Estelionato sentimental: mulheres acusam youtuber de golpes milionários

Em 22 de junho de 2024, Alessandra* lavrou boletim de ocorrência em uma delegacia de polícia da região central da cidade de São Paulo. A denúncia era de crime de estelionato.

Há dois meses, o caso veio a público no programa "Balanço Geral", da TV Record. A reportagem não informava o nome do namorado de Alessandra, mas trata-se de Fernando Drummond Fernandes, supostamente advogado por formação e apresentador de lives e programas em canais no YouTube, meio pelo qual ela o conheceu.

Alessandra não foi a única mulher que se envolveu com Fernando e acabou por se ver em um relacionamento que gerou prejuízos financeiro e emocional, o que levou as vítimas a procurarem a Justiça para serem ressarcidas.

Conforme a reportagem apurou, são, pelo menos, cinco mulheres em situações semelhantes.

Procurado pela reportagem, Fernando negou todas as acusações, dizendo-se vítima de "uma organização criminosa que quer acabar com a minha vida". Segundo ele, conforme será detalhado abaixo, o que houve foram empréstimos feitos por elas, que ele não tem como pagar no presente momento, mas pretende fazê-lo assim que tiver condições.

Veja, abaixo, o que afirmam as vítimas, o que elas demonstraram na Justiça, e o que afirma o acusado a respeito de cada um dos casos.

Rolex, Frigobar e mais de R$ 1 milhão

Durante o período da pandemia de covid, Alessandra - atualmente com 51 anos - passou a assistir a lives sobre política em seu computador enquanto mantinha-se em isolamento, no bairro de Campos Elíseos, no centro de São Paulo. Em uma dessas transmissões, em setembro de 2022, conheceu Fernando Drummond.

"Em um primeiro momento, enviei mensagens ao programa. Depois, as conversas migraram para o aplicativo 'WhatsApp'", narrou Alessandra à polícia.

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Durante as conversas, Fernando me disse que sofria de depressão e ansiedade. Eu disse que sofria das mesmas coisas, e então fomos ganhando intimidade, compartilhando detalhes e sentimentos cada vez mais íntimos.

Com a intimidade, o afeto e os planos futuros juntos crescendo, Alessandra resolveu aceitar uma dica que Fernando vinha sugerindo: a de que ele passasse a gerir os recursos financeiros dela.

Fernando afirmou Alessandra que trabalhara como gerente do banco Bradesco por três anos. Contou possuir amplo conhecimento em administração financeira e, finalmente, convenceu a namorada a gerenciar o patrimônio dela.

As conversas constam em inquérito policial aberto em São Paulo e mostram momentos, no dia 17 de outubro de 2022, em que Fernando se inteirava sobre os investimentos que possuía a namorada, enquanto a convencia a entregar-lhe as chaves de suas finanças.

Assim, Alessandra passou para Fernando o controle de seus ativos financeiros. "Desde então, Fernando começou a solicitar transferências financeiras a Alessandra sob diversas justificativas", afirma Ana Paula Caliman, advogada da vítima.

Print de conversa de Fernando Drummond Fernandes com Alessandra*
Print de conversa de Fernando Drummond Fernandes com Alessandra* Imagem: Polícia Civil de SP
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Em 18 de outubro de 2022, ele pediu para que ela fizesse um super chat (doação em dinheiro para o canal de YouTube) em sua live, o que resultou na primeira transferência de dinheiro, um valor pequeno. Sempre dizendo que devolveria depois o valor, mas nunca devolveu, conta Ana Paula.

Em 23 de outubro de 2022, Alessandra viajou para o Rio de Janeiro para conhecer Fernando pessoalmente. No dia 24 de outubro de 2022, ela enviou prints de todos seus investimentos para o namorado. Os namorados ficaram juntos no Rio de 23 a 29 de outubro de 2022.

