Rodrigo Mattos

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ReportagemEsporte

Do 'impossível' ao dia do sim: Ednaldo detalha acordo com Ancelotti

A CBF recebeu há cerca de 20 dias o sim de Carlo Ancelotti para dirigir a seleção brasileira. É o que conta o presidente da confederação, Ednaldo Rodrigues, em entrevista à coluna.

Por isso a entidade decidiu esperar pela liberação do treinador do Real Madrid - apesar de o outro candidato ao cargo, Jorge Jesus, já estar livre. O acerto só não estava concretizado porque dependia justamente dos trâmites da concretização da saída de Ancelotti do Real Madrid.

O dirigente da CBF diz ter fechado um acordo similar ao anterior negociado para ele assumir em 2024. Um contrato que só não se efetivou por causa do afastamento de Ednaldo. O mandatário ainda reforça que nem precisou renegociar os valores.

Ednaldo listou motivos para a escolha: elogios de seus jogadores, seu trabalho mental, a capacidade de lidar com situações de pressão, ponto particularmente importante no momento de turbulência da seleção brasileira, que vem de goleada sofrida contra a Argentina.

Na CBF, há também a turbulência política com ação judicial para tentar tirar Ednaldo da presidência da entidade. O dirigente diz que este é assunto para os advogados, mas reforça que há muitas inverdades sendo ditas nesse tema.

Veja abaixo a entrevista dada no Paraguai, onde ocorre o Congresso da Fifa.

Presidente, uma coisa que ouvimos muito durante o processo da escolha do técnico foi que você quis muito o Ancelotti enquanto havia uma pressão para fechar mais rápido com outro nome. Por que você fez essa opção por esperar e insistir no Ancelotti, que era seu sonho?

Porque não tínhamos certeza de que outros treinadores teriam também a disponibilidade que buscávamos como data máxima que era 26 de maio. Terminou acontecendo no caso do Jorge Jesus de ele sair antes, mas a previsão dele era ir até o Mundial de Clubes. Se estavam todos dentro dessas diretrizes, eu fiz opção de manter a linha desde lá atrás por já ter tratado das questões de contrato — até porque tinha um contrato. Não tinha nada novo (com Ancelotti). Teria de partir do zero (com outros técnicos), falar com o clube, conversar. Foi assim com o próprio Real nessa situação.

Às vezes as pessoas falam: demorou muito tempo. Mas tem detalhes que as pessoas não percebem e não podemos informar. Tenho como índole respeitar os profissionais até quando estiverem conosco. Não pude fazer qualquer movimento com qualquer treinador enquanto o Dorival estivesse conosco. Não faço tratativa com antecedência com pessoa no cargo. Tive de respeitar.

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Retomei novamente (a negociação com Ancelotti). Não foi diretamente com o treinador. Respeito as instituições. Tive de começar tudo novamente através do próprio clube.

Você falou primeiro com o Real?

[Isso] Aí foi evoluindo. No início, não tinha nada concreto. Foi se construindo. Não desmerecendo nenhum treinador, que respeitamos. Pela história dele (Ancelotti), tanto como atleta, como treinador. As conquistas bastante significativas dele. O conceito de grupo que ele tem com todos os atletas. Muita autoridade, sem autoritarismo. Isso ouvimos de diversos atletas.

Você conversou com atletas então?

Isso desde lá atrás (primeiro acordo por Ancelotti em 2023).

Atletas da seleção?

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Da seleção e outros atletas que trabalharam com ele lá atrás. Dos atletas, não vi ninguém que deixou dúvida. Todos diziam de uma forma: 'esse é muito bom, mas acho difícil'. As pessoas achavam impossível. Por outro lado, não queria trazer nenhum (de clube do Brasil). Fizemos um trabalho lá atrás, quando trouxe Diniz, tivermos de conversar com a direção do Fluminense, que tiveram aquiescência. Depois com Dorival. Não pretendia fazer isso com nenhum outro treinador do Brasil com seu time já iniciado numa competição. Não queria fazer o mesmo.

