Brasileira larga cruzeiros para ser 'faz tudo' em iates de luxo pelo mundo
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Bárbara Kulaif, 30, trabalha em iates de luxo. Há três anos, ela passa a maior parte do tempo embarcada, em diferentes lugares do mundo, longe da mãe e dos amigos.
Ela conhece diferentes cidades e culturas enquanto faz de tudo no barco —um serviço chamado de stewardesses. Bárbara cuida da limpeza e serviços das cabines e tudo o que está ligado ao interior do iate.
Recentemente, ela participou da 12ª temporada de "Below Deck", um reality show dos EUA que mostra o dia a dia de tripulações.
Início de tudo
Quando Bárbara tinha 19 anos, ela traçou um objetivo: fazer intercâmbio. Foram dois anos trabalhando como garçonete até juntar dinheiro para viajar rumo a África do Sul, onde teve seu primeiro contato real com o inglês.
Quando retornou para Santos (SP), onde morava, não via mais sentido em continuar no Brasil. Bárbara nem queria ter voltado de viagem. Foi quando ela conversou com uma amiga que vivia postando fotos viajando, e descobriu que ela trabalhava em cruzeiros.
A ideia pareceu boa: ela estaria trabalhando, continuaria viajando e ainda ganharia em dólar. "Então, fui atrás disso", lembra ela a Nossa. Na época, ela conseguiu uma vaga que pagava mais ou menos U$ 800 por mês (o equivalente a R$ 4.500, na cotação atual).
A expectativa era trabalhar em um restaurante, onde teria menos contato com os passageiros, já que seu nível de inglês era básico. Mas, de última hora, ela foi designada ao entretenimento -onde lidava diretamente com pessoas o tempo inteiro.
Vida a bordo
A realidade a bordo é cruel: ganha-se bem, sim, mas é preciso fazer renúncias. A tripulação pode ficar até sete meses embarcada, a depender da posição que ocupa e do contrato com a empresa, e distante de pessoas queridas. E trabalha-se de segunda a segunda, sem folgas, já que lá dentro o regime da CLT não é válido.
Você abre mão de muita coisa, você perde muita coisa. Mas, ao mesmo tempo, você ganha muita coisa e trabalha num ambiente multicultural, conhece lugares incríveis.
Bárbara Kulaif
Foram quase seis anos nessa rotina, aperfeiçoando o inglês, até que ela se deparou na internet com uma realidade parecida, mas mais lucrativa: os iates de luxo. Uma vaga inicial paga por volta de U$ 3 mil por mês (R$ 17 mil, na conversão). "O salário era muito melhor, e o cuidado com o tripulante também."
Quando você trabalha em um cruzeiro, você é um número ali. Tem você e mais dois mil tripulantes. No iate, não. Às vezes são cinco, às vezes são 30. Mas lá eu sou a Bárbara, não sou só mais uma pessoa de um departamento.
Bárbara Kulaif
Os contratos também são diferentes, incluem inúmeras possibilidades. O que Bárbara está, neste momento, é rotacional: ela trabalha três meses e folga um. No ano, tem 90 dias de férias. "E só termina quando eu for mandada embora ou quando pedir pra ir sair."
As funções também são diferentes. Apesar de ter departamentos, como nos navios, eles são divididos em basicamente duas áreas: interna e externa. A primeira, inclui serviços domésticos, limpeza e serviço de bordo. Já a segunda, limpa o deck, dirige o barco, faz pequenas reformas. É onde também são contemplados os engenheiros.
A partir que você vai subindo a sua posição, a sua escala pode ficar melhor. Se você está num contrato rotacional, às vezes você trabalha dois meses e folga dois, trabalha seis semanas e folga seis. E todas as suas férias são pagas.
Bárbara Kulaif
Regalias do iate
Nem no cruzeiro e nem no iate você gasta com hospedagem e transporte, por exemplo. Pelo contrário: é pago por estar ali. Mas, no navio, os pequenos gastos ainda existem. Se acabar o shampoo, você precisa recomprar. Se quiser comer algo diferente, é pago.
No iate, você não paga absolutamente nada. Se você quiser comer ou beber qualquer coisa, você tem o que você quiser. A gente tem uma lousa e escreve ali: energético zero, pasta de amendoim, mais banana, shampoo para cabelo cacheado. E não paga nada.
Bárbara Kulaif
Segundo ela, uma outra vantagem de trabalhar a bordo é ter a possibilidade de conhecer lugares que, em outra realidade, ela provavelmente não conheceria. O último lugar que ela esteve trabalhando, por exemplo, foi nos Galápagos, um arquipélago no Pacífico —e chegou a nadar com tubarões
"E foi muito legal porque, quando um iate vai para os Galápagos, existe uma lei que pede um guia local embarcado, morando no barco. Ele fez todos os tours com a gente, explicava tudo. Aprendemos muito", conta ela.
@barbarakulaif claramente eu sou uma aberracao para dança mas é isso. meu aniversário foi demais!!!! #belowdeck #yachts #iatesdeluxo ? som original - BARBARA KULAIF
Ela também ficou quase um ano morando em um barco em La Spezia, na Itália. Como não trabalhava aos finais de semana, teve oportunidade de conhecer muitas cidades no velho continente: Florença, Roma, Milão.
A parte ruim do trabalho, para ela, é muito mais sentimental do que prática —por isso, para quem olha seu TikTok, a imagem é de que a profissão só tem o lado bom. "Tem a saudade e as coisas que você acaba perdendo", explica.
"Foi o casamento da minha melhor amiga, eu era madrinha, e não pude ir. Elas tiveram bebê e eu não vi ele nascer. São coisas que não dá para mostrar nas redes sociais."
Pré-requisitos
Para trabalhar em um iate de luxo não é necessário ter experiência em cruzeiro, apesar de ser um diferencial. "Querendo ou não, ajuda. Você já sabe como é a vida a bordo e os contratantes sabem que você aguenta. Eles veem com bons olhos", conta ela.
O inglês, no entanto, é mais do que essencial. Enquanto em um cruzeiro é possível aprender a língua trabalhando, tendo suporte da tripulação, no iate isso fica mais difícil.
E experiências que, muitas vezes, são ignoradas de propósito por quem quer tentar uma vaga são as mais valorizadas por quem contrata. "Quem trabalha como garçom, fazendo faxina... A galera acha que é subemprego, mas é muito bem-visto na gringa. Tudo é habilidade, porque você faz essas coisas no iate."
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