"Nesse intervalo, Fernando convenceu Alessandra a transferir o total de R$ 275.500 para sua própria conta, alegando que iria investir o valor de forma segura e rentável, e até hoje ela não teve qualquer retorno ou informações deste dinheiro", relata a advogada.

Ana Paula diz que, durante toda a estadia de Alessandra no Rio de Janeiro, Fernando tentou convencê-la a realizar baixa de alguns investimentos e vendesse ações para aplicar o dinheiro na conta que estavam abrindo, em agência próxima à residência dele:

"Ele importunava a namorada para irem a bancos, para que ela entrasse em contato com sua gerente em São Paulo, querendo que realizasse o máximo de transferências possíveis enquanto ainda estavam na mesma cidade".

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Dois dias depois de Alessandra voltar a São Paulo, Fernando pediu para que ela realizasse um Pix no valor de R$ 1 mil, para pagar uma pousada em que seu pai estaria hospedado. O valor seria a título de empréstimo, mas jamais foi devolvido.

Conversas anexadas ao inquérito policial mostram que Alessandra acabou por transferir R$ 1.200. Na ocasião, ela pediu que Fernando retirasse o montante dos R$ 275 mil de seus recursos que ele já administrava. Ele negou, disse que "não queria mexer naquele dinheiro".

Ela pediu então que ele cuidasse bem de seu patrimônio. Renovando as promessas de casamento, Fernando respondeu que cuidaria, sim, porque aquele dinheiro "seria deles".

Print de conversa de Fernando Drummond Fernandes com Alessandra*
Print de conversa de Fernando Drummond Fernandes com Alessandra* Imagem: Polícia Civil de SP

Sobre o que se passou depois disso, Ana Paula Caliman relata que Fernando continuou a manipular Alessandra emocionalmente para obter novas transferências.

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"Como por exemplo um dia em que o Fernando começou a conversar com a Alessandra, lamentando suas condições financeiras e questionando sua existência no mundo, insinuando que iria tirar a própria vida, fazendo com que a namorada se sentisse impelida a lhe emprestar mais dinheiro."

"Fernando falava que iria pegar dinheiro com o agiota, que precisava pagar uma dívida com seu tio/padrinho. Por fim, seu objetivo foi alcançado, Alessandra realizou no total uma transferência de R$ 190 mil, com a promessa que seria ressarcida no futuro, o que não aconteceu."

Entre 25 de outubro de 2022 e 19 de junho de 2023, Alessandra realizou várias transferências financeiras para Fernando, totalizando R$ 1.150.637,00.

Além das operações bancárias, ele induziu a namorada a gastar em presentes e despesas no cartão de crédito em seu benefício, alega a advogada da vítima.

Dentre as transferências, uma ocorreu para que a filho de Fernando fosse supostamente submetida a uma cirurgia na coração. Foram R$ 150 mil, em duas parcelas, em um único dia. Depósitos posteriores levaram o montante a R$ 221,5 mil, conforme relatório presente no inquérito policial.

Dentre os presentes solicitados por Fernando, constam um relógio Rolex e um frigobar. Em relação a este último, Alessandra disse inicialmente que não conseguiria comprá-lo, pois seu cartão havia estourado o limite. Fernando Drummond, então, lembrou à namorada que ela possuía outro cartão, este sem limites. Acabou ganhando o presente.

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Em outra ocasião, Fernando convenceu a namorada a presenteá-lo com um relógio Rolex, no valor de R$ 980.

Após mais de um ano atendendo aos pedidos de Fernando e sem ter qualquer informação sobre o dinheiro que ele deveria, Alessandra confrontou o namorado, que, imediatamente, rompeu o relacionamento e acusou a companheira de ser egoísta e "só pensar em dinheiro". O processo gerado pela denúncia de estelionato segue em tramitação na Justiça do Estado de São Paulo.

Procurado pela reportagem, Fernando disse:

"O que esta senhora falou é quase que totalmente inverdade. Digo quase, porque pedi um valor emprestado e combinamos que eu pagaria. No entanto, ela resolveu me processar. Eu pretendia pagar o que devo, mas se ela entrou no âmbito processual, pretendo pagar no (fim do) processo."

