Nômade Festival une gerações no Villa-Lobos para ouvir a música brasileira

Com programação diversa e público animado, o primeiro dia do Festival Nômade deste ano lotou o parque Villa-Lobos, em São Paulo. Desde a abertura, com a rapper carioca Ebony, até o encerramento apoteótico com Ney Matogrosso, o evento reuniu nomes como Jota Pê, Helena Serena, Os Garotin e Daniela Mercury, mantendo o público engajado do início da tarde até o anoitecer.
Vencedor de três Grammys Latinos em 2024 com o álbum "Se Meu Peito Fosse o Mundo", o cantor e compositor Jota Pê destacou a importância daquele momento: mesmo sendo de Osasco, aquela foi a primeira vez que se apresentou em um grande festival na capital paulista.

O músico exala simpatia, conta histórias e apresenta um show redondo. A banda conta com um naipe de metais que deixa a apresentação mais suingada. O público acompanhava com entusiasmo e ouviu do novo disco que Jota Pê gravou ao lado de João Gomes e Mestrinho, chamado "Dominguinho", apenas uma música: "Beija Flor".
Na sequência, a estreante Helena Serena assumiu o palco com um repertório autoral ainda pouco conhecido. Revelada no programa The Voice, a cantora prepara seu primeiro álbum. Apesar do cuidado musical e da competência da banda, o show não conseguiu manter o mesmo nível de empolgação da apresentação anterior.
Com um repertório próprio que ainda não garante um show completo, a artista construiu um set comprometido com homenagens: interpretou canções associadas a figuras marcantes como Elza Soares, Rita Lee, Gal Costa e Gilberto Gil. Em um dos momentos, cantou "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", enquanto a frase "Sem Anistia" se projetava no telão — referência direta ao documentário "Ainda Estamos Aqui", que denuncia os crimes da ditadura militar contra o ex-deputado Rubens Paiva.

Com um público visivelmente mais jovem — muitas crianças penduradas nos ombros dos pais para enxergar o palco —, Os Garotin chegaram com irreverência e teatralidade. Conhecidos pela atmosfera lúdica e bem-humorada que criam em seus shows, os cariocas brincaram logo de início com a diferença entre os sotaques do Rio e de São Paulo na música "Estranha Vontade Louca", trocando o "rolé" carioca pelo "rolê" paulistano.
O trio também apresentou a canção feita em parceria com Caetano Veloso, uma homenagem ao Rio de Janeiro que remete à origem e bênção que receberam da produtora Paula Lavigne.
A transição de Os Garotin para Daniela Mercury revelou não uma ruptura, mas a amplitude da música brasileira e da disposição do público. Ao subir ao palco, a artista baiana saudou o marco dos 40 anos da axé musica e relembrou sua chegada a São Paulo, em 1992, quando parou a cidade com um show no vão livre do MASP. O momento que marcou sua ascensão meteórica e consolidou sua presença no cenário nacional.
Daniela, como de costume, revisitou os vários capítulos de sua carreira, entre sucessos antigos e mais recentes. Relembrou Zé Celso com trechos de Macunaíma e exaltou a força dos blocos afro da Bahia. Com forte discurso político, fez o show mais engajado do dia, abordando abertamente temas como as religiões de matriz africana, a censura e a necessidade de vigilância democrática. "Se rolar anistia, nossa democracia corre mais perigo", alertou, arrancando coro de "Sem anistia" do público.

Ovacionada ao deixar o palco, Daniela ainda voltou à área do festival para assistir à performance de Ney Matogrosso, que encerrou o evento com a grandiosidade de sempre. Aos 83 anos, o artista segue em plena forma. Sem discursos longos, limitou-se a um elegante "Boa noite, São Paulo", deixando que as músicas falassem por si.
E falaram alto — com intensidade e a beleza de uma trajetória artística singular, Ney mais uma vez comprovou por que é um dos maiores nomes da história da música brasileira.
O festival segue neste domingo, 4 de maio, com shows de BaianaSystem, Alcione, João Gomes e outros destaques da programação.
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