Empresas brasileiras são esmagadoramente lideradas por homens, diz estudo

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A igualdade de gênero ainda está distante do comando das principais empresas no Brasil, apontou a Pesquisa Panorama Mulheres 2025, realizada pelo Instituto Talenses Group em parceria com o Insper e divulgada esta semana.
O que aconteceu
Das 310 empresas de diferentes setores e portes estudadas, 224 possuem presidência formalizada — mas apenas 39 são lideradas por mulheres. Isso representa apenas 17,4% do total e reflete uma estagnação no avanço feminino rumo ao comando das companhias que operam no país. O número é inferior à média mundial, de 29% de empresas lideradas por mulheres, segundo o Global Gender Gap Report 2023, do Fórum Econômico Mundial.
De 61 empresas geridas por conselhos ativos, apenas 17,1% das cadeiras são ocupadas por mulheres. E a representatividade é uma luta de poucos: em 57,4% destes conselhos não há nenhuma mulher. Mesmo entre empresas que assumiram compromissos públicos (38,7%) ou práticas ESG (ambientais, sociais e governamentais) de responsabilidade (54,2% atualmente, queda dos 59% de 2022), as mulheres têm papel pequeno. Só 29,2% têm políticas de promoção a mulheres em cargos estratégicos.
Companhias terão que correr contra o relógio. Novas exigências regulatórias da B3 e da Comissão de Valores Mobiliários obrigarão até 2026 que empresas em todos os níveis de listagem da Bolsa de São Paulo tenham pelo menos uma mulher e um membro de comunidade sub-representada no conselho de administração ou diretoria.
As exigências regulatórias representam um avanço importante, mas não podem ser vistas como solução única. A presença feminina nos conselhos ainda depende, em grande parte, da vontade política das empresas. Sem metas claras, critérios objetivos e compromisso real da alta liderança, o risco é que a inclusão se limite ao cumprimento formal da regra, sem gerar transformação estrutural. Carla Fava, diretora-executiva do Instituto Talenses
Desigualdade de gênero se intensifica na distribuição de cargos mais altos nas empresas. Em 2024, mulheres ocuparam apenas 20% dos cargos de vice-presidência, uma grande queda em relação aos 34% registrados em 2022. Já nas diretorias, um pouco abaixo na pirâmide hierárquica, a presença delas cresceu de 26% para 30%. No total, 58,9% das empresas não possuem nenhuma mulher na vice-presidência e 32,5% não têm diretoras.
Mulheres tendem a ascender à liderança mais como empreendedoras do que através da carreira corporativa tradicional. Segundo a pesquisa, este se tornou um caminho alternativo para elas: se não pode vencê-los, crie uma empresa nova. Por isso, cerca de 36% das mulheres estão à frente de negócios com até 200 colaboradores, enquanto 40% dos homens lideram grandes organizações com mais de mil funcionários.
Empreender é uma forma de contornar esses obstáculos e construir o próprio espaço de liderança, com mais autonomia e menos dependência de estruturas que historicamente excluem as mulheres. Carla Fava
Empresas lideradas por mulheres tendem a ter maior presença feminina em todos os níveis de liderança. Curiosamente, 61,7% das presididas por homens adotam estratégias ESG, enquanto este número é de 59% entre aquelas comandadas por mulheres.
Na prática, contudo, o cenário se inverte: apesar de elas não terem maior estruturação institucional comprometida com estes padrões, as empresas lideradas por mulheres têm mais planos de ação de igualdade de gênero. Estas medidas estão presentes em 64,1% das companhias de liderança feminina contra 60,7% daquelas com liderança masculina.
Além disso, 90% das presidências analisadas, tanto femininas quanto masculinas, são ocupadas por pessoas brancas. Mulheres indígenas, negras e amarelas seguem invisíveis, portanto, nestes espaços, segundo o estudo.
No ritmo atual, a paridade de gênero levaria mais de 160 anos para ser alcançada. Historicamente, homens chegam à presidência com mais facilidade porque têm maior acesso a redes de poder e oportunidades de promoção, aponta o relatório. Estruturas corporativas foram criadas por homens e para homens.
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