Casamento aos 73 anos e R$ 892 mil de prejuízo

Antes de Alessandra, Fernando foi casado com Alice*, outra mulher que foi à Justiça em busca do que alega ter perdido com Fernando. Quando o relacionamento teve início, ela tinha 72 anos. Ele, 35.

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Trata-se de uma ação judicial indenizatória por danos morais e materiais, protocolada na 38ª Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro, no dia 30 de agosto de 2022. Ele nem sequer se apresentou ao processo e foi condenado a pagar R$ 892 mil à ex-esposa, em 22 de agosto do ano passado. É uma decisão transitada em julgado, ou seja, não cabe mais recurso. A Justiça tenta encontrar bens em nome do devedor definitivo para ressarcir a vítima. Até agora, não teve sucesso.

Tudo começou quando Alice, moradora do bairro de Copacabana, no Rio, onde também mora Fernando, conheceu a mãe de Drummond, que apresentou um ao outro.

Ele se apresentou como escritor, roteirista, pai de duas filhas e figura pública com quase 1 milhão de seguidores nas redes sociais.

Alice estava com a saúde fragilizada, e, sem familiares próximos, procurava um cuidador para si mesma, após a retirada de um câncer de mama. Fernando a convenceu de que poderia fazer este serviço, e, contratado, passou a dormir na residência da idosa por dois, três, quatro e até cinco dias por semana.

Os advogados da vítima, Marcelo Ventura Rego e Daniel Medeiros Milne Jones, contaram à Justiça o que teria acontecido a partir dali:

Em dado momento, de forma premeditada ou não, Fernando, sabendo da condição de saúde da idosa, propôs transformar a relação profissional em afetiva, dando início a um namoro com nossa cliente.

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O relacionamento foi evoluindo e, dois meses depois, no dia 25 de junho de 2019, Alice foi convencida por Fernando a abrir uma conta corrente conjunta com seu namorado, que se dizia apaixonado e prometia casamento. Uma gerente do banco Itaú se deslocou até o domicílio de Alice, que estava acamada. De sua cama ela assinou os documentos necessários.

Já no dia da abertura da conta, Alice transferiu R$ 361.725,01 de uma outra conta que tinha no Banco do Brasil. Uma semana depois, depositou mais R$ 131 mil, como mostra extrato bancário anexado ao processo judicial. Veja reprodução abaixo (o nome e os dados da vítima foram ocultados pela reportagem).

 Alice abriu conta conjunta com Fernando, e nela depositou mais de R$ 300 mil em um dia
Alice abriu conta conjunta com Fernando, e nela depositou mais de R$ 300 mil em um dia Imagem: TJ-RJ

Conforme contabilizado no processo judicial que levou à condenação de Fernando, entre os dias 25 de junho de 2019 e 8 de abril de 2021, a então namorada de Fernando transferiu para a conta conjunta do casal um total de R$ 703.534,04.

Acreditando no seu ex-companheiro, Alice escreveu um testamento, deixando para Fernando tudo que ela possuía.

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Segundo os advogados da vítima, Fernando propôs a constituição de união estável em um cartório em Duque de Caxias.

Depois disso, ele se tornou agressivo, passando a cometer violência doméstica física, psicológica e moral contra a senhora Alice.

Ainda apaixonada, ela foi suportando as ofensas, mas refez seu testamento, retirando-lhe a condição de beneficiário, relatam os advogados.

As violências escalaram a partir daí. Em determinada ocasião, Fernando chegou a ameaçá-la com uma faca, e os vizinhos chamaram a polícia.

"Vulnerável e temendo pelo pior, ela acabou reagindo como a maioria das vítimas deste crime, dizendo ao policial que 'nada estava acontecendo'", contam Marcelo Ventura Rego e Daniel Medeiros Milne Jones.