O que você explicou então é que o acordo (com Ancelotti) foi muito parecido com o que tinha sido feito lá atrás com ele em termos de valores?

É praticamente o contrato que tinha lá atrás. Foi um facilitador. Já tínhamos um entendimento, uma sintonia de confiança mútua, né? Confiando nele, e ele confiando em mim e na instituição. Por isso foi mais rápido em termos de acerto. Mas tinha um timing do clube, independente de ele ser campeão. Independentemente (do resultado), tinha um interesse muito grande de estar com a seleção.

Quando você teve um sim? Quando ele disse que dava para ter um acordo?

Olha, há uns 20 dias. Isso quando tive uma liberação de falar com ele do próprio clube.

O Real já tinha liberado?

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Para poder falar e verificar. Depois os detalhes foram em relação ao tempo que ele poderia deixar o Real. Porque se ele avança até o Mundial de Clubes era uma situação que não dava. A CBF não ia esperar a liberação.

Você tinha o sim, mas não tinha a certeza da liberação?

Sim.

Como está acertado a questão da comissão técnica dele (Ancelotti)?

Ele tem a comissão técnica, assistente, preparador físico, não quer dizer que não possa ter outro, um analista de desempenho, um treinador para bolas paradas.

São quantas pessoas?

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São quatro, com possibilidade de trazer mais um outro. E também aproveitando a nossa estrutura.

Ele escolhe essa comissão?

Os que ele vai trazer vão somar com os que temos. Não vai sair ninguém. Ele aceita a estrutura da CBF.

E vocês podem trazer gente nova, um brasileiro que tenha trabalhado com ele? Falou-se no Kaká.

Na primeira vez que terminou não acontecendo por questões que você sabe, ele (Ancelotti) falou em alguns nomes que poderiam estar com a gente. Mas depois quando evoluiu, neste momento agora, ele não falou em nenhuma pessoa assim. Ele falou desse grupo que trabalha com ele. Se ele quiser, e for para o melhor do trabalho, a CBF não rejeitará e apoiará.

Ele pediu alguma coisa em relação ao trabalho? Que existam treinos na Granja Comary?

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Do contrato que vejo as pessoas falando e chutando, a única coisa que acertaram é que vai morar no Brasil e no Rio de Janeiro. O restante não tem um que bate. Se fosse uma prova de múltipla escolha, a pessoa ia perder todas as alternativas.

Então Ancelotti não pediu coisa específica de trabalho?

Quer morar no Brasil e quer ver jogos. Disse que tem muitos atletas que passam despercebidos, não só na Série A, que quer conhecer. Quer conhecer jogos de outras séries. Porque pode ter atletas que possam ser importantes. Ele vai fazer essas opções agora nessa lista porque é um tempo curto - e ficou definido que não haverá treinamento na Granja Comary. Mas é um dos lugares que quer de imediato conhecer. Já ouviu falar pelos atletas. E falou que quer aproveitar muito a Granja.

Então o que foi falado: desta vez, o senhor não ouviu nenhum atleta?

Não, só lá atrás. E todos só falaram bem.

E qual foi a sua percepção sobre o Ancelotti a partir dos contatos?

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A percepção que tenho é de uma pessoa acessível, mas dentro do momento dele. Às vezes é muito contido, discreto. Quando está no trabalho, não fala do outro (trabalho). Não antecipa situações que pode estar avaliando. Mas uma pessoa alegre, brincalhona. Conhece futebol e todo mundo. E é muito entusiasmado pelo futebol brasileiro. Fala de muitos atletas atuais e dos que já se passaram há muito tempo. Ele falou muito bem do Zico, muito bem do Falcão. Falou de treinadores como Parreira, que tem vontade de reencontrar o Parreira. Falou do Felipão.

Presidente, por que você decidiu anunciar na segunda-feira?

