País dos elétricos? Ajuda chinesa fará Brasil ter mais carregadores que EUA
Eduardo Passos
Colaboração para o UOL
28/05/2025 08h00
Prestes a bater 4 milhões de carregadores elétricos para carros, os chineses investirão uma fração disso no Brasil: a DiDi Chuxing — dona da 99 — instalará, sozinha, 10.000 pontos de carregamento em solo brasileiro nos próximos anos.
O anúncio foi feito durante recente viagem do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China. Na ocasião, também foram anunciados R$ 6 bilhões da GAC — que terá fábrica e já iniciou suas atividades no Brasil — e R$ 5 bilhões da Meituan, que promete concorrer com a rede de delivery iFood, entre outras iniciativas de mobilidade.
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O investimento da DiDi, sozinho, já seria capaz de ampliar a rede de eletropostos do Brasil em 67%, mas, além dessa iniciativa, há outros programas de expansão da mobilidade elétrica.
Até os maiores deles — como o plano da Moby de instalar 500 carregadores no país — ficam, porém, pequenos perto dos planos chineses.
Com recentes cortes de verba para iniciativas semelhantes nos Estados Unidos, tal iniciativa pode tornar o Brasil, proporcionalmente, mais bem equipado para o carregamento automotivo do que o país da América do Norte.
Entre os finais dos anos de 2023 e 2024, o Brasil quase triplicou sua quantidade de carregadores de acesso público para carros elétricos. Já são 14.827 pontos de carregamento, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Isso significa um carregador para cada 7,2 veículos elétricos emplacados no país, ficando perto da proporção em países como os EUA, onde há 6,25 postos por EV. Esse número é, entretanto, apenas uma fração do de mercados como a China, onde há um carregador para cada 2,56 veículos elétricos.
Foco na recarga DC
Segundo uma pesquisa da General Motors de 2022, cerca de 90% dos consumidores brasileiros carregam seus veículos elétricos em casa, superando a média global de 72%.
Entre os motivos para isso estão ofertas promocionais que dão wallboxes de brinde, o custo elevado da gasolina e a popularização de painéis solares, cujas vendas cresceram 60% no ano passado.
Outro fator para a recarga caseira é a escassez de carregadores DC, que são os mais necessários em longos deslocamentos. São esses eletropostos — que funcionam em corrente contínua — capazes de recarregar a bateria de um carro em questão de minutos.
O custo de um carregador DC, entretanto, supera as centenas de milhares de reais. Enquanto isso um wallbox — que funciona em corrente alternada (AC) — não passa de R$ 10.000.
Diante desse cenário, a instalação dos carregadores rápidos em pontos comerciais de alto fluxo ganhou força no Brasil. Em lugares como o interior de Minas Gerais, a reportagem conversou com donos de postos de gasolina que investiram quase R$ 400.000 para instalar carregadores DC em estabelecimentos às margens da BR-381 e da BR-116.
"Tanto para lucrar com a energia fornecida quanto para atrair a parada de viajantes", explicou o gerente de uma churrascaria em Governador Valadares.
Dessa forma, entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025, o número de carregadores rápidos no país chegou a 2.430: crescimento de 62% em três meses, segundo a Tupi Mobilidade.
Esse aumento expressivo dos carregadores rápidos evidencia o foco na implementação de uma infraestrutura de recarga mais efetiva, pensada para quem carrega na estrada e precisa rodar longas distâncias parando pouco.
"Os carregadores rápidos são a chave para destravar a adoção em massa dos veículos elétricos no Brasil", disse o diretor-executivo da Tupi, Davi Bertoncello, na análise periódica dos números da ABVE.
Um desafio tipicamente brasileiro a ser resolvido, porém, é a desigualdade na distribuição geográfica.
Isso porque cidades como São Paulo (SP) têm cerca de 6,3 carros elétricos para cada carregador. Enquanto isso, o estado do Acre inteiro — com 155 elétricos registrados — tem apenas um carregador DC e cinco AC. Logo, cada tomada acreana atende, proporcionalmente, quatro vezes mais carros do que um ponto na capital paulista.
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