O casal finalmente se separou em 21 de dezembro de 2021. Foi quando Alice começou a receber ligações do departamento de cobrança do banco Itaú. Ela, então, se dirigiu à agência bancária em que tinha a conta conjunta com Fernando, só para descobrir que não apenas haviam sumido os R$ 703 mil que ela depositara, como a conta estava com um valor negativo de R$ 188.496,47.

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Em um áudio anexado ao processo, Alice conversa com o funcionário do banco Itaú, que informou que Fernando tinha sacado tudo que estava depositado e, depois, havia se excluído da conta, deixando a vítima como única responsável pela dívida de R$ 188 mil.

No dia 22 de agosto de 2024, a juíza Milena Angelica Drumond Morais, da 38ª Vara Cível da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, proferiu sentença condenando Fernando a devolver tudo que tirara de sua ex-mulher.

De acordo com a magistrada, Fernando Drummond mostrou-se "sem escrúpulo", e ela determinou o pagamento de R$ 892.030,51 e de R$ 30.000 por danos morais, acrescidos de juros e correção monetária.

Até a publicação desta reportagem, a vítima não havia recebido um real de volta de Fernando.

Procurado pela reportagem, Fernando disse:

"Com relação às denúncias da Sra Alice, não há sequer um único extrato que comprove a movimentação que ela diz que eu fiz. Na realidade, há um áudio dela dizendo que só me processou porque eu 'disse que não a queria em minha casa nem como visita' (nota da reportagem: questionado se poderia apresentar o referido áudio, Fernando afirmou não mais possuí-lo, pois teria tido seu celular furtado). Eu me casei com ela porque estava apaixonado, ou homens só podem se apaixonar por mulheres mais novas? Decidi terminar o relacionamento porque ela tinha ciúmes demais."

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Namoro de quatro meses, agressões e prejuízo de R$ 124 mil

No dia 28 de abril de 2023, às 16h51, a administradora Luana*, então com 41 anos, chegou assustada à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher 1, na Asa Sul, em Brasília.

Ela contou aos policiais que teve um namoro com Fernando, entre os meses de agosto e dezembro de 2022 - mesmo período em que ele estava com Alessandra, a primeira vítima descrita nesta reportagem, e, concomitantemente, oferecia casamento a Luana.

Questionado pela reportagem se havia mantido relacionamentos afetivos simultaneamente com algumas das vítimas, Fernando disse, "Não! Jamais!".

O namoro teve início pela internet, mas eles logo se encontraram no Rio de Janeiro para onde Luana viajou a fim de conhecê-lo, e logo tiveram início os pedidos de dinheiro (que seriam apenas um empréstimo), sob a alegação de que estava sendo ameaçado de morte por credores criminosos.

Questionado sobre a situação, ele começou a pressioná-la e, sensibilizada, ela resolveu ajudá-lo fazendo transferências de R$ 14 mil, e de R$ 110 mil.

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Foi logo após esses depósitos que Luana foi para o Rio de Janeiro encontrar Fernando e se hospedou em um hotel da cidade, onde
permaneceu de 6 a 14 de outubro de 2022. Depois disso, por insistência do namorado, foi para a casa dele, onde permaneceu entre os dias 14 e 17, período em que relata à polícia ter sido frequentemente ofendida verbalmente.

No dia 17, então, Luana retornou a Brasília (para onde Fernando chegou a viajar posteriormente, com passagem paga pela vítima).

Passada uma semana, Fernando começou a se comportar de forma estranha, sempre dizendo que estava com problemas financeiros.

Com o tempo, Luana passou a desconfiar que estava sendo vítima de um golpe, e que jamais teria seu dinheiro de volta. Ela então pediu ele que pagasse o que lhe devia, "mas ele sempre se esquivava, dizendo que as contas dele estavam bloqueadas, em decorrência de problemas judiciais", explicou a vítima à polícia.

