Alexander Bublik: um apaixonante e imprevisível 'cara normal'

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Tênis é um esporte que exige trabalho duro, dedicação intensa e 100% de foco, certo? Quem dá seu máximo sempre tem seus melhores resultados, não? Nem sempre. Eis a história de Alexander Bublik, o imprevisível e apaixonante cazaque nascido na Rússia que acaba de se classificar para as quartas de Roland Garros com uma atuação brilhante sobre Jack Draper - sim, aquele que deu uma aula de tênis contra João Fonseca. Um apaixonante atleta de elite que se considera, acima de tudo, um "cara normal".
No primeiro semestre do ano passado, Bublik era 17 do mundo. Era seu melhor momento como tenista profissional, e o cazaque entendia que para subir ainda mais no ranking precisaria se dedicar mais. Treinou com mais afinco, adotou uma dieta mais rígida e deixou de frequentar festas. O resultado? Em março deste ano, não figurava sequer entre os 80 melhores do mundo.
"Eu olhei para os pontos e pensei 'seu eu fizer isto, isto e aquilo, o que sou capaz de fazer, vai acontecer'. Não rolou, e então cheguei ao ponto de de me perguntar 'okay, por que estou me sacrificando tanto? Pelo quê?'".
Bublik teve o equivalente tenístico de um burnout. Então, depois de uma derrota na primeira rodada em Indian Wells, pegou o carro com seu técnico e foi passar uns dias em Las Vegas. "Foi uma coisa tipo "Se Beber, Não Case" (o filme). Foram três bons dias em Vegas."
Alexander the entertainer 🙌
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Bublik defeating Draper to make his first Grand Slam quarter-final headlines the highlights of the day by @emirates. #Emirates #FlyBetter pic.twitter.com/vXzNfaHmxO
Uma semana depois, o cazaque foi finalista do Challenger de Phoenix, onde chegou três horas antes de sua estreia. "Eu tinha que deixar tudo em quadra. Eu disse 'Okay, sou um inútil no momento, não consigo ganhar um jogo, então que seja, vamos ver o que acontece." E Alexander só foi derrotado por João Fonseca. Mesmo assim, em dois tie-breaks.
A lógica dos livros de autoajuda, dos 110% de dedicação, de seriedade máxima, de querer sempre mais e blablabla, não funcionou para o "normal" Bublik.
"Sou amigo da maioria dos caras no top 10. Eles fazem eu me sentir diferente. Não é normal. Se você quer dormir, você dorme. Somos atletas de elite. Alguém ganhou 100 milhões, 25 títulos e ainda quer mais. Para mim, isso não é normal, mas hoje em dia o esporte faz eu me sentir assim, que sou diferente. Não acredito nisso porque sou um cara normal que estava apenas jogando tênis e deu certo. Mas tenho que entrar na conversa e falar sobre as consequências de talvez não me dedicar tanto, não me sacrificar tanto. Não sei. Quero isso? Não tenho certeza, mas acho que sou bastante normal. Mas eles fazem eu me sentir assim, para dizer a verdade. Já é uma parte de mim. Aceito isso e tento trilhar meu caminho no meio de atletas incríveis, caras que desempenham no topo e tento ganhar a vida assim", disse Bublik na coletiva de sábado, quando se classificou para as oitavas em Roland Garros.
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O fato é que a viagem a Las Vegas ajudou Bublik a "desencanar". No saibro, fez oitavas de final em Madri e foi campeão do Challenger de Turim três semanas atrás. Agora, pela primeira vez, alcançou as quartas de final de um slam. Antes da vitória de hoje sobre Jack Draper, disse: "O que tenho de fazer para batê-lo? Não sei. Só vou entrar lá, curtir o momento, mostrar o que sou capaz de fazer, e todos sabemos o que sou capaz de fazer. Então vamos ver como será."
É também inegável que o desapego (em comparação com seus colegas de profissão, evidentemente) ajuda Bublik a colocar em prática seu jeito preferido de jogar, usando curtinhas e improvisando. Hoje, deu mais um show. Foram 68 winners (com 39 erros não forçados), que vieram em aces (8), forehands (14), backhand (6) e curtinhas - muitas curtinhas. Bublik disparou 37 drops shots, somando 12 winners e forçando erros do rival. Não deixou o britânico alongar os ralis nem ficar à vontade. Encantou a torcida. Infernizou Draper. Ao fim, jogou-se no saibro e protagonizou a melhor imagem de Roland Garros até agora, celebrando com pó de tijolo até no rosto.
E sua coletiva depois do jogo trouxe outra aula:
"O importante é encontrar seu equilíbrio. Se você está pronto para colocar seu corpo em risco para ganhar um slam, por exemplo, faça isso. É a sua saúde. Há escolhas que você faz todos os dias, e essas escolhas te levam a algo. Cada pessoa tem que decidir. Cada atleta precisa decidir se os sacrifícios que ele está fazendo para ter uma chance mínima de - se estamos falando sobre a geração mais jovem - estar conosco. Vale a pena? Então faça. Mas não reclame se não valer a pena porque há muitas coisas além de trabalho duro para ser um top 50, um top 100. Então essa é a abordagem. Para cada um, é diferente."
"Não há como fugir do trabalho duro. Não me entendam mal. Eu trabalho duro, mas nos meus termos. Faço o que consigo com meu corpo, mas não vou forçar com uma lesão no joelho para ter uma certa chance de ganhar uma partida. Venho trabalhando duro e trabalho duro. Mas eu priorizo a saúde e meu estilo de vida também porque tenho uma família e sou pai, tenho deveres de pai. Isso requer um equilíbrio 50/50."
"Vou colocar minha vida e minha saúde em risco para ter um 'talvez'? Não. Mas vou continuar no meu caminho porque eu ainda treino, gente. Não se preocupem, não estou batendo bola 30 minutos por dia. Faço o mínimo e o máximo ao mesmo tempo para ser o jogador que sou, para estar nesta posição, e vou continuar assim porque priorizo o tênis e a vida de maneiras iguais."
"Então para mim é uma questão de encontrar o equilíbrio. É fazer exatamente o que preciso para poder competir contra os caras do topo, que é o que venho fazendo há seis, sete anos. Mas vou arriscar a minha saúde? Não."
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