Na realidade, era para acontecer até na sexta-feira. Mas faltava o timing do clube (pelo jogo entre Barcelona x Real Madrid no último domingo, que encaminhou o título catalão no Campeonato Espanhol). Anunciar na segunda-feira não foi de forma premeditada. É que aconteceu na segunda-feira o que sempre acontece, e não por parte da CBF: a informação vazou. E tanto a CBF quanto o treinador não queriam mais ficar desmentindo, dizendo "não teve isso", "não teve aquilo". Não tinha mais como.

Então foi de comum acordo?

Não, quando surgiu o problema, a CBF falou com ele: nós vamos confirmar, não temos como negar. Já saiu. Não tinha mais como tratar de contrato porque já estava assinado.

O contrato é até a Copa de 2026 e acabou?

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Não só no final da Copa, os dias normais do mês. E também, se ambas as partes entenderem que pode renovar, será renovado.

Você conversou com ele sobre renovação e o que seria pós-Copa?

Ele é a pessoa que sobe um degrau de cada vez. A meta dele é ser campeão do mundo com a seleção. Depois são situações que ele pode rever. Se fosse para dar continuidade (certa), estaria no contrato. Tem previsão de renovação, desde que ambas as partes concordem.

Conversamos com ex-jogadores e ouvimos que o Ancelotti tem essa parte do trabalho mental. A seleção vive época turbulenta no time, que não consegue render. Contou para a contratação dele esse aspecto do trabalho mental com os jogadores?

Sim, foi um fator decisivo, tanto lá atrás quanto agora. Agora mais ainda. Ele ser uma pessoa experiente com questões de pressão. A pressão é grande para quem treina grandes clubes e conquista os maiores títulos. Mesmo sempre vencendo, tem pressão. E ele é uma pessoa que sabe lidar de uma forma muito tranquila com essas questões.

O Ancelotti vem já no dia 26 para dar a coletiva e convocar o time?

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Sim, e ele já vai fazer ali na CBF se apresentando a toda a imprensa. E ali ele vai anunciar a convocação dos 23 atletas. Certeza que ele vai estar acompanhando os atletas que a comissão técnica vem observando (Juan e Rodrigo Caetano). Desde o período de Dorival não parou o trabalho. O trabalho teve continuidade. Todas as projeções foram dadas sequência, com analista de desempenho. E eles verificaram muitos atletas nesse período. Tanto aqui quanto em jogos pela TV. Em todos os jogos. Dentro dessa lista, ele vai apresentar o trabalho, quem está com lesão. Reuniões quinta e sexta, e o treinador vai fazer a opção do que vê para esses jogos do Paraguai e Equador.

Então ele define a lista final?

Ele define.

O senhor está seguro de que essa escolha inédita vai levar a um título? Pois é o primeiro técnico estrangeiro na seleção - teve um em jogos comemorativos, mas de fato é o primeiro.

Não tenho preconceito com qualquer coisa. Não temos restrições. Assim como outras nações recebem tão bem nossos atletas, recebem tão bem nossos treinadores. É a primeira vez na Copa do Mundo. Ganhamos cinco Copas com brasileiros e perdemos com brasileiros. Entendemos que era o melhor nome independentemente de nacionalidade. E é uma pessoa que não vai ter conflito com atletas, dificuldade de se expressar porque entendem seu idioma perfeitamente. A maioria dos atletas também fala outras línguas. Não vai ser uma questão. E a confiança dos atletas nele faz uma diferença grande.

O senhor vive um momento turbulento na CBF. E, no seu afastamento da outra vez, acabou não conseguindo concluir o acordo com Ancelotti. Foi um alívio fechar o contrato?

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Sou resiliente. Quando há situação desse tipo, em que há inverdades, eu trabalho, eu continuo trabalhando. Dedico meu tempo ao trabalho. Quando trabalha, não fica procurando uma comoção de me sentir coitadinho. Sei como lidar com isso. Quanto às questões jurídicas, a CBF tem advogados de qualidade e eles trabalham para que situações injustas não possam acontecer.

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