Começaram aí as ofensas contínuas por meio de conversas de WhatsApp. Fernando chegou a insinuar que ela havia dado o dinheiro a ele, o que não seria verdade. Quando Luana indagava sobre o dinheiro devido, ele dizia: "VOCÊ É UMA NOJENTA, CANALHA!". Ou dizia: "VOCÊ NÃO VALE A MERDA DE CAGA! VOCÊ É UMA MERCENÁRIA, MENTIROSA!"

Passados pouco mais de um mês, ao notar que não conseguiria convencer a vítima a lhe dar mais dinheiro, no dia 16 de dezembro de 2022, Fernando enviou mensagens à namorada, admitindo as dívidas, mas dizendo não ter como pagar naquele momento. Luana resolveu, então, terminar o relacionamento.

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Pressionado para pagar, no dia 21 de abril de 2023, Fernando lhe enviou um documento, dizendo ser um "ACORDO DE PAGAMENTO DE DIVIDA" para que entrassem em acordo. Na verdade, porém, o documento se tratava de um "TERMO DE DOAÇÃO", devidamente anexado ao inquérito policial, a que Universa teve acesso.

O inquérito policial levou a uma denúncia do Ministério Público do Distrito Federal contra Fernando. A Justiça, por sua vez, acatou a denúncia, dando origem ao processo judicial, atualmente em tramitação. Até a publicação desta reportagem, Luana não havia recebido um real de volta de Fernando.

Veja, abaixo, reprodução de algumas das conversas virtuais de Fernando com Luana, anexadas aos autos judiciais.

Conversas entre Fernando e a ex-namorada Luana *
Conversas entre Fernando e a ex-namorada Luana * Imagem: Tribunal de Justiça do DF e Territórios

Conversas entre Fernando e a ex-namorada Luana
Conversas entre Fernando e a ex-namorada Luana Imagem: Tribunal de Justiça do DF e Territórios
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Procurado pela reportagem, Fernando disse:

"Passei por dificuldades financeiras e ela ofereceu me ajudar com certa quantia. Eu aceitei e após o fim do relacionamento ela passou a me cobrar, o que mesmo assim fiz questão de pagar mas não tinha condições de pagar de imediato, e fiz uma proposta de pagamento parcelado, o que não foi aceito".

Medida protetiva contra Fernando, pai do seu filho

No dia 14 de junho de 2014, às 19h45, Rita Moura (nome fictício), ex-companheira de Fernando Drummond, se dirigiu à 10ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo. Munida de seu telefone celular e cheia de medo, ela pedia ajuda para manter o ex-namorado - com quem tem um filho - longe dela e sua casa.

É que, no dia 9 daquele mês, conforme mostrou aos policiais, ela havia recebido uma série de ofensas de Fernando por mensagens de WhatsApp. O motivo: ela vinha cobrando que ele pagasse a pensão do filho, de acordo com ela, sem sucesso. Assim ela descreveu a situação à polícia:

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"Que, na data de 09 JUN 2014, por volta das 15h45, estava em sua residência quando seu ex-companheiro FERNANDO DRUMMOND FERNANDES a insultou via e-mail com as seguintes palavras: 'calhorda, baixa, sem caráter e mentirosa'; Que esta não foi a primeira vez fatos ocorrem desde junho/2013;"

"Que FERNANDO é uma pessoa agressiva e toma medicamentos controlados para depressão (Fexor, Mirtazapina o Rivotril); Que FERNANDO está escrevendo um livro sobre serial killers, apesar de não ser escritor; QUE FERNANDO faz uso de bebida alcóolica e se queixava da declarante não fazer o mesmo;"

"Que FERNANDO não paga pensão alimentícia; QUE DESEJA REPRESENTAR CRIMINALMENTE CONTA O AUTOR DO FATO O FAZER USO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI MARIA DA PENHA. E nada mais disse nem lhe foi perguntado."

