Por que Nissan erra no preço do novo Kicks mesmo acertando no carro

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A Nissan vive um bom momento no Brasil: suas vendas cresceram 35% de 2022 para 2023, e outros 21% no último ano. Grande parte desse sucesso vem do Kicks, SUV compacto lançado há nove anos e que, só no ano passado, emplacou mais de 60 mil unidades. Era natural que a nova geração fosse tratada como prioridade, e foi.
O novo Kicks estreia no dia 3 de julho como um SUV completamente diferente: visual mais robusto, interior redesenhado, nova plataforma e, finalmente, motor turbo. Mas junto com as boas novidades veio uma escolha controversa: o preço. A versão mais barata parte de R$ 164.990 (com desconto de lançamento por R$ 159.990), e a topo de linha custa salgados R$ 199 mil.
Visualmente, o novo Kicks impressiona. Com 4,36 metros de comprimento, entre-eixos de 2,65 m e altura de 1,62 m, ele é um dos maiores entre os SUVs compactos. A altura livre do solo também é destaque, com bons 20 centímetros. O porta-malas cresceu para 470 litros, superando rivais como Creta (422 litros) e HR-V (354 litros).

Por dentro, o novo arranjo acomoda melhor os passageiros do banco traseiro. Há também um bom nível de acabamento e uma central multimídia moderna de 12,3", com conexão sem fio para Android Auto e Apple CarPlay.
Três das quatro versões contam com câmera 360 graus, e a topo de linha (Platinum) traz teto solar panorâmico e som premium da Bose com 10 alto-falantes, inclusive embutidos no encosto de cabeça, uma exclusividade entre os concorrentes.
Não é pra tanto?
O Kicks 2026 é o primeiro modelo de passeio da Nissan no Brasil com motor turbo. Mas o novo propulsor 1.0 de três cilindros, compartilhado com o Renault Kardian, entrega apenas 125 cv com etanol e 120 cv com gasolina, com torque de 22,4 kgfm. A aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 12,4 segundos.
É justo para o modelo, mas não para o preço. Ou seja, desempenho apenas mediano para um carro de quase R$ 200 mil. Para efeito de comparação, na mesma faixa de preço, o HR-V Touring tem 177 cv, e o Creta Ultimate chega a 193 cv - são 68 cv a mais. E por esse mesmo preço, o consumidor pode levar para casa um GMW Haval H6 híbrido com 243 cv e muito maior.
Dentro da própria linha da Nissan, o Kicks topo de linha custa mais que o Sentra, que por R$ 195 mil oferece motor 2.0 de 151 cv e é construído sobre uma plataforma mais refinada. No México, o novo Kicks mais caro sai por cerca de R$ 171 mil (em conversão direta), mas lá ele é equipado com o mesmo motor 2.0 do sedã.
Avanços e ausências
O novo Kicks traz seis airbags de série em todas as versões, câmera 360º a partir da versão Advance (de R$ 175.990 por R$ 167.990 no lançamento), e um pacote respeitável de assistentes de condução na versão mais cara. Essa opção, agrega ainda teto solar panorâmico e sistema de som premium.
Mas, surpreendentemente, faltam recursos comuns em modelos nessa faixa de preço: não há saídas de ar-condicionado para o banco traseiro, o banco do motorista tem apenas ajustes manuais e o carro não possui um sistema de carro conectado, como há em muitos rivais, inclusive em categorias inferiores. O sistema permite controlar diversas funções do veículo, como abertura de portas e ar-condicionado, pelo celular.
A Nissan tentou suavizar o impacto inicial com valores promocionais para três das quatro versões. Mas isso levanta uma questão: se é necessário dar desconto no lançamento, será que o preço original foi mal calculado? A própria marca já precisou rever os valores da picape Frontier, e isso costuma afetar a percepção de valor e a revenda.
Vale o que cobra?
O novo Kicks é, sim, um carro melhor. Está mais moderno, mais espaçoso e tem bons equipamentos. Mas a decisão da Nissan de posicioná-lo na faixa de R$ 160 mil a R$ 199 mil parece descolada da realidade do mercado. Especialmente quando se olha para o que os rivais oferecem por esse mesmo valor, ou até menos.
Ao tentar se colocar como um SUV mais premium, o Kicks esbarra em limitações técnicas e omissões de conforto que pesam na avaliação do consumidor. Resultado? Um carro bom, mas com preço que promete mais do que ele consegue entregar.
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