'Maior fotógrafo que já nasceu': o adeus de colegas a Sebastião Salgado

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Sebastião Salgado, fotógrafo documental brasileiro, morreu hoje (23), aos 81 anos. Apesar da idade avançada e da sua condição de saúde, a notícia chocou a todos, principalmente seus colegas de trabalho, os fotógrafos. "Eu não estava preparado para isso, acho que a fotografia inteira sentiu, também acho que quem ama a humanidade sentiu de alguma maneira.", contou Érico Hiller, fotógrafo documental.
O Salgado, eu não tenho dúvida, foi o maior fotógrafo que já nasceu desde o advento da fotografia. Érico Hiller.

Com um estilo marcante e inovador, Salgado fez escola. Suas obras influenciaram toda uma geração de amantes da arte de fotografar, assim como o fotojornalista André Liohn conta: "Qualquer fotógrafo da minha geração que diga que não tenha sido influenciado por Sebastião Salgado não vai estar sendo honesto. Todos fomos."
O que Sebastião Salgado fez não vai mais se repetir, ainda que venham coisas que se pareçam com aquilo, não vai ser a mesma coisa. André Liohn

O Salgado, sim, influencia uma geração gigantesca de fotógrafos, principalmente dos anos ´1970 para cá, quando ele adota o preto e branco como uma linguagem definitiva. Érico Hiller
Entre suas principais obras estão "Gênesis" (2013), "Êxodos" (2000) e "Trabalhadores: uma arqueologia da era industrial" (1993). "Movimento dos Sem Terra" é uma das fotos que compõe a série registrada na década de 1990, e que ficou para sempre na memória de André Liohn. "Ela aparece na minha vida no momento em que eu estava entendendo o mundo, vivendo no Brasil, em uma comunidade muito pobre, tendo problemas parecidos com aqueles."
A obra de Sebastião Salgado ocupa um lugar de destaque na história da fotografia. Ele usou, como poucos, os recursos de controle de luz e composição de câmera, para produzir narrativas visuais capazes de encantar, tanto quanto informar. Luciano Candisani, fotógrafo e autor.
Para Érico Hiller, Sebastião Salgado o ajudou a escolher uma profissão. "Eu não queria ser fotógrafo de casamento, fotógrafo de evento, eu queria fazer fotografias que mudassem determinados contextos fotografados, e isso veio do Salgado. Ele foi o nosso grande pioneiro.", conta o documentarista.

Já para Bob Wolfenson, dividir a mesma nacionalidade que Salgado é motivo de orgulho. "A obra dele me influenciou porque, primeiro ele é brasileiro. Então, o fato de um brasileiro ter atingido essa glória toda, você já abre o olho para isso, né? Um estímulo muito grande, alguém que fale a sua língua, que venha do seu país, e que tenha tido esse alcance magnífico."
É muito difícil nascer outro Sebastião Salgado. Bob Wolfenson
Salgado foi o grande, ele foi o gigante, ele foi o mestre, ele foi o professor e, mesmo assim, sendo uma pessoa simples, uma pessoa tímida, uma pessoa bem-humorada, discreta, o Salgado é um grande homem, é um grande cidadão, é um grande brasileiro, é um grande ser humano, enfim, é um grande fotógrafo cujo nome vai ecoar ao longo de gerações e gerações. Érico Hiller
Salgado não foi apenas um grande profissional e uma referência da fotografia mundial, mas também, um homem de grande coração, disposto a ajudar quem precisasse dele. André Liohn conta que nunca conheceu Sebastião, mas que conversou com ele uma vez por telefone. "Em 2011, um amigo sul-africano morreu na Líbia e a família dele ficou com dinheiro apenas para pagar o aluguel do mês. E aí, eu e um outro amigo, James Wright Foley, fotógrafo, que depois foi decapitado pelo estado Islâmico na Síria, tivemos a ideia de fazer um leilão de obras de grandes fotógrafos da atualidade, para levantarmos fundos para a família desse amigo. Imediatamente, entramos em contato com Sebastião Salgado e ele foi muito generoso, muito generoso."
Ele foi para fotografia exatamente o que Mozart e Beethoven representaram para a música, o que Hitchcock, Spielberg, Charles Chaplin, Orson Welles representaram para o cinema, o que o Michelangelo representou para a escultura, ou seja, o que o Pelé representou para o futebol. Érico Hiller

Sebastião deixa um legado colossal de imagens icônicas e levas de fotógrafos documentais inspirados por seu olhar. Luciano Candisani
Não há nenhum fotógrafo que se possa chamar de fotógrafo que não conheça a obra do Sebastião, ou pelo menos não conheça alguma obra do Sebastião. Bob Wolfenson
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