O caso foi levado à Justiça, que concedeu a medida protetiva a Rita. Desde então, Fernando está proibido de lhe contatar por mensagens de celular ou qualquer outro meio. Em setembro de 2014, ele tentou reverter em segunda instância a decisão protetiva, mas teve seu pedido negado por uma turma de desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, conforme mostra reprodução abaixo.

Procurado pela reportagem, Fernando disse:

"Ela é mãe do meu filho e fui elencado na Lei Maria da Penha por, em um e-mail, ter a chamado (sic) de 'mulherzinha mentirosa'. Não devo absolutamente nada a ela e pago a pensão mensalmente, sem problema nenhum.

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Intimidade exposta no livro "O Desempregado do Amor"

No ano de 2018, Fernando e dois colegas de faculdade escreveram um livro a seis mãos. Título: "O Desempregado do Amor".

Conforme o prefácio, o livro foi escrito com base em fatos reais vivenciados exclusivamente por Fernando e 21 mulheres que teriam se relacionado amorosamente com ele.

Uma delas é Bianca Nunes (nome fictício), que namorou com o protagonista por três meses. Na obra literária, que mistura ficção e realidade, ela é descrita como objeto sexual do autor e exposta a situações vexatórias e relato de intimidades.

De acordo com Bianca, Fernando inventou que ela era agredida por um ex-namorado, sugerindo que tinha "gosto por ser maltratada". Ainda segundo a vítima, a análise pessoal do protagonista não permite que o leitor diferencie a realidade da ficção, com a narrativa de fatos extremamente prejudiciais à sua honra e reputação.

Por causa disso, ela processou o escritor, que foi condenado, no dia 25 de abril de 2023, ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 30 mil. Bianca ainda não recebeu um centavo de Fernando.

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O livro "O desempregado do Amor", escrito por Fernando Drummond e mais dois colegas
O livro "O desempregado do Amor", escrito por Fernando Drummond e mais dois colegas Imagem: Reprodução

O referido livro indica que o protagonista cursava Direito na turma da manhã na UNIRIO, mesmos curso e faculdade de Bianca.

Ao longo do processo judicial, Bianca conseguiu provar que sua imagem foi abalada, uma vez que que muitos amigos reconheceram a personagem descrita na obra de Fernando, sem poderem distinguir o que era realidade do que era ficção.

Por causa disso, a juíza Maria Aparecida da Costa Bastos, da 51 Vara Cível do Rio de Janeiro, sentenciou:

"Ora, diante do prefácio e dos trechos transcritos, inclusive do capítulo com o nome da 1ª autora, denota-se que a demandante teve a intimidade, a vida privada e a honra violadas, já que o texto do livro a identifica e traz descrições de cunho sexual, além de afirmar que a mesma foi vítima de violência por parte de ex-namorado."

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Nesse contexto, verifica-se que o conteúdo do livro que diz respeito à 1ª autora ultrapassa o mero viés literário e artístico, tornando-se vexatório e difamatório, o que trouxe à autora o sentimento de violação de seus direitos da personalidade."

Até a publicação desta reportagem, Bianca não havia recebido um real da indenização devida por Fernando.

Procurado pela reportagem, Fernando disse:

"O livro foi lançado com TRÊS autores. Seria interessante, para melhor entender e se tiver boa fé, ler o livro e ver que o protagonista, sem nome dado na obra, leva um tiro no braço, começa o livro conversando com uma 'senhora do cabelo azul', dentre outras coisas totalmente ficcionais. Estou com problemas sérios de saúde mental por conta dos ataques incessantes que fazem e, caso eu seja condenado uma única vez na esfera penal, até seria viável entender tal matéria. Mas desta forma é de uma maldade que dizem combater."

A reportagem ainda ouviu relatos de extorsões e violência verbal de mais três mulheres que se relacionaram com Fernando Drummond. Por falta de provas judiciais (as três não foram à polícia ou à Justiça, por vergonha e por medo), elas não foram incluídas nesta reportagem.

*nomes fictícios para proteção da identidade das vítimas

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