Flavia Guerra

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Reportagem

'Ainda Estou Aqui' conquista inédito Prêmio Platino de Melhor Filme

"Ainda Estou Aqui " levou o Prêmio Platino de Melhor Filme e se tornou o primeiro filme de ficção brasileiro a vencer o chamado "Oscar do cinema ibero-americano" na noite deste domingo em cerimônia realizada em Madri, na Espanha. Em um ano em que o cinema brasileiro vive, como se diz em espanhol e se comentou muito nos bastidores da festa, uma "buena onda", a premiação inédita é mais um ponto em uma cinematografia que se internacionaliza cada vez mais e, ao mesmo tempo, fortalece seu diálogo com o público brasileiro.

O longa levou ainda o inédito prêmio de Melhor Direção para Walter Salles e de Melhor Atriz em Longa para Fernanda Torres. Antes, Sônia Braga levou o Platino de Melhor Atriz por "Aquarius", em 2017. Nem Fernanda e nem Walter estiveram presentes na festa e o produtor do filme, Rodrigo Teixeira, recebeu os prêmios de direção e filme e agradeceu, lendo o discurso preparado pelo diretor: "Eu gostaria muito de poder estar presente nesta noite, mas, infelizmente, isso não foi possível, devido a compromissos de trabalho. Quero dizer que é uma honra imensa receber este prêmio. Sou fruto da cultura Ibero-americana, a Península Ibérica é minha segunda casa e esse reconhecimento reforça, em mim, o orgulho de fazer parte de uma força cultural que, no cinema, pariu artistas da dimensão de Luiz Buñuel e Pedro Almodóvar; Alejandro Inharitù e Alfonso Cuarón, de Ricardo Darín; Norma Aleandro, Penélope Cruz, Javier Bardem e Marisa Paredes, de Glauber Rocha e Fernanda Montenegro."

Teixeira também ressaltou que se trata de um prêmio para todo o cinema latino-americano e defendeu a união de quem produz cinema na Ibero-América. "É muito importante que nós latino-americanos e ibero-americanos trabalhemos em bloco porque nosso cinema e nossa televisão são muito maiores do que as pessoas dos Estados Unidos, por exemplo, pensam Esse é um prêmio para todos os países latino-americanos, não só para o Brasil, porque nós todos trabalhamos muito para ganhar prêmios como este", declarou o produtor ao subir ao palco para receber o Platino.

Luiz Bolognesi com o Prêmio Platino de "Melhor Criação de Série" para "Senna"
Luiz Bolognesi com o Prêmio Platino de "Melhor Criação de Série" para "Senna" Imagem: Divulgação

Em séries, "Senna", dirigido por Vicente Amorim e Julia Rezende, levou o Platino de "Melhor Criação de Série". Assinada por Luiz Bolognesi, Patrícia Andrade, Fernando Coimbra e Vicente Amorim, a série, disponível na Netflix, conquistou um prêmio concorrido, em uma categoria que tinha a favorita "Cem Anos de Solidão" entre os indicados. Escolha justa, pois "Senna" cria um universo novo, ainda que seja uma cinebiografia de Ayrton Senna, enquanto "Cem Anos de Solidão", também na Netflix, adapta o universo de Gabriel García Márquez para a tela.

"Estou muito feliz não só por mim, mas por todos que criaram a série comigo, Fernando Coimbra, Vicente Amorim, Patrícia Andrade, pelos produtores, Caio e Fabiano Gullane, mas sobretudo pelo cinema brasileiro, que é uma luta de resistência. Nós vínhamos num bom momento e o cinema brasileiro está um pouco abandonado desde que começou o governo Temer e o Bolsonaro. E infelizmente a Ancine (Agência Nacional do Cinema) ainda não retomou sua potência, mas o cinema brasileiro está resistindo e esse ano é um ano maravilhoso para o cinema brasileiro. Ganhamos o Oscar, o Urso de Prata em Berlim (para "O Último Azul"), estamos em Cannes com "O Agente Secreto". Ganhamos "Melhor Criação de Série" em um ano em que tem séries maravilhosas , como "Cem Anos de Solidão", "Cidade de Deus", uma série incrível. Esse é um prêmio da luta de todos nós operários do cinema brasileiro, reconhecimento pelo nosso talento e nossa capacidade de resistir e continuar fazendo cinema", declarou Bolognesi ao Splash UOL. "Senna" também concorria a Melhor Ator para Gabriel Leone e Melhor Ator Coadjuvante para Hugo Bonemer.

A equipe de "Cem Anos de Solidão", Melhor Série do Prêmio Platino 2025
A equipe de "Cem Anos de Solidão", Melhor Série do Prêmio Platino 2025 Imagem: Divulgação

A série colombiana, no entanto, levou o principal prêmio da noite na categoria, o de Melhor Série, Melhor Ator para Claudio Cataño (Aureliano Buendía) e Melhor Ator Coadjuvante para Jairo Camargo (Apolinar Moscote). A maravilhosa Marleyda Soto (Ursula Buendía) não levou o Platino de Melhor Atriz em série, que foi para Candela Peña, de "O Caso Asunta" (na Netflix). Na mesma categoria, concorria Andreia Horta por "Cidade de Deus - A Luta Não Para", que também concorria a Melhor Série e Melhor Ator para Alexandre Rodrigues. O Brasil teve no total 11 indicações, número record, completadas com a de Melhor Animação para "Arca de Noé", de Sergio Machado.

Rodrigo Teixeira e Valentina Herszage recebem os Platinos 2025 por "Ainda Estou Aqui"
Rodrigo Teixeira e Valentina Herszage recebem os Platinos 2025 por "Ainda Estou Aqui" Imagem: Divulgação
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Voltando ao cinema, quem recebeu o prêmio por Fernanda Torres foi Valentina Herszage, a Vera de "Ainda Estou Aqui", que leu o agradecimento de Fernanda:

'Eu gostaria muito de poder estar presente esta noite, mas, infelizmente, isso não foi possível devido a compromisso de trabalho. Quero dizer que é uma honra imensa receber esse prêmio. Sou fruto da cultura ibero-americana, a península Ibérica é minha segunda casa e esse reconhecimento reforça em mim o orgulho de fazer parte de uma força cultural que no cinema pariu artistas como Luis Buñuel, Pedro Almodóvar, Alejandro Iñarritu, Alfonso Cuarón, Ricardo Darín, Norma Alejandro, Penépole Cruz, Javier Barden, Marisa Paredes, de Glauber Rocha a Fernanda Montenegro. Esse é um filme sobre uma família, feito por uma família de artistas e fico feliz de receber pelas mãos de Valentina Herszage, minha filha na ficção, que representa não só a mim aqui nesta noite, mas também ao Selton, a Luiza, a Bárbara, ao Guilherme e a Cora, sem eles, a minha Eunice jamais existiria. Eu agradeço profundamente ao Walter Salles, meu irmão, amigo e parceiro de tantas décadas, a honra de ter habitado a pele dessa mulher. Walter é o coração desse filme raro, tão humano e delicado, sobre a brutalidade da ditadura militar do Brasil, uma das tantas que se espalharam pelas Américas no período da Guerra Fria. Através de Eunice Paiva revisitei o horror da ditadura que conheci em criança. Essa grande brasileira, advogada, democrata e defensora dos direitos humanos nos ensina, no momento presente a resistir com alegria e civilidade, sem nos dobrarmos ao autoritarismo. Em nome da Família Paiva, de Marcelo Paiva, e de todos aqueles que defenderam a arte e a democracia, eu repito: Ditadura nunca mais! Muito obrigada, Fernanda Torres"

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