Ferrari 'voadora' de Guarulhos: o que aconteceu com carro que viralizou
Eduardo Passos
Colaboração para o UOL
12/05/2025 05h30
Um acidente gravíssimo, ocorrido há 27 anos em Guarulhos (SP), é uma conexão incomum entre os primórdios da internet brasileira e um ferro-velho, onde uma Ferrari completamente destruída permanece em meio a sucatas insuspeitas.
É uma Ferrari F355, fabricada em 1997. Na manhã de 26 de abril de 1998, o esportivo trafegava em altíssima velocidade pela Via Dutra, no sentido São Paulo (SP). Segundo vários jornais da época, o veículo passava pelo viaduto sobre a rodovia Fernão Dias quando bateu em uma junta de dilatação, na parte em que a estrada encontra a ponte.
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A dianteira da Ferrari se levantou e o assoalho plano fez o veículo decolar, atravessando o canteiro central e atingindo um Ford Fiesta que vinha na contramão. Havia suspeita de que o carro estivesse a cerca de 200 km/h, aproveitando ao máximo seu motor V8 3.5 de 380 cv e câmbio automatizado derivado da Fórmula 1.
A violência da colisão foi extrema, e o carro de luxo ficou destruído. A F355 chegou a se partir em seções e, segundo relatos, peças voaram a centenas de metros do ponto de impacto.
A Ferrari pertencia a José Carlos Gino Pannocchia, então proprietário do hospital Pio XII — hoje incorporado pela Unimed Guarulhos. Junto dele estava Nelson Ribeiro Filho, funcionário do hospital. Os dois, de 54 e 51 anos, respectivamente, morreram na hora.
De maneira impressionante, entretanto, os ocupantes do Fiesta foram resgatados com vida e sobreviveram, após cirurgias.
Carro voltou a viralizar
A Ferrari acidentada viralizou recentemente quando um vídeo da sucata retorcida circulou no Instagram. Em várias postagens, dezenas relataram já ter visto imagens do carro, mas em contexto diferente.
Uma das fotos do acidente — mostrando restos mortais presos ao guard-rail da Dutra — foi usada por anos nos centros de formação de condutores do Brasil. As imagens faziam parte das aulas de direção defensiva, e a reportagem ouviu motoristas perturbados ao revê-las.
Além disso, tais cenas viralizaram na internet brasileira no início dos anos 2000. Junto às fotos do acidente dos Mamonas Assassinas, estavam entre as mais acessadas em sites de conteúdo gore, como Assustador e Cabuloso.
Em fóruns de Guarulhos, moradores relembram Gino Pannocchia ou comentam ter visto a F355. Há também relatos de pedestres recolhendo dinheiro voado pela pista ou "souvenirs" do sinistro.
"Um finado tio meu pegou a manopla do câmbio e deu ao meu avô para colocar em seu Volkswagen Voyage", disse o auxiliar de produção Daniel Bennigton em debate nas redes sociais. "Peguei o amortecedor da tampa traseira, que estava do outro lado da pista. Foi tenso", afirmou o músico Ricardo Moreira.
Um ponto de consenso entre os guarulhenses é que os restos da Ferrari estão há anos na empresa Santa Rosa, especializada em reciclagem de metais. Sob anonimato, uma fonte disse que o dono da empresa, amigo de Pannocchia, recolheu os destroços.
O UOL Carros tentou contato com a Santa Rosa, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.