Para mãe de Alice, exposição na internet traz mais prós do que contras
Alice furou a bolha. Você, com certeza, se lembra de vídeos de uma criança loira, por volta dos dois anos, pronunciando palavras difíceis. Oftalmologista, proparoxítona, estapafúrdio, propositalmente... A dicção? Fora da curva para a idade.
A mãe, Morgana Secco, 41, que o diga. Tudo começou por acaso, sendo documentado para os mais próximos. Ela trabalhava como fotógrafa e, quando virou mãe, deu uma pausa. A filha virou sua modelo para manter a criatividade em dia.
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Quando chegou 2020, e com ele a pandemia, o Instagram começou a focar mais em vídeos. E ela adicionou o formato a seu conteúdo. Morgana viu na oportunidade uma forma de se comunicar com pessoas enquanto estava trancada em casa.
Vídeos virais
O primeiro vídeo que viralizou foi um de Alice fazendo exercícios, mas Morgana não tinha a menor ideia: alguém fez o download e divulgou no WhatsApp. "Comecei a receber mensagens de amigas, avisando que receberam em um grupo, de desconhecidos."
Foi quando Morgana viu imagens da filha sendo compartilhadas até por famosos, e ela comentou que era a mãe. Com isso, seu perfil foi descoberto. Em mais ou menos duas semanas, ela foi convidada para participar do programa da Eliana, na época no SBT.
"Na sequência, postei um vídeo da Alice falando do brócolis. Esse viralizou a partir do meu perfil e eu comecei a ganhar seguidores", lembra ela. A família passou a ser reconhecida em Londres, onde mora, e nas visitas ao Brasil. E, em 2023, nasceu a Julia.
Hoje elas têm cinco e dois anos. "Sempre tive consciência de tentar explicar ao máximo o que eu conseguisse, deixar claro o que está acontecendo, prestar atenção nelas e ter a vontade delas escutada."
Desde as primeiras viralizações, tive que tomar uma decisão e optei por deixar a fotografia de lado para conseguir dar conta. Meu marido decidiu sair do trabalho dele também, para me dar um suporte.
Morgana Secco
O marido dela, e pai das meninas, é Luiz Gustavo Schiller, 37. O perfil de Morgana soma 4 milhões de seguidores, um número bem maior do que o de habitantes de Lajeado (RS), sua cidade natal, que tem 96.651 de habitantes segundo o último censo do IBGE.
'Sempre foi natural'
Pertencente a geração Alpha (nascidos entre 2010 e 2024), Alice sempre se sentiu à vontade em frente a câmera. "Ela nunca se incomodou comigo fotografando ou filmando. Depois de um tempo, ela me pedia às vezes para fotografar e filmar. Sempre foi natural."
Conforme ela foi crescendo, Morgana passou a comunicá-la porque gravava e onde ela postava aquele conteúdo. "Mas acho que, mesmo hoje, ainda é muito abstrato para ela."
Nem Alice e nem Julia acessam redes sociais ou consomem telas de forma assídua. "Às vezes, elas assistem alguma coisa que estamos vendo. Ou estamos no celular e elas passam o olho, mostro o resultado de uma gravação ou outra. Mas ainda é abstrato."
Para a mãe, Alice vê a prática de gravar muito associada a momentos de diversão em família —ela não vê como uma obrigação, mas como um momento divertido ao lado dos pais e da irmã. Ela nem se lembra de pedir para ver como ficou.
A Alice nunca foi uma criança tímida, introvertida, que tivesse vergonha. Ter essa percepção me ajudou a entender que ela estava confortável com aquilo. Já a Júlia, eu noto que ela é um pouquinho mais tímida. Então, sou um pouco mais cuidadosa.
Morgana Secco
Brasil x Inglaterra
A fama da Alice é muito maior no Brasil do que na Inglaterra. Onde moram, as meninas têm vida "praticamente de anônimas", segundo a mãe. Na escola mesmo, ninguém sabe que elas são conhecidas. Quando são paradas por Londres, é por brasileiros.
Quando a gente está no Brasil, percebo um volume diferente. A gente vai ao shopping, está no aeroporto, e nos reconhecem e abordam. Aqui, a gente faz um passeio, vai em um museu, é só uma ou outra pessoa.
Morgana Secco
"Um número na internet a gente consegue facilmente perder a noção do quanto que é. Mas quando as pessoas começaram a nos reconhecer, vi que era de verdade. Às vezes, uma pessoa famosa fala comigo. Como assim ela sabe quem eu sou?", completa.
Como outras mães, Morgana não posta nada em tempo real. Vídeo em um passeio? Só quando a família já está bem distante. Rua em que moram? Nem pensar, assim como os arredores da escola em que as meninas estudam.
Prós maiores que contras
O assédio que veio com a nova rotina não assustou a família a ponto de cogitarem parar de postar. Não existe arrependimento. "Meu medo maior foi no início, me questionava se deveria estar fazendo e ouvia a opinião das pessoas. Depois, fui atrás dos riscos reais."
Segundo ela, ao colocar na balança, entendeu que existiam mais prós do que possíveis contras: as crianças estão felizes, os pais estão felizes, todos têm mais oportunidades e conseguem passar mais tempo juntos.
Ela e o marido revisitam a questão de tempos em tempos. "Se as crianças não quiserem mais, está tudo bem. Não vão mais aparecer e a gente resolve o que vai fazer. Não é uma preocupação", acredita Morgana. "Vai ficar muito claro para elas que a intenção sempre foi muito boa e elas ganharam muito com isso."