Roncar é sinal de perigo! Conheça as causas e os riscos para a saúde
Colaboração para VivaBem
22/05/2025 05h34
Sonolência ao longo do dia, fadiga e dificuldade de concentração são sintomas que comprometem a qualidade de vida e estão ligados a vários problemas de saúde. Na hora de buscar um diagnóstico, porém, um vilão comum pode passar despercebido por parecer um incômodo normal e inofensivo entre adultos: o ronco.
Os dados mais recentes do Estudo Epidemiológico do Sono (Episono), do Instituto do Sono de São Paulo, revelam que 42% dos paulistanos roncam três ou mais vezes por semana. Por ser um som tão comum nas noites de tantos lares, o ronco muitas vezes não recebe a devida atenção. Mas é preciso ficar alerta: ele pode ser sinal de um problema de saúde sério —e tem potencial para prejudicar a rotina mesmo durante o dia.
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Renato Stefanini, otorrinolaringologista e coordenador do Núcleo de Medicina do Sono do Hospital Sírio-Libanês, explica que o ronco acontece quando o ar encontra dificuldade para passar pelas vias aéreas, devido ao estreitamento da faringe. Esse bloqueio faz com que os tecidos da garganta vibrem, produzindo o som característico. A obstrução pode ser provocada por diversos fatores e é mais frequente entre os homens, por questões anatômicas, hormonais e pela forma como a gordura está distribuída pelo corpo.
Confira a seguir as principais causas do ronco e entenda como ele impacta a qualidade de vida.
Obstrução nasal
Vários problemas podem dificultar respiração durante a noite e são fatores de risco para o ronco. Entre os mais comuns estão rinite e sinusite e outras condições que causam acúmulo de muco ou inflamação da região, além de pólipos nasais, desvio de septo e outras alterações anatômicas, como úvula ou amígdalas aumentadas.
Obesidade
O excesso de peso também é um potencial causador de ronco. Nesse caso, o acúmulo de gordura na região do pescoço causa o estreitamento da faringe e a obstrução da passagem de ar. Por isso, o controle da obesidade é um dos tratamentos indicados para quem busca noites mais silenciosas.
Tabagismo
Fumar com frequência pode causar o ronco pelos danos que causa à garganta. Pode ser consequência de relaxamento das vias aéreas superiores, inflamação ou irritação da região ou aumento da produção de muco.
Abandonar o cigarro, portanto, também ajuda a combater o problema.
Envelhecimento
Com o passar dos anos, a maioria das pessoas perde o tônus muscular na região da faringe, que fica mais estreita no momento do sono —o que explica a maior incidência de ronco na terceira idade. Entre as mulheres, o risco aumenta principalmente a partir da queda natural na produção de hormônios, na menopausa. Para esses casos, exercícios de fonoaudiologia podem fortalecer os músculos da região.
Álcool e medicamentos
Ingerir bebidas alcoólicas à noite pode relaxar demais os tecidos da garganta e facilitar o ronco. O mesmo vale para medicamentos com efeito calmante.
Por isso, evitar essas substâncias antes de dormir é uma recomendação comum para quem sofre com o problema.
Consequências
Para algumas pessoas, o ronco não chega a causar grandes prejuízos. Luciana Palombini, médica pesquisadora do Instituto do Sono, explica que a sensibilidade a ele é individual —e que é possível, sim, ter uma noite reparadora e acordar renovado na manhã seguinte.
Mas, para muita gente, roncar causa microdespertares que fragmentam o sono e impedem a progressão adequada pelas suas fases. "Isso resulta em cansaço durante o dia, perdas cognitivas, irritabilidade e menor produtividade", diz Leticia Soster, neurofisiologista clínica da polissonografia do Hospital Israelita Albert Einstein.
Os casos mais preocupantes são aqueles em que o ronco é sintoma de uma condição mais grave: a Síndrome da Apneia Hipopneia Obstrutiva do Sono, que atrapalha o descanso e traz sérios riscos à saúde. A apneia do sono é caracterizada por interrupções repetidas na respiração enquanto a pessoa dorme, pelo fechamento parcial ou total das vias aéreas. Quem sofre com esse problema costuma roncar alto e intercalar momentos de silêncio quando a respiração para. De acordo com um estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo e do Centro de Distúrbios do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein, o ronco está presente em 90 a 95% dos casos de apneia.
Esse distúrbio interrompe o sono com frequência, impedindo seu aprofundamento e o repouso adequado. O resultado aparece no dia seguinte: sonolência excessiva, fadiga, alterações na memória e dificuldade de concentração, quedo no desempenho no trabalho e nos estudos, além de mudanças de humor que afetam as relações pessoais e de trabalho.
E as consequências não param por aí. Estudos apontam que noites mal dormidas aumentam o risco de doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, arritmias cardíacas e AVC, e também de distúrbios metabólicos, como diabetes tipo 2. Isso acontece porque a privação de sono altera o ciclo circadiano, que dita o ritmo e funcionamento do organismo. A falta de descanso também está associada à queda na imunidade (é quando adormecemos que esse sistema se fortalece), redução da libido, impotência sexual e até ao maior risco de demências na terceira idade.
Como saber se o ronco está afetando a qualidade de vida?
Renato Stefanini, do Hospital Sírio-Libanês, explica que não dá para diferenciar o ronco sem consequências daquele associado à apneia do sono somente observando. E, muitas vezes, quem ronca nem percebe o impacto — mas pode estar prejudicando seriamente o sono de quem dorme ao lado. Por isso, buscar ajuda é fundamental.
Mesmo assim, o ronco ainda é subestimado. Entre os homens, persiste o mito de que roncar é normal e que procurar ajuda é exagero, o que contribui para a demora no diagnóstico e tratamento. Já entre as mulheres, o sentimento mais comum é a vergonha, já que o problema ainda é associado, no imaginário coletivo, à masculinidade, de acordo com Luciana Palombini, do Instituto do Sono.
Mas os especialistas são claros: que o ronco é um sintoma que merece atenção. Quem dorme sozinho e não sabe se ronca tem a opção de usar aplicativos ou dispositivos que medem os ruídos do quarto durante a noite. E, para confirmar o diagnóstico, é necessário fazer o exame de polissonografia —exame que deve ser interpretado por um médico, reforça Stefanini.
Fontes: Leticia Soster, neurofisiologista clínica da polissonografia do Hospital Israelita Albert Einstein; Luciana Palombini, especialista em medicina do sono e pesquisadora do Instituto do Sono; Pedro Genta, pneumologista e especialista em sono do Hcor; Renato Stefanini, otorrinolaringologista e especialista em Medicina do Sono, coordenador do Núcleo de Medicina do Sono do Hospital Sírio-Libanês.