OPINIÃO
Opinião: O aniversário do fenômeno Ivete, uma rainha que 'é nossa'
Especial para TOCA
27/05/2025 17h12
O calendário aponta para mais um dia, mas para mim, como para milhões de brasileiros, esta terça-feira (27), é muito mais que um dia comum. Hoje, a Bahia, o Brasil e, ouso dizer, o mundo, celebram uma data que reverbera muito mais do que um mero aniversário. Hoje é dia de Ivete Sangalo.
Se puxar na memória, não é difícil refrescar as lembranças de quando a Banda Eva começou a ecoar pelos bailes e rádios. Havia ali uma energia diferente, um magnetismo que vinha daquela voz e risada fácil, com certo gingado natural, e que parecia preencher qualquer espaço com sua aura.
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A relação de Ivete com o Axé Music é uma via de mão dupla. Ela não só foi um dos rostos mais importantes do gênero em sua fase de maior explosão na década de 90, mas também contribuiu para a sua sofisticação e longevidade.
Na banda em que começou sua carreira, trouxe um frescor, uma voz que se destacava pela potência e afinação. Quando alçou voo solo, o que parecia um risco para alguns, revelou-se a libertação de uma potência indomável.
Não se contentou em ser a rainha do axé; ela se tornou a rainha do Brasil. Com uma habilidade ímpar de transitar entre o pop vibrante, o romantismo envolvente e até mesmo o toque do samba e da MPB, a filha de Juazeiro quebrou as fronteiras invisíveis que muitas vezes aprisionam artistas em um único gênero. Seus shows viraram celebrações, seus hits se tornaram hinos. Quem nunca cantou ''Tá tudo bem'' ou "Quando a Chuva Passar" com a alma lavada? Quem nunca sentiu a energia contagiante de "Acelera Aê"?
Com uma capacidade de atravessar as últimas três décadas com tamanha relevância é um estudo de caso em si. E, mesmo com as transformações radicais do mercado musical - da ascensão do digital ao domínio do streaming e das redes sociais -, soube dançar com o vento, sem se descaracterizar. Ela não precisou seguir todas as tendências; ela as absorveu de forma inteligente, mantendo sua essência de alegria e boa música.
Além disso, tornou-se uma voz, quase sem levantar a bandeira, sobre o empoderamento feminino de uma forma leve, autêntica e poderosa. Ela mostra que é possível ser mãe, esposa, empresária e uma das maiores cantoras do país sem perder a essência, sem abrir mão da alegria. Fico me perguntando: quantas meninas e mulheres já se viram naquela força, encontrando nela a coragem para sonhar e ser quem são?
''Mas o que realmente distingue Ivete?'', podem perguntar, e logo respondo eu: o carisma avassalador. Ela não apenas se apresenta; se entrega, se joga. Cada sorriso, cada piada com a plateia, cada olhar de cumplicidade, tudo, tudo, é genuíno. Espelho de alegria para seu público, uma amiga no palco, uma confidente nas letras que canta.
E não foram poucos os momentos onde eu propriamente falando vivi isso. Pessoalmente um fã, suas músicas foram e são o espelho dos meus sentimentos. Nas separações, ela me deu força para seguir. Nas uniões, celebrou comigo como se fosse uma 'best'. Nos momentos de tristeza - quando, por exemplo, vivi inúmeros problemas de saúde e cirurgias internado no hospital - foi o abraço que acalentou.
No Carnaval 2025, meu primeiro em sua terra, a vi em seu auge. Não é só a voz potente, os sucessos que a gente canta junto até ficar rouco. Ali, cada nota cantada parecia pedaço de sua alma.Nesse turbilhão de emoções, ficou ainda mais claro para mim o quanto a arte, a música em particular, tem um poder... Salvador.
Nessa conexão tão visceral que faz dela não só uma artista, mas um membro da família de milhões de nós, foliões ou não, lidar com uma estrela natural, tão nossa. Tão brasileira, que por vezes se confunde com a própria definição de uma artista completa. Mais do que celebrar seu aniversário, celebramos a sorte de tê-la. Que a 'festa' continue por muitos e muitos anos.
* Edu Carvalho é jornalista, escritor e colunista de Ecoa
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL