'Criamos tecnologia que remove fraude de músicas por IA', diz CEO da Deezer
Fabrício Nobre
Do TOCA, em Londres
13/06/2025 15h57
Prestes a completar um ano de nomeado CEO da Deezer, o francês Alexis Lanternier fala ao TOCA em entrevista de edição especial do SXSW London sobre o trabalho da plataforma de música para identificar e combater fraude em relação ao conteúdo gerado por IA.
A Deezer criou uma nova tecnologia. Acho que por enquanto somos os únicos, mas estamos oferecendo essa tecnologia a qualquer um que quiser identificar essas músicas. Assim, somos capazes de identificar e remover [essas músicas de IA] de qualquer playlist ou recomendação, limitando o potencial de fraude. Alexis Lanternier, CEO da Deezer, em entrevista ao TOCA
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Muita discussão a ser feita
Alexis reconhece que a Inteligência Artifiical pode ser usada de forma positiva, inclusive já é usada pela Deezer: "A IA é uma tecnologia que está aí há algum tempo, mas está evoluindo muito rapidamente. Inicialmente, a Deezer usava Ia de maneira positiva: para melhorar busca, recomendações incríveis de música [ao usuário] baseado no seu gosto e no que as pessoas gostam".
Entretanto, o jogo vira quando se trata de algo gerado puramente por IA — ainda que sob comando humano: "A IA evoluiu para a IA generativa, temos o Chat GPT muito famoso de uns dois ou três anos. Mas há também aplicativos que conseguem gerar uma música, apenas com um prompt, basta escrever uma frase: 'escreva uma música, estilo rock, falando sobre o incrível pôr do sol na praia'. Em poucos segundos você tem uma música que parece de verdade".
Para o CEO da Deezer, essa possibilidade de criar músicas "praticamente verdadeiras" gerou muitas perguntas. Dentre elas algo que já é sentido pela plataforma e que levou a criação da ferramenta de conteúdo feito 100% por IA: a inundação de músicas geradas pela Inteligência Artificial.
Ele diz que todos os dias há dezenas de milhões de músicas colocados no catálogo: "Há uma questão óbvia e não há debate: quais são os fraudadores? Algumas pessoas tentam desviar o sistema de royalties criando centenas de milhares de músicas, tentando incluí-las em playlists e recomendações, e tentando reunir um pouco impulso".
Alexis entende que artistas usam IA como assistente ou parte de criação de seus trabalhos, por isso, no momento a Deezer se concentra nas fraudes: "Estamos nos concentrando naquilo que sabemos estar gerando essas fraudes. Há uma questão mais complexa: o que é criação artística? Quem detém a parte? Qual porcentagem de IA é aceitável e qual não é? Nesse aspecto, nã temos uma posição específica".
Segundo ele, o foco da plataforma é do que é 100% IA e fraude: "O resto é ferramenta de criação. Os artistas têm sido muito mais eficientes nos últimos anos e acreditamos que é algo positivo. A quantidade de músicas em nosso catálogo aumenta a cada semana. Foi de 150 mil três anos atrás para um milhão por semana agora. Para nós é incrível".
O francês diz que as empresas donas da IA querem que elas sejam treinadas sem qualquer tipo de pagamento: "Na minha opinião [isso] não deve acontecer, é errado. Acreditamos que a IA generativa é uma solução incrível, porque está treinando muito conteúdo, não é só música. (...) Mas se não compensarem o conteúdo, o conteúdo morrerá, então eles matariam o próprio negócio".
Para nós [da Deezer] é algo óbvio, que devemos implementar — e estamos falando de música, pois é nosso assunto. Mas devemos encontrar uma solução. (...) As ferramentas de IA generativa que treinam com conteúdo devem encontrar uma forma de compensar as pessoas que criam o conteúdo. Alexis Lanternier
Com forte presença no mercado brasileiro, o país é peça chave para a plataforma: "O Brasil é o segundo maior mercado para a Deezer. Temos uma equipe incrível e talentosa no Brasil — e temos equipe em apenas três países. Então, é um mercado importante. (...) É importante para o povo do Brasil dar play por outro ângulo, estamos 100% focados na música, essa é uma grande diferença".