Nem toda amizade é do bem: como reconhecer relações tóxicas camufladas
Colaboração para VivaBem*
07/05/2025 15h45
Elas podem nascer no colégio, no trabalho, na internet ou em uma fila de pão. As amizades se formam por uma infinidade de motivos: desde afinidades sinceras até circunstâncias completamente aleatórias. Mas atenção: só o laço afetivo não garante que essa relação vai ser saudável.
O que sustenta uma amizade de verdade é o equilíbrio entre dar e receber, respeito mútuo e espaço para que cada um seja quem é. Quando esses ingredientes faltam, o que sobra pode ser bem mais nocivo do que parece.
Por que há quem mantenha esses "amigos"?
Há quem crie uma imagem romantizada da pessoa ou do vínculo, ignorando sinais de desequilíbrio;
A ideia de perder alguém, mesmo que faça mal, pode parecer mais assustadora do que seguir sozinho. Isso leva muita gente a aceitar migalhas emocionais;
Afeto, culpa, lealdade e insegurança podem se misturar, dificultando a clareza sobre o que está realmente acontecendo;
Sem saber exatamente o que se espera de uma amizade ou onde traçar a linha do respeito, é fácil cair em relações em que o desgaste vira rotina.
Desvendar como essas dinâmicas funcionam é o primeiro passo para sair do ciclo. Às vezes, isso significa redefinir os limites; em outras, cortar o laço de vez em nome da saúde mental. E, para começar essa investigação, vale conhecer os arquétipos mais comuns de amigos tóxicos — e o impacto que eles podem causar.
Como identificar amizades tóxicas
Vitimista: esse tipo de amigo nunca está bem e faz questão de lembrar disso o tempo todo. É o injustiçado, o incompreendido, o eterno sofredor. Quanto mais você se doa, mais ele afunda nas próprias lamúrias. Com o tempo, você se sente impotente, culpado por não resolver problemas que nem são seus — e acaba entrando no jogo sem perceber.
Invejoso: nem sempre a inveja aparece de forma escancarada, às vezes, ela vem vestida de sorrisos amarelos e comentários sutis. Se você percebe que vive diminuindo ou escondendo suas conquistas para não "incomodar" alguém próximo, acenda o alerta. Esse tipo de amigo não vibra com o seu sucesso, pelo contrário, ele se incomoda, desmerece, crítica disfarçadamente ou muda de assunto quando algo bom acontece com você. A necessidade de se sentir superior o leva a minar suas ideias, sua autoestima e até a sua alegria.
Competitivo: você compartilha uma conquista e, em vez de um "parabéns", recebe uma comparação. Comprou um carro? O dele é mais econômico. Leu um livro? Ele leu algo que foi aclamado pela crítica. Esse é o amigo que vive em modo competição, mesmo que disfarçado. Nada do que você faz parece suficiente perto das histórias (muito mais impactantes, claro) que ele tem para contar. O problema é que essa amizade vira um duelo emocional ou intelectual, não uma troca.
Pessimista: algumas pessoas enxergam o mundo por lentes escuras, e isso nem sempre é escolha. O pessimismo pode ser reflexo de experiências de vida, ambiente familiar, frustrações acumuladas ou até de um transtorno de humor disfarçado de mau humor constante. O problema começa quando a pessoa não quer, ou não consegue, receber apoio, e o clima pesado passa a contaminar quem está por perto, drenando até os mais bem-intencionados.
Passivo-agressivo: é aquele amigo que sempre tem uma piada constrangedora na ponta da língua e jura que "foi só brincadeira"; ou que revela algo pessoal sobre você na frente dos outros e depois diz que não foi por mal. Ele não ataca diretamente, mas cutuca com ironias, comentários atravessados e atitudes que magoam. E quando você reclama, ele se esquiva.
O que fazer
Antes de se afastar ou cortar laços de vez, vale refletir: será que seu amigo sabe mesmo como você se sente? Muita gente acredita que o outro "percebe" o incômodo, mas isso nem sempre acontece. Ego, distração ou pura falta de sensibilidade podem tornar alguém cego às consequências dos próprios atos. Por isso, se quiser mudar a dinâmica, é preciso falar com clareza, calma e firmeza.
Também vale ponderar: essa pessoa é sempre assim ou está passando por uma fase difícil? Problemas no trabalho, em casa ou na vida amorosa podem influenciar o comportamento e merecem empatia antes de qualquer decisão.
Mas, no fim das contas, a pergunta essencial é: você quer manter essa amizade? Às vezes, um afastamento (temporário ou não) é necessário para preservar sua saúde mental e pode até abrir espaço para que o outro reflita sobre suas atitudes. Se o padrão de relações tóxicas se repete na sua vida, talvez seja hora de buscar ajuda profissional e entender por que você se vê nesse ciclo.
*Com informações de reportagem publicada em 17/06/2021