnica foi inicialmente descrita nos anos 1800. Trata-se de um procedimento totalmente físico, portanto, não há chance do aparecimento de alergia.

Os seus resultados estéticos são reconhecidos como muito bons, na maioria dos casos.

Os efeitos na sua pele

Dadas as suas características, a crioterapia é capaz de destruir as lesões, mas ela é considerada um procedimento menos invasivo quando comparada a outras técnicas cirúrgicas.

  • A lesão literalmente congela

De forma microscópica, o congelamento promovido pela crioterapia gera a formação de cristais de gelo dentro e fora das células.

Dá-se início um efeito cascata: ocorre uma alteração nas membranas celulares que modifica a vascularização local.

Tal processo leva à formação de coágulos (trombos). E isso gera danos nas estruturas da região tratada (necrose).

No primeiro momento do congelamento, a pele fica branquinha; ao descongelar, ela se torna vermelha e pode ser obervado algum inchaço (edema).

Na sequência, podem aparecer bolhas (por vezes momentâneas) que darão origem a uma ferida, ou se transformarão em uma casquinha —a depender da maior ou menor quantidade do criógeno (substância que promove o congelamento) utilizado.

  • A dor aparece, pero no mucho

Por se tratar de uma técnica que usa o frio, também funciona como anestésico. Daí os médicos afirmam que, a depender do tipo e extensão da lesão, a picada da anestesia local poderá ser mais intensa do que a dor causada pelo procedimento.

Após o descongelamento, porém, ocorre uma vasodilatação reflexa: os vasos dilatam e isso promove uma dor pulsátil que tem duração de 24 a 48 horas. A sensação por vezes é descrita como parecida a de uma queimadura.

Localizações específicas podem ser mais sensíveis, como as pontas dos dedos dos pés e das mãos. Para aliviar a sensação dolorosa são indicados analgésicos, além de manter pés e mãos elevados.

  • Complicações acontecem, mas raramente

Considerada a complicação mais comum da crioterapia, a despigmentação da pele pode aparecer. Como o procedimento destrói os melanócitos —células encarregadas da coloração da pele— a região tratada pode ficar mais clara.

Na maioria das vezes, porém, tudo volta ao normal, principalmente entre pessoas com a pele mais morena. No entanto, a depender da intensidade do tratamento, o local pode ficar sem pigmentação para o resto da vida.

Embora não sejam tão frequentes, outras complicações são esperadas: o aparecimento de bolhas grandes e dolorosas. Quando esse tipo de bolha aparece, a ordem é não rasgar nem arrancá-las. Forçar o rompimento facilita infecções.

Caso elas estejam muito tensas, porém, pode ser necessário fazer uma limpeza com álcool 70% e perfurá-las com uma agulha estéril. A medida ajuda a reduzir a pressão local.

Entenda como se dá o congelamento

Para esfriar a região que será tratada é necessário o uso de criógenos. Entre os diferentes tipos deles, destacam-se o gás nitrogênio, o gás carbônico e outros gases comprimidos.

O mais frequentemente usado é o gás nitrogênio líquido, porque ele alcança uma temperatura igual a -196°C.

A maioria dos especialistas dispõe de um aparelho que tem um recipiente que funciona como uma garrafa térmica.

Ele possui um sistema que permite dosar a saída da substância. Isso ajuda a controlar o volume de nitrogênio conforme a necessidade.

É a partir desse processo que se dá a destruição seletiva da área de pele a ser tratada.

As lesões que ela trata

Existe uma variedade enorme de indicações para esse tipo de procedimento. Confira algumas delas:

Lesões benignas: verrugas, molusco contagioso, lentigo solar, etc.

Doenças infecciosas: como verrugas, molusco contagioso, micetoma, etc.

Tumores benignos: como a queratose seborreica, etc.

Lesões pré-malignas: queratose actínica e a queilite actínica.

Lesões malignas: carcinomas basocelulares superficiais ou carcinomas espinocelulares, mas também superficiais.

A crioterapia também pode ser uma alternativa útil no tratamento de pacientes que tenham comorbidades que representem um risco para outros tipos de tratamentos cirúrgicos.

Vou ter de repetir o procedimento?

Isso depende do tipo e da extensão da lesão. Em geral, quando se trata de apenas uma lesão, a solução do problema se dá em uma única sessão. Já nas situações em que as lesões são múltiplas, é frequente que o tratamento se repita 2, 3 ou 4 vezes, com intervalos de 30 dias entre eles.

O tempo de cicatrização

Espera-se que a cicatrização aconteça entre 1 e 3 semanas. Se o tratamento for leve, a cicatriz estará "pronta" em 7 dias.

Conforme as características da lesão, o tratamento pode ser mais pesado, a formação de bolha é esperada e, nesses quadros, o mais comum é que a cicatrização ocorra em até 3 semanas.

Já em casos de câncer de pele e lesões situadas em áreas nas quais a circulação é mais lenta, como na perna, a cicatrização pode levar de 1 até 2 meses.

Apesar de a cicatriz posterior à crioterapia tender a ser plana [atrófica], e a técnica ser também utilizada para o tratamento de cicatrizes hipertróficas e queloide, há pequena probabilidade de que ocorra este tipo de cicatrização no local.

Dá para fazer crioterapia em casa?

Os especialistas consultados sugerem que, ao perceber alguma lesão ou alguma modificação na aparência da sua pele, o melhor a ser feito é procurar por uma avaliação médica.

A razão para isso é que diagnósticos precisos oferecem a possibilidade de escolha do melhor tratamento para cada pessoa.

O uso de substâncias com efeitos crioterápicos em casa poderia ter como resultado danos à pele (queimaduras, por exemplo), agravamento de sintomas ou mesmo o atraso do diagnóstico de lesões malignas.

Não confunda crioterapia com criolipólise

Embora ambas as técnicas utilizem o frio como meio de tratamento, a crioterapia objetiva principalmente o tratamento de lesões dermatológicas, enquanto a criolipólise visa tratar a gordura localizada.

Saiba como colaborar com o tratamento

Os especialistas consultados afirmam que a melhor forma de colaborar com esse tipo de tratamento é seguir as orientações médicas, que se resumem nas seguintes medidas:

Mantenha a região limpa: você pode tomar banho normalmente.

Evite romper a bolha porque ela funciona como uma espécie de curativo biológico.

Fique longe da exposição solar porque tal prática aumenta o risco de formação de uma cicatriz escura.

Faça curativos de acordo com a orientação do seu médico, caso sejam necessários.

Fique de olho em qualquer mudança que indique a presença de infecção ou agravamento da lesão. Nessas situações, converse com o seu médico o mais rápido possível.

Fontes: Ana Lísia Giudice, médica dermatologista pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia). É preceptora do serviço de residência médica em dermatologia do Hupes-UFBA (Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Curt Treu, coordenador do Departamento de Cirurgia da SBD; e Roberto Gomes Tarlé, médico dermatologista, doutor em ciências da saúde, professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUC-PR e dermatologista da Santa Casa de Curitiba. Revisão técnica: Curt Treu.

Referências:

Prohaska J, Jan AH. Cryotherapy in Dermatology. [Atualizado em 2023 Set 15]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482319/

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