Bangers Open Air termina com exaltação aos vários tons do metal

Sabe aquela pergunta clássica das aulas de sociologia: "Quantos brasis existem dentro do Brasil"? Bom, ela também pode ser feita com relação ao metal. E o terceiro e último dia do Bangers Open Air trouxe algumas (excelentes) respostas.
A jornada começou pelo death metal do HatefulMurder, um dos nomes mais relevantes do metal extremo nacional atual. O show, realizado dentro do auditório do Memorial, foi uma decisão acertadíssima da produção — acústica potente, ambiente escuro e foco total na performance. A vocalista Angelica Burns, uma força da natureza, exibiu um domínio impressionante da voz, alternando guturais profundos com agressividade crua. Tocaram clássicos como "Reborn" e "Crime e Castigo", além de faixas do novo álbum, "I'm That Power". No meio do set, improvisaram um wall of death — sim, no auditório. Apenas sensacional.
De lá, o clima mudou com o Paradise Lost, no Ice Stage, trazendo o peso gótico e a melancolia britânica à luz dura da tarde paulistana. A banda, que moldou o gothic/doom metal nos anos 90, entregou um set denso e atmosférico. Nick Holmes alternou entre vocais graves e guturais soturnos, mas infelizmente o volume do vocal ficou abaixo do ideal, comprometendo a experiência para quem estava no fundo. Ainda assim, surpreenderam ao incluir no repertório uma cover de "Smalltown Boy", do Bronski Beat, em versão sombria e arrastada.
Na sequência, o Ready to Be Hated assumiu o Waves com uma proposta completamente diferente: um supergrupo formado em 2024 por Luis Mariutti (baixo, ex-Angra e Shaman), Thiago Bianchi (vocal), Fernando Quesada (guitarra) e Rodrigo Oliveira (bateria). O som é um híbrido de metal alternativo, peso moderno e atitude. Mandaram "Something to Say" e "Searching for Answers", entre outras. O clima era de estreia — mas com pegada de veterano.
E se era peso que você queria, o nome mais esperado do dia estava no Ice Stage: Kerry King, agora em carreira solo, mas com a fúria intacta dos tempos de Slayer. Sua última visita ao Brasil foi em 2019, no Rock in Rio, com a turnê de despedida da antiga banda. Agora, com seu disco solo "From Hell I Rise" recém-lançado, detonou faixas como "Rage", "Trophies of the Tyrant" e "Residue". Entre um riff e outro, veio "Killers", do Iron Maiden, e — claro — "Raining Blood", clássico absoluto do Slayer, que provocou as maiores rodas do festival. Nada de conversa: só riffs cortantes e gratidão breve.

O Blind Guardian entrou em cena com uma missão distinta: levar o público para terras encantadas, castelos desmoronando e batalhas épicas. Não contente em dominar o festival no sábado, o power metal marcou presença no domingo com os veteranos alemães, que jogaram no seguro. Abriram com "Imaginations From the Other Side" e seguiram com "Blood of the Elves". "The Bard's Song" foi quase toda cantada pela plateia, superada em catarse coletiva apenas por "Mirror Mirror". Hansi Kürsch regeu o público como um verdadeiro contador de histórias — e foi ouvido como tal.

Glam metal foi representado por ninguém menos que o W.A.S.P., que transformou o Ice Stage numa máquina do tempo para a Sunset Strip. Com Aquiles Priester na bateria e Blackie Lawless como único remanescente da formação original, abriram com a gravação de "The End", dos The Doors, entre sirenes e imagens de arquivo projetadas no telão. Executaram o disco de estreia na íntegra, com aquela energia de malha colada, maquiagem carregada e riffs que desafiam o tempo. Lawless, diferente de muitos contemporâneos, ainda mantém os agudos firmes. Depois da viagem ao passado, vieram hits de outras fases da carreira. Foi mais que um show: foi uma celebração nostálgica com cheiro de couro, gasolina e rebeldia enlatada em fita cassete.
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