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Por que Ancelotti na seleção brasileira é um erro

Carlo Ancelotti foi, finalmente, anunciado como novo treinador da seleção. O vídeo do anúncio, aliás, é das coisas mais pavorosas que já vi, um dos maiores exemplos recentes de vergonha alheia de uma pessoa pública. Ednaldo Rodrigues e seu discurso são constrangedores.

Mas falemos do técnico.

Trata-se do maior vencedor global a assumir o comando da Amarelinha. O italiano carrega 32 títulos na bagagem, incluindo cinco Ligas do Campeões e diversos campeonatos nacionais em todos os países europeus que importam no cenário internacional.

Se não há dúvida sobre sua competência, por que então considerar um erro a sua contratação? Vou me limitar a citar aqui três motivos.

1- O calendário. Falta um ano para a Copa do Mundo. Ancelotti não sabe nem onde fica a Barra da Tijuca. Enquanto se aclimata ao futebol brasileiro, aos nossos clubes, à nossa realidade, a jogar na altitude, ele estará também se aclimatando à vida em uma cidade linda, porém imensa, perigosa e terceiro-mundista (o goleiro do Flamengo tomou quatro tiros no carro voltando do Galeão, na última quinta-feira). No fim das contas, ele terá meia dúzia de jogos para acertar a seleção antes da Copa, o que constitui um desafio imenso mesmo para alguém com seu currículo.

2- A CBF. O melhor técnico do mundo ainda vai precisar lidar com uma das instituições mais problemáticas do país. Lembremos que há poucos dias um ministro do Supremo Tribunal Federal precisou garantir a permanência de Rodrigues à frente da entidade. Seu caso vai a julgamento no plenário do STF a partir do dia 28. Hoje, o caso sobre a suposta falsificação da assinatura do Coronel Nunes está sendo julgado no Tribunal de Justiça do Rio. Em quem Ancelotti poderá confiar em sua chegada? Essas pessoas estarão lá daqui a um mês? Em quantos ex-jogadores ele terá de se fiar para convocar os melhores nomes (a primeira convocação acontecerá daqui a duas semanas), metade dos quais ele talvez não conheça ainda?

3- O momento da carreira. Ednaldo Rodrigues apequenou a seleção brasileira como poucos. Deu o comando na mão de Ramon Menezes, Fernando Diniz (dividido com o Fluminense) e Dorival Jr. À espera de Carlo Ancelotti, preferiu ficar sem comando a perder o homem de seus sonhos. E, para ter o homem de seus sonhos, precisou que ele estivesse no pior momento de sua gloriosa carreira. Mesmo com mais de 250 vitórias em 350 jogos e 15 títulos, incluindo três Ligas dos Campeões, o Real Madrid não o queria mais. Já rondava Xabi Alonso desde a eliminação do time nas quartas da Champions, pelo pacato Arsenal. A quarta derrota em cinco confrontos com o Barcelona foi a gota d'água. Foi também a primeira vez em 123 anos de El Clásico que o Barcelona não perdeu nenhuma vez na temporada para o rival. É Ancelotti, mas é também o refugo do Real Madrid.

Carleto pode botar todo mundo na linha. Hierarquizar a seleção. Acabar com os interesses escusos. Blindar a equipe rumo ao hexa em 2026. Pode dar muito certo. Mas é cara, tardia e arriscada a aposta de Ednaldo Rodrigues para não passar vergonha com mais uma recusa de seu príncipe